De olho no futuro

 De olho no futuro

Barata: limites para o mercado

Após um primeiro semestre
de preços baixos, os arrozeiros esperam
dias melhores.

Dias melhores virão – mas não sem sustos. É o que esperam os analistas consultados por Planeta Arroz para o próximo semestre. Uma certeza existe: enquanto o governo federal tiver caixa para bancar a alta artificial dos preços, as cotações continuarão subindo até acima dos patamares dos preços mínimos, de R$ 25,80 no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.  Outra certeza é de que sem AGFs, Pepro, PEP e outras medidas de apoio ao escoamento do arroz do sul do Brasil, bem como as prorrogações de vencimentos do custeio e de financiamentos de comercialização, os preços ainda estariam nos patamares de R$ 18,00 a R$ 19,00.

Em julho os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul subiram 12,8%, com o indicador Cepea – Bolsa Brasileira de Mercadorias indicando preço médio de R$ 22,89 para a saca de 50 quilos, no dia 31. Este indicador é importante porque o Rio Grande do Sul, que produz 64,3% do arroz brasileiro, é a referência de preços no mercado do país e, por consequência, do Mercosul.

A trajetória de alta só começou com a ação governamental e graças ao fato de nenhuma outra commodity estar vivendo uma crise no Brasil, caso exclusivo do arroz em 2010/11. Ou seja, o governo brasileiro carreou quase todos os recursos do orçamento de apoio à comercialização de grãos para o arroz. Para o analista Eduardo Aquiles, da Safras & Mercado, os fatores que agravaram a queda dos preços no semestre final de 2010 e no primeiro semestre de 2011 foram o excesso de oferta no Brasil e no Mercosul e o real valorizado, que aumentou as importações e o volume de arroz no mercado interno, restringindo as vendas externas e derrubando os preços.

Tiago Sarmento Barata, diretor da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, vê essa desvalorização como uma correção natural dos preços diante das condições competitivas impostas ao arroz gaúcho. “Chegamos a ter arroz a 18,50 dólares a saca no início de 2010, um valor muito bom ao produtor, que cobria o custo de produção, mas que tirava completamente o Rio Grande do Sul do mercado mundial. Uma prova de que esse comportamento se tratava de uma correção natural dos preços é que nem mesmo a quebra da safra (2009/2010) foi  suficiente para evitar a desvalorização. Além disso, acabamos de colher uma safra cheia, a maior da história, que pressionou ainda mais os preços para baixo”, avalia.

Tiago Sarmento Barata considera que estamos diante de uma recuperação artificial e nominal dos preços, motivada pela intervenção do governo, que vem dando fôlego para que o produtor retraia a oferta do produto no mercado doméstico. Paralelo a isso, estamos com um mercado internacional bastante aquecido, que vem garantindo liquidez do produto elaborado.

Eduardo Aquiles também considera que o fator preponderante para a reação dos preços na metade de 2011 foi o escoamento do excesso de oferta proporcionado, principalmente, pelo mecanismo de Prêmio para o Escoamento de Produto (PEP), usado pelo governo para destinar o cereal para regiões do país desprovidas de oferta (Região Norte) e a países que não fazem parte do Mercosul ou o Suriname. “Mesmo com o real valorizado, a média exportada de arroz em 2011 está acima das exportações do ano passado”, explica.

FIQUE DE OLHO

O presidente da Federarroz, Renato Rocha, acredita em cotações alcançando o patamar dos preços mínimos de garantia entre o final de agosto e setembro, se mantida a política atual do governo. “Estamos esperando mais medidas, agora visando àqueles produtores que têm dívidas históricas, e também que o governo federal adote ações estruturantes para a cadeia produtiva, o que está sendo trabalhado por um grupo especialmente convocado pela Câmara Setorial do Arroz”, diz o dirigente. Ele acredita que a prioridade agora é a comercialização adequada pelos produtores que ainda têm arroz nos silos e um bom dimensionamento da lavoura futura para enxugar ao máximo os custos. “A maior parte dos produtores, principalmente aqueles que já não têm mais acesso ao crédito oficial, já vendeu seu arroz e a R$ 18,00, R$ 19,00 a saca e ainda não sabe como vai plantar”, argumenta.

Os riscos da alta de preços

A alta dos preços internos brasileiros do arroz por conta dos mecanismos de comercialização do governo federal traz alívio aos produtores que ainda têm produto na mão para comercializar. Por outro lado, um possível descolamento com as tendências de preços internacionais cria tensão no mercado, uma vez que a medida pode criar uma “bolha” que só se sustentaria à medida que o governo brasileiro tiver fôlego para bancar a compra de produto ou uma forte intervenção de apoio à comercialização. Tiago Sarmento Barata, diretor da Agrotendências Consultoria, considera que a recuperação dos preços tira a competitividade do arroz gaúcho no abastecimento doméstico e torna o Brasil um mercado ainda mais atraente aos países do Mercosul.

“A partir do momento em que as indústrias não conseguirem repassar esta alta do custo da matéria-prima nas negociações do fardo, buscarão alternativas de oferta, limitando ainda mais o potencial mercado do arroz gaúcho”, argumenta Barata.

“Além disso, a retração das vendas, principal motivador desta alta, tem como consequência uma concentração da oferta logo ali na frente, promovendo uma forte desvalorização. É para esta situação que precisamos ficar alertas”, revela.

Eduardo Aquiles, da Safras& Mercado, acredita que não há formação de bolha nos preços do arroz pelo fato de não haver uma supervalorização do cereal. “Por enquanto, não há um grande descolamento frente aos preços internacionais. Bem pelo contrário, o que aconteceu foi um acompanhamento aos preços mundiais de arroz”, explica. Ele concorda que um descolamento em relação aos preços externos pode trazer o aumento da pressão do arroz originário principalmente do Mercosul, aumentando a importação e freando a escalada dos preços internos.

Além disso, lembra que, por sua vez, o dólar também poderia afetar os preços internos, já que numa possível desvalorização da moeda americana a importação seria favorecida. “Este também é um fator de redução dos preços internos e desfavorável às exportações”, cita.

Ambos os analistas acreditam numa redução da área semeada no Brasil para a próxima safra, mas não em níveis que comprometam o abastecimento interno, seja pelos estoques altos, seja pelo abastecimento com os excedentes do Mercosul.

“Hoje, o suprimento do Mercado Comum do Sul precisa ser contabilizado no mercado brasileiro. Não há mais como dissociar, já que o mercado é o mesmo e para as indústrias argentinas, uruguais e paraguais é até mais barato colocar arroz no Brasil do que para as empresas gaúchas”, frisa o presidente da comissão do arroz da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Francisco Schardong.

Segundo ele, medidas estruturais serão decisivas para reduzir as disparidades entre os custos de produção entre o Brasil e os países vizinhos, que atualmente disputam um mesmo mercado brasileiro. “A ajuda emergencial do governo é importante, mas tem prazo de validade”, alerta.

QUESTÃO BÁSICA

De uma maneira geral, é corrente que o produtor deve encontrar, de acordo com seus custos e disponibilidade de produto, estabelecer seus contratos antes de uma concentração da oferta e o início de uma curva de retração dos valores pagos pelo arroz. Afinal, já existe o bordão que arrozeiro só vende na baixa e, na alta dos preços, guarda esperando subir mais. Os mecanismos do governo federal também são importantes, principalmente aqueles dirigidos aos pequenos produtores, mas os volumes são limitados e grandes as exigências. De um contingente de 15 mil produtores, estima-se que menos de 20% têm acesso.

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