Deu a louca no clima

Aos poucos o fenômeno climático El Niño começa
a perder o fôlego
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 As fortes chuvas que pautaram a safra 2015/16 se devem aos efeitos do fenômeno climático conhecido como El Niño, que desde o ano passado tem causado muitos prejuízos às lavouras de arroz do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins e Nordeste.

Enquanto do Rio Grande do Sul ao Mato Grosso do Sul o excesso de chuvas e enchentes alagou áreas plantadas, atrasou ou impediu a semeadura, no Mato Grosso e no Tocantins o problema foi a demora na chegada das precipitações e o atraso da primeira safra de soja. No Centro-Oeste, parte da lavoura de arroz é semeada durante a colheita da soja, entre dezembro e janeiro.

No Nordeste, a área irrigada foi reduzida por causa da indisponibilidade de água nos açudes e também pelo aumento dos custos de produção e concorrência com outras culturas mais rentáveis. O interior do Nordeste brasileiro vive quatro anos seguidos de seca, que se agravou nos últimos dois anos com o efeito do El Niño. Nestas regiões, as lavouras de arroz sequeiro e mesmo do tradicional arroz vermelho dos vales paraibanos, norte-rio-grandenses e pernambucanos se viram afetadas.

Em Santa Catarina, a região mais afetada foi a norte, nas imediações do Vale do Itajaí, onde alguns produtores que colhem em média de 140 a 150 sacas de arroz viram a produtividade minguar para 70 a 80 sacas e a colheita do rebrote ser praticamente inviabilizada.
As regiões mais afetadas no Rio Grande do Sul foram a Depressão Central, a Campanha e a Fronteira Oeste, onde os volumes de chuva chegaram a ficar até duas vezes superiores às médias históricas. “Entre outubro e dezembro alguns municípios registraram volumes 250% acima da média, como foi o caso de Itaqui”, avalia o meteorologista Marco Antonio dos Santos, da Somar Meteorologia (SP).

Ele observa que esse El Niño foi muito semelhante aos ocorridos nos ciclos 1982/83, 1997/98 e 2009/10. “A semelhança em intensidade ocorre até mesmo em relação ao regime de chuvas, pois em todos os casos foram registrados altos volumes durante todo o inverno e primavera. Isso acabou atrasando o plantio e afetando o desenvolvimento das lavouras no seu início de ciclo”, explica Santos.

Conforme o meteorologista, as chuvas devem voltar à regularidade a partir de fevereiro, mas sem aqueles longos períodos de invernada. “O El Niño está gradativamente perdendo forças e muito provavelmente as águas do Oceano Pacífico deverão entrar numa neutralidade ao longo do outono. Desse modo, a tendência para a colheita é boa, já que não ocorrerão mais longos períodos de chuva e quedas de temperatura. Contudo, poderão vir a ocorrer fortes pancadas de chuva de curta duração, o que deverá paralisar momentaneamente as atividades de colheita”, argumenta.

FIQUE DE OLHO

O fenômeno, que já pode ser classificado como um dos três mais fortes das últimas três décadas, só deve começar a perder força a partir de abril, de acordo com o meteorologista Paulo Etchichury, da Somar Meteorologia. Segundo ele, os modelos climáticos para o segundo semestre de 2016 apontam o início de uma nova fase de águas frias sobre o Oceano Pacífico equatorial, com indicativo da provável configuração de um episódio de La Niña. “Neste ano, o frio vai chegar mais cedo”, prevê.

QUESTÃO BÁSICA

Segundo o presidente da Federarroz, através de suas entidades representativas, os arrozeiros estão negociando com o Mapa um tratamento diferenciado aos produtores atingidos pelo excesso de chuvas com a renegociação de dívidas e alongamento do prazo para pagamento do custeio atual e também dos anteriores. “São medidas que podem resolver ou pelo menos atenuar a situação daqueles produtores que perderam pouco ou terão a produtividade de suas lavouras comprometida. Mas acredito que o governo também levará em conta a situação daqueles que perderam tudo”, estima.