De cadeira
Em 2010 o governo só olhou de fora o mercado do arroz.
Para o analista de arroz de Safras & Mercado, Élcio Bento, o pedido de contrato de opções, quanto mais avança o ano, parece menos provável. É um mecanismo que tem se mostrado bastante eficiente para balizar preços, porém, tem o mesmo efeito colateral de formar estoques públicos. Além disso, com a pressão externa sobre as cotações, o governo federal correria o risco de ter que bancar os recursos para um grande volume de contratos a serem exercidos. “Entre as intervenções, me parece que os leilões de PEP e Pepro para exportação são aquelas que atenderiam de forma mais próxima os anseios da cadeia produtiva, pois possibilitariam a retirada de cereal do mercado”, considera Bento.
Mais uma vez, o reflexo não seria diretamente sobre os preços, pois nestes dois mecanismos o produtor recebe o preço mínimo de referência. O efeito seria sentido pelo enxugamento da oferta. Neste caso haveria necessidade de ir com mais força ao mercado internacional e assim poderia haver reflexos internamente. “De qualquer forma, não estaria imune a uma retração mais acentuada das cotações internacionais”, alerta.
TEC
Élcio Bento acredita que a maneira mais imediata de imunizar o mercado nacional dos reflexos externos, em especial neste ano de escassez de oferta no Mercosul, seria a elevação da Tarifa Externa Comum (TEC), hoje em 12%, para 30%, como solicita a cadeia produtiva.
EXEMPLO
Um exemplo numérico facilita a compreensão dos efeitos de uma eventual elevação da TEC: na última semana de julho o arroz beneficiado dos EUA, com 4% a 5% de quebrados, cotado a US$ 445.00 por tonelada no FOB, chegaria à capital paulista por volta de R$ 40,08 por fardo de 30 quilos (câmbio a R$ 1,76/US$), considerando-se a TEC de 12%. A média no mercado nacional era de R$ 40,30 por fardo. Mantida esta situação, o arroz beneficiado norte-americano estaria se tornando atrativo no Brasil. Com o mesmo preço FOB, o mesmo câmbio e elevando-se a TEC para 30%, o fardo chegaria ao Brasil por R$ 45,56. Diante disso, a defesa das cotações internas via elevação da TEC poderia oxigenar o mercado brasileiro, garantindo preços competitivos – os quais, por sua vez, garantiriam o aumento da produção na próxima temporada. Estimular a oferta nacional é a melhor forma de reduzir a dependência das compras externas e de dinamizar o setor orizícola.
Olho no dólar
Em termos de preços, o mercado nos próximos meses dependerá muito dos números consolidados da safra mundial 2010/11, cujo ciclo comercial inicia em agosto de 2010 e vai até julho de 2011, segundo Élcio Bento, analista de arroz da Safras & Mercado. Além disso, ele alerta para a situação cambial: “Os números divulgados pelo BC na quarta semana de julho chamam a atenção. Pela primeira vez no ano a entrada de recursos externos não foi suficiente para cobrir o déficit em transações correntes, no pior resultado para o mês desde o início da série histórica de 1947. O déficit em transações correntes também foi recorde nos seis primeiros meses de 2010 (US$ 23,8 bi) e nos últimos 12 meses (US$ 40,9 bi). Estes são indícios de que o real poderá depreciar em relação à moeda norte-americana, caso este movimento de saída de divisas persista. E isso mexe no câmbio e no mercado de arroz”.