Descascar arroz não é indústria
Análise da MBA repassa processo ao produtor
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Desde o ano 2000 o setor industrial arrozeiro desenvolve a tese de que descascar o arroz não é um processo de industrialização, mas sim ainda uma etapa da produção, com responsabilidade ainda para o produtor. "Industrializar o arroz", defende José Nei Telesca Barbosa, "é fazer biscoito, bolacha, chips, isto é, transformar o produto. Vender arroz em casca é a mesma coisa que vender milho em espiga", compara.
Segundo a MBA, a industrialização também precisa evoluir. Come-se pão até de batata, mas de arroz ainda não. Com a fabricação de outros produtos à base de arroz, o produto chegaria à mesa do consumidor não só na hora do almoço como hoje chega, nas formas de arroz branco, arroz com galinha ou arroz-de-carreteiro. "O arroz teria o seu consumo ampliado como pão, biscoitos e cereais matinais na hora do café e através dos waffers e chips nos lanches e sobremesas", lista Barbosa.
No segmento leiteiro, a pasteurização do leite já não é mais considerada indústria, mas só mais uma etapa da produção. Pasteurizar o leite e colocá-lo dentro do saquinho só foi indústria quando, no início, o equipamento de pasteurização ainda era pesado e difícil de ser comprado. "Industrialização é fazer queijos, iogurtes, requeijão", reforça.
Questão básica
Como deve se comportar o produtor?
Segundo João Barbosa, da MBA Agronegócios, cada produtor não precisa ter o processo do beneficiamento só para si, mas, dependendo do seu porte, ele pode ou adquirir os equipamentos em grupos, como nas associações e cooperativas, ou via pagamento da prestação de serviços para terceiros.
Justiça tem mesmo entendimento
No final de 2000, um acórdão do Superior Tribunal de Justiça definiu uma questão entre Receita Federal e produtores em que o fisco entendia que deveria considerar pessoa jurídica o produtor que beneficiasse arroz. No acórdão prevaleceu o seguinte entendimento: "A operação, feita pelo próprio produtor, de descasque do arroz e separação dos subprodutos, tais como farelo, canjica e canjicão, não representa processo industrial. Com isso, o produtor (pessoa física) não se transforma em pessoa jurídica (empresa individual)".
Vantagens da ampliação
O produtor descasca seu arroz
1. O produtor deixa de pagar um corretor para vender o arroz para o engenho
2. O produtor deixa de pagar o engenho
3. O produtor deixa de pagar um segundo corretor para vender o produto ao supermercado
4. O ganho seria de 30% a mais do que fatura hoje
5. O arroz chegará ao consumidor com pelo menos 10% mais barato
6. Na operação de venda ao consumidor, o produtor pode ter ainda mais 10% de ganho
Fonte: MBA Agronegócios
Análise
Até há pouco o tema beneficiamento da produção não era estudado pelos técnicos e produtores. "Era considerado uma caixa-preta", diz Barbosa. "Todos sabem na ponta da língua o custo de produção para implantar a lavoura. Quantos sacos de adubo, de semente e de herbicida, quantas horas/máquina para lavrar, discar e colher. Ninguém estuda, porém, o quanto custa para beneficiar o produto, pagar os tributos e fazê-lo chegar ao mercado consumidor", completa. Pelo que se vê, o produtor deve ser incentivado a mudar de atitude na cadeia de produção e também no conceito de agropecuária. "O futuro é produtor beneficiando a produção e fazendo-a chegar ao consumidor e a indústria ampliando a capacidade de transformação e de consumo dos produtos agrícolas", conclui Barbosa.