Custo descoberto
Neste início de 2019, uma série de reportagens publicadas no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, pela jornalista Joana Colussi, e também nos periódicos La Nación e El Observador, no Uruguai, retratou a realidade de arrozeiros brasileiros e uruguaios que plantam no Paraguai. Isso ajudou a tornar públicos os custos de produção em terras guaranis. Até agora, lideranças da lavoura paraguaia – entre eles alguns brasileiros – alegam ser o custo “mais ou menos padronizado em 2 mil dólares por hectare” no Mercosul.
Mas planilhas e depoimentos de consultores agronômicos, comerciais, industriais e econômicos desses países que têm atuado no Paraguai ratificaram as informações da imprensa, dando ainda mais munição nesta guerra aos defensores da revisão dos parâmetros do tratado de livre comércio. “Se o custo fosse o mesmo, o arroz paraguaio não entraria no Brasil abaixo de 12 dólares, e a gente vê entrando a 7, 8, 9 dólares”, resume o economista Antônio da Luz, da Farsul, que colabora com a Federarroz num estudo sobre o assunto.
A Federarroz pede ao governo federal que aja em frentes diferentes para equilibrar os custos de produção e os valores de comercialização de forma a anular as vantagens, que consideram indevidas, do grão paraguaio no mercado brasileiro. A primeira delas é a liberação e simplificação pelo governo brasileiro dos processos de importação de insumos para a lavoura, o que pode reduzir custos internamente.
Paralelamente, pede que o governo do Brasil estabeleça: a) um tributo ao arroz importado no nível da carga tributária do produto brasileiro e/ou compensações para o grão nacional e/ou estabelecimento de cotas de importação e fluxo de entrada; b) equalize a tributação entre os estados, em especial do ICMS; c) organize o fluxo de entradas para evitar oferta na época de colheita do Brasil, o que baixa ainda mais os preços internos; d) fiscalize a qualidade, o padrão e resíduos de produtos químicos ou contaminações no grão importado.
IMPACTO
Elcio Amarildo Bento, analista da Safras & Mercado, considera que mesmo que as importações brasileiras correspondam a menos de 10% do volume total comercializado no país, elas causam impacto negativo nos preços internos. “Quando entra diretamente nos estados que são os maiores consumidores a preços baixos, esse produto contamina todo o mercado, que passa a tê-lo como um balizador, como referência para o arroz do Sul do Brasil. Com os custos muito altos e preços defasados, o agricultor brasileiro tem razão em buscar medidas que equilibrem o mercado”, explica.