De olho na cárie do arroz

 De olho na cárie do arroz

Doença fúngica deixou de ser ameaça secundária e…tornou-se uma ameaça…séria ao arroz gaúcho

Doença fúngica cresce e preocupa produção gaúcha.

Nas duas últimas safras, a lavoura gaúcha descobriu o potencial de destruição de uma doença fúngica até então considerada sem expressão: a cárie do grão do arroz (Tilletia barclayana). A área de ocorrência cresceu significativamente, gerando uma corrida dos arrozeiros para aplicação de fungicidas. O pesquisador Gustavo Funck, do Irga, explica que a cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul pode ser atacada por vários fitopatógenos, prejudicando a produtividade e a qualidade dos grãos colhidos. 

A principal doença é a brusone (Pyricularia grisea), seguida da mancha parda (Drechslera oryzae), da escaldadura da folha (Gerlachia oryzae), da mancha e da queima das bainhas (Rhizoctonia oryzae e Rhizoctonia solani, respectivamente). Porém, nas últimas safras, tem se verificado uma alta incidência de cárie do grão em praticamente todas as regiões orizícolas do estado. “Até o momento, esta doença era considerada secundária, sem importância econômica”, destaca o pesquisador. 

A cárie do grão é uma doença causada pelo fungo Tilletia barclayana e manifesta-se logo após o florescimento, sendo os sintomas caracterizados pelo aparecimento de uma massa preta de esporos, chamados de teliosporos, sobre os grãos. No início, os grãos ficam quebradiços com alguns pontos escuros, como se fosse um dente cariado, daí a origem do nome comum desta doença. 

O fungo pode desenvolver-se sobre o arroz e diversas gramíneas, principalmente dos gêneros Brachiaria, Digitaria, Echinochloa e Pennisetum. A infecção inicia quando os esporos, trazidos pelo vento, se alojam no estigma da flor, no momento da floração (liberação da antera) onde germinam. 

Suas estruturas penetram até a região do ovário, passando a digerir o endosperma do grão, não invadindo o embrião. Com o seu desenvolvimento, o fungo acaba substituindo parcial ou totalmente o grão em formação, tornando-se visível externamente ao romper a casca. Esta doença é favorecida sob condições climáticas de alta luminosidade, baixa precipitação pluvial e temperaturas variando de 25 a 30 ºC na floração. 

No arroz, o fungo penetra nas espiguetas, no momento da floração, formando uma massa de esporos no interior dos grãos atacados. 

Fique de olho
Uma das características da cárie do arroz, ao contrário dos outros cereais, é a particularidade de não ser sistêmica, ou seja, não é transmitida para a planta através da semente. Por este motivo, o tratamento de sementes para esta finalidade não é recomendado. Os danos causados por esta doença estão relacionados à qualidade dos grãos e das sementes e ao processo de industrialização.

 

Avião é arma contra a cárie

A pulverização é uma ótima arma contra a cárie do arroz, principalmente se for feita por avião, não provocando o amassamento de plantas. Para que o procedimento tenha os resultados esperados, entretanto, é necessário que sejam tomados alguns cuidados na aplicação do fungicida. O momento ideal recomendado para o controle da doença é no final do emborracha-mento, antes do início da floração. 

O engenheiro agrônomo Eugênio Passos Schröder destaca que toda a planta deve ser atingida pela pulverização, mas é imprescindível que as folhas superiores (folha bandeira) e as estruturas que recobrem as panículas que entrarão em floração recebam uma cobertura de gotas muito uniforme. As partes mais baixas também devem ser contempladas, visando o controle de outras doenças foliares. 

A temperatura, na aplicação, deve ser inferior a 30ºC, umidade relativa superior a 55% e ventos com velocidade entre três e 10 quilômetros/hora. Gotas pequenas e numerosas são ideais para as pulverizações de fungicidas, devido ao maior recobrimento das diversas partes das plantas e maior penetração no dossel foliar. 

Densidades entre 50 e 70 gotas/cm², no topo da cultura, são suficientes para os fungicidas sistêmicos. É desejável que pelo menos um terço delas atinja a parte inferior das plantas. “Volumes de calda entre 10 e 30 litros/hectare mostram excelente controle da cárie do grão”, diz Schröder. Os menores volumes têm um menor custo para o produtor, motivo pelo qual devem ser preferidos.

ÓLEO –
A tecnologia denominada de baixo volume oleoso (BVO) tem sido adotada com sucesso para controle de doenças em arroz. Agrega atomizadores rotativos e adição de óleo na calda dos fungicidas. As gotas geradas, destaca o engenheiro agrônomo, são muito pequenas, mas não sofrem tanta evaporação como aquelas apenas com água, tendo “vida mais longa”, ideais para situações de menor umidade relativa do ar.

 

Uso de fungicida preocupa

O último Censo da Lavoura de Arroz Irrigado do Rio Grande do Sul, realizado pelo Irga, safra 2004/2005, revelou que 15,8% das lavouras do estado utilizaram fungicidas para o controle de doenças, representando uma área total de 164 mil hectares. O uso de fungicidas é um método complementar e eficiente no controle das doenças, principalmente nas lavouras com histórico de danos freqüentes e sob condições climáticas muito favoráveis à sua ocorrência. 

Gustavo Funck, pesquisador do Irga, destaca que os principais fungicidas recomendados para o tratamento da parte aérea da cultura pertencem ao grupo químico das estrobilurinas e dos triazóis, apresentando modo de ação sistêmico e de contato. 

Funck explica que a aplicação de fungicidas é recomendável principalmente, para aquelas lavouras com melhor nível de tecnologia e que possam usar aplicação aérea. Em lavouras pequenas, ou de pouca tecnologia, o controle poderá ser realizado apenas preventivamente. 

Na safra 2006/2007, segundo as empresas de insumos, o volume de fungicidas usados na lavoura gaúcha triplicou, pulando de cerca de 100 mil hectares para mais de 350 mil. No momento em que a orizicultura do RS está obtendo importantes avanços na questão ambiental, esta é uma tendência que preocupa.

Questão básica
A aplicação de fungicidas, durante os estádios de emborrachamento e floração, mantém a produtividade e melhora o rendimento de grãos inteiros. No Brasil não existem produtos registrados para o controle de T. barclayana na cultura do arroz, embora pesquisas indiquem princípios ativos eficientes. Os produtores podem se prevenir da doença com um bom manejo na lavoura, evitando excesso de adubação nitrogenada e preservando semeadura na época recomendada, e alternância de cultivares. 

 

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