De virada

 De virada

Embarques: superarão a expectativa

De que forma o Brasil
fechou a temporada
como exportador líquido

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Foi de virada, no último mês, que o Brasil conseguiu concretizar um saldo positivo líquido na balança comercial do arroz na temporada 2017/18. Esse desempenho ajudou a neutralizar uma queda maior nos preços domésticos e dá esperança de recuperação ao longo do ano na medida em que os estoques são enxugados. No período comercial de 1º de março de 2017 a 28 de fevereiro de 2018 houve um superávit de 22 mil toneladas, em base casca, na balança comercial. Isso equivale a um único navio. Mas foi o suficiente para merecer comemoração.

O resultado contrariou as expectativas nutridas até pelo menos outubro, quando se previa déficit na balança comercial. “O primeiro semestre foi de preços competitivos do Mercosul e pouco favoráveis às exportações brasileiras. Em compensação, este quadro inverteu no segundo semestre com queda nas cotações domésticas, muito em função das importações diretas ao centro consumidor de São Paulo, a expectativa de safra cheia, o comportamento do câmbio, a elevação dos preços internacionais por uma forte demanda na Ásia, a quebra de 20% na safra dos Estados Unidos e a depreciação da moeda em alguns países”, explica Cleiton Evandro dos Santos, analista da AgroDados/Planeta Arroz.

Foi por isso que até agosto de 2017 o Brasil acumulou déficit de quase 300 mil toneladas. “Chegou-se a projetar um déficit líquido de 500 mil toneladas na temporada se fosse mantido aquele cenário, mas quando houve oportunidade o Brasil voltou para o jogo disposto a virá-lo”, frisa.

Tiago Sarmento Barata, diretor-comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), explica que os preços competitivos brasileiros obrigaram os países vizinhos a buscar outros mercados que remunerassem melhor o produto ainda disponível. “O registro da menor importação do ano, em 38,3 mil toneladas, foi tão importante quanto a venda de 163,5 mil toneladas em fevereiro”, informa o dirigente.

BALANÇO
No resultado do ano, o Brasil se manteve como grande exportador de quebrados de arroz para a África, alcançando mais de 450 mil toneladas. E se mais tivesse, mais exportaria. As cotações de quebrados se mantiveram alheias ao sobe e desce dos preços nacionais. A competitividade do arroz em casca e do beneficiado – parboilizado e branco – ajudou. Senegal (197 mil toneladas), Venezuela (140 mil), Peru (125 mil), Gâmbia (121 mil), Serra Leoa (105 mil) e Nicarágua (104 mil) foram grandes compradores do Brasil em 2017/18.

Em compensação, o país absorveu mais de 70% da produção paraguaia. Nosso principal fornecedor colocou 615 mil toneladas no Brasil, seguido do Uruguai (252,2 mil) e da Argentina (130 mil). Guiana e Suriname, com vendas concentradas ao abastecimento de cidades no norte brasileiro, alcançaram 20 mil e 15 mil toneladas respectivamente. A Itália é o principal fornecedor de arrozes especiais para o consumidor brasileiro e bateu em 7,3 mil toneladas.

 

FIQUE DE OLHO
Além de fatores pontuais, como preço e câmbio, o Brasil fortalece suas posições no exterior graças ao programa Brazilian Rice, da Associação Brasileira das Indústrias de Arroz (Abiarroz) e Apex-Brasil. Gustavo Ludwig, coordenador do projeto, cita, por exemplo, o avanço do arroz nacional no Peru graças à promoção das exportações. “Lá, nas primeiras viagens, nos perguntavam por variedades uruguaias. Hoje os compradores dominam as informações sobre nossas cultivares, e as buscam”, explica. Os peruanos se tornaram consumidores importantes de arroz branco das variedades nobres gaúchas com alto percentual de grãos inteiros (64% acima), que são exportadas em contêineres. O Brazilian Rice pretende, agora, retomar vendas para a Nigéria e alcançar o México e a China. É uma questão de tempo e de oportunidade.

Grandes passos para o futuro
Se depender da arrancada do ano comercial 2018/19, o Brasil vai manter-se na liderança das exportações no Mercosul. Mesmo que os baixos preços domésticos ajudem em muito, o país alcançou em março 193,5 mil toneladas embarcadas, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Secex/MDIC). Este volume não era alcançado há seis anos. As importações também aumentaram. Foram 38,3 mil toneladas em fevereiro e 69 mil em março. Ainda assim o saldo positivo foi de 124,5 mil toneladas, em base casca.

A exportação de arroz beneficiado representou quase 51% das vendas, ou 98 mil toneladas, o que gera valor agregado e reduz a ociosidade das indústrias. Os quebrados de arroz ficaram pouco abaixo de 20% dos embarques e o grão em casca superou os 30%. Venezuela, com 74 mil toneladas (base casca), Cuba (44 mil) e Porto Rico (15 mil) foram os grandes compradores de março.

A expectativa é de que o Brasil mantenha um bom desempenho de vendas externas no primeiro semestre do ano em função dos preços competitivos no mercado interno, que também deve segurar um pouco o ingresso de produto do Mercosul, em especial da Argentina e do Uruguai. Preocupa a falta de espaço nos terminais de grãos do Porto de Rio Grande para as operações de arroz beneficiado por causa da disputa com a soja.

Das 69 mil toneladas adquiridas pelo Brasil em março, 90% tiveram origem no Paraguai, 8% no Uruguai, 1% na Argentina e 1% em mercados de grãos especiais. São Paulo e Minas Gerais seguem sendo os principais importadores graças a uma política tributária que favorece os comerciantes estrangeiros. Parte das indústrias e da produção paraguaia pertence a investidores brasileiros.

 

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