Corte profundo

Gaúchos vão reduzir
70 mil hectares de área
na temporada 2018/19.

 A lavoura de arroz do Rio Grande do Sul reduzirá 6,54%, ou 71 mil hectares, na safra 2018/19 se confirmada a intenção de plantio identificada pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em setembro. A área deve alcançar 1,007 milhão/ha. Na temporada 2017/18 chegou a 1,078 milhão. A queda já é indicada pela Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), que incentiva a substituição de 10% das áreas arrozeiras de menor resultado por soja.

“Defendemos a conversão parcial como estratégia de retomar a rentabilidade do arroz dentro da realidade de cada um, somadas aos benefícios da rotação para o solo e o mercado”, diz Henrique Dornelles, presidente da Federarroz. Para ele, inacessibilidade ao crédito e o clima ainda podem reduzir mais o plantio.

Não faltam motivos para os agricultores reduzirem a lavoura arrozeira, como o custo de produção elevado por alta de até 30% de fertilizantes, defensivos, transportes, energia e combustíveis. Além disso, boa parte dos agricultores não está obtendo renda suficiente e sofre com a falta de liquidez do grão. Há dificuldades em acessar crédito oficial, aumento das exigências do financiamento pelas empresas, alto valor do arrendamento, tabela de frete, tributos e burocracia para exportar, diversos fatores que acabam desestimulando o cultivo.

SOJA – Um alento vem da soja, com muita liquidez pela disputa comercial entre EUA e China. “Com garantia de que a China comprará a soja brasileira em 2019, há um horizonte remunerador e mais atraente que o arroz a quem tem a opção”, diz Cleiton Evandro dos Santos, analista da AgroDados/Planeta Arroz.

Ele entende que quatro foram as alternativas de quem não plantará arroz neste ciclo. “Cerca de 30 mil hectares serão cultivados com soja em terras baixas, numa expansão natural por quem domina a técnica. A oleaginosa vai superar 300 mil hectares em terras de arroz, um avanço de pelo menos 3%, e representará um terço da área orizícola. De 15 a 20 mil hectares já em rotação soja e arroz, serão integrados pecuária, recebendo pastagens de verão”, aponta.

Parte das terras ociosas será destinada a pousio e manejo de invasoras. Alguns rizicultores adotaram três cortes – arroz, soja e pousio – por temporada. “A superfície ociosa diz respeito a arrendamentos não renovados, o que é quase inédito, seja pelo grau de infestação de plantas invasoras resistentes, risco de enchentes ou distância da água que gere alto custo com energia para irrigar”.

Cleiton Evandro dos Santos cita exemplo de um produtor que devolveu 800 hectares de arroz arrendados para manter o foco em apenas 450 que são próprios e faz rotação com soja. “Ele abandonou a área de arroz que não dava lucro e foca na lavoura própria e lhe sobra mais tempo para cuidar de 1,2 mil hectares que também arrenda para produzir soja em coxilha em rotação com a pecuária. É nestas áreas que está sua rentabilidade, portanto é uma decisão estratégica”. Vale lembrar que o arrendatário arranca com um custo de 15% a 22% superior aos proprietários.

No detalhe
Na temporada 2017/18, o RS cultivou 1.078 milhão de hectares, mas por perdas colheu 1,066 milhão. A produtividade média foi recorde, em 7.949 quilos/ha e produção de 8,474 milhões/t. A título de projeção, considerando a média das últimas três safras, de 7.615 quilos por hectare, a colheita gaúcha poderá gerar 7,670 milhões/t em 2018/19, ou menos 12,3%. As regiões mais afetadas no estudo preliminar são a Campanha, com -11,51%, a Planície Costeira Externa, com -11,76, e a Zona Sul, com -11,05%. Na sequência estão a Fronteira Oeste com 6%, a Depressão Central com 4% e, com 3,89%, a Planície Costeira Interna. Até 1º de novembro, 71% da área estimada estava semeada, contra 42% na temporada 2017/18 e 60% na temporada 2016/17. O medo, agora, está concentrado nos dados do El Niño, previsto para a entrada de 2019.

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