Deu a louca nos estoques

 Deu a louca nos estoques

Estoques: maiores que o previsto

Estoque privado estaria zerado na safra. Mas não está
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Estava tudo previsto: o Brasil terminaria o ano-safra com os estoques privados praticamente zerados e o estoque de passagem seria apenas o público, da Conab, em torno de 1,2 milhão de toneladas. Estava. A partir de novembro de 2006, quando os preços do arroz chegaram ao recorde do ano, em torno de R$ 28,50 em algumas regiões gaúchas, percebeu-se que havia muito produto na mão dos arrozeiros. Os números e previsões foram colocados em xeque e o mercado despencou para o patamar de R$ 17,00. Em fevereiro de 2007, no entanto, a Conab divulgou novo levantamento indicando um estoque de passagem de 1,18 milhão de toneladas. 

Ainda assim os preços continuaram em queda livre no Rio Grande do Sul e nos demais estados brasileiros. E os produtores gaúchos ofertando volumes importantes. Mas o que explica esse erro tão grande de avaliação, com interferência direta no mercado? O superintendente de gestão de estoques da Conab, Paulo Morceli, reconhece que a situação é surpreendente. “Nos deparamos com uma situação que indica um desvio”, explica. Segundo ele, se o quadro de suprimento está correto, todo o estoque estaria nas mãos do Governo e o mercado, mais sustentado. Não haveria motivo para a queda de preços atual. 

Ainda de acordo com Morceli, o mercado fraco neste pico de entressafra indica a possível existência de estoques nas mãos dos produtores, não refletido no quadro de suprimento. “Esse estoque poderia vir de uma subestimação da produção, da importação ou uma sobreestimação do consumo”, acrescenta. O especialista destaca outra questão importante: o quadro de suprimentos que a Conab trabalha inicia em 1º de março e, segundo o último levantamento, entre janeiro e fevereiro teriam sido colhidos 15,5% da safra, ou seja, 1,8 milhão de toneladas. 

Não é descartado também o fato da indústria, por conhecer o volume de safra, sentir-se à vontade na hora de negociar, pois sabe que tem o abastecimento absolutamente garantido, seja pela nova safra, seja pelos estoques privados remanescentes (dela própria ou do arrozeiro) ou, ainda, do Mercosul. 

 

Estoques mundiais caem 3%

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima a produção mundial de arroz em 2007 com queda, em comparação à safra 2005/2006, de 1,37 milhão de toneladas (0,2%). As causas principais, segundo o socioeconomista do Irga, Camilo Feliciano de Oliveira, são as secas no sudeste asiático, no Mercosul, na Austrália e algumas zonas da América Central. O consumo, porém, deve crescer 1,1%, alcançando 619,5 milhões de toneladas. Assim, o estoque de passagem mundial sofreu uma diminuição de 3%. Soma agora 117,4 milhões de toneladas (19% do consumo), volume capaz de abastecer o mundo por 69,2 dias. Até 2001, os estoques mundiais de passagem ficavam entre 30% e 40% do consumo. Os três principais mercados mundiais apresentaram elevação de preços. 

Uma dúvida
O que a Conab está fazendo para esclarecer esta situação de estoques acima das previsões?

Segundo Paulo Morceli, a Conab está empenhada em reunir elementos que justifiquem e esclareçam essa questão e analisando outros fatores que possam indicar falhas nas previsões ou explicações para o cenário atual do mercado. “Na reunião da Câmara Setorial do Arroz, em São Gabriel, vamos mostrar os números e colocar o assunto em debate”, frisa Morceli. Preocupa também a questão do arroz que entrou sem controle pelas fronteiras e é alvo de denúncias da Federarroz há pelo menos três anos. “Não sei se é possível dimensionar e se o volume é significativo, mas é um dado a ser trabalhado”, acrescenta.

Tabela 1 – Projeção da produção mundial de arroz, em toneladas base casca: safra 2006/07

Regiões

Área
(mil ha)

Estoque
inicial 
(mil t)
Produção
(mil t)
Importações
(mil t)
Exportações
(mil t)
Consumo
(mil t)
Estoque Final (mil t)
África

7.707

3.498 20.459 11.349 1.355 29.736 2.979
América Central e Caribe 562 745 1.914 2.614 —– 4.517 690
América do Norte 1.206 2.308 9.058 2.289 4.824 7.527 1.677
América do Sul 4.854 4.559 20.675 1.832 2.271 21.101 3.579
Ásia 136.492 103.643 559.286 13.741 34.434 540.957 102.510
Europa 411 1.941 2.589 1.966 223 4.222 1.988
Oceania 20 761 130 335 186 819 229
Oriente Médio 785 3.583 4.376 6.598 74 10.585 3.764
Mundo 2006/07 152.037 121.039 618.487 40.723 43.368 619.466 117.416
               
Mundo 2005/06 152.246 116.362 619.860 39.406 41.578 613.010 121.039
Variação -0,1% 4,0% -0,2% 3,3% 4,3% 1,1% -3,0%

Fonte: USDA

 

O show da produção

Abertura da Colheita terá mecanismos de comercialização

Na 17a Abertura Oficial da Colheita do Arroz, de 2 a 4 de março, em São Gabriel (RS), não faltarão atrações. Mas a principal delas, com certeza, será um balcão de negócios no qual os produtores poderão contratar AGFs, EGFs e participar do primeiro leilão de opções públicas de 2007. “É uma ação extremamente importante para o evento e à lavoura arrozeira”, define o presidente da Federarroz, Valter José Pötter. Além do leilão da Conab, que estará participando com sua equipe dirigente, o Banco do Brasil e demais instituições financeiras estarão realizando contratação do custeio para comercialização. 

O diretor de mercados da Federarroz, Marco Aurélio Marques Tavares, considera que a liberação de recursos para os mecanismos de comercialização antes da safra é fundamental para garantir a sustentação de preços no momento histórico de maior pressão de oferta do produto, entre março e maio. No dia 3 de março, a Câmara Setorial do Arroz se reunirá no auditório da 17a Abertura da Colheita para debater temas de relevância para a cadeia produtiva, como os próprios mecanismos de comercialização, estoques e a safra em andamento. Os produtores também vão conhecer tecnologias de máquinas e equipamentos nos estandes.

VITRINE – O show da produção de arroz de alta tecnologia do Rio Grande do Sul, no entanto, estará na vitrine tecnológica, que reunirá os centros de pesquisa de arroz, como Embrapa, Irga e RiceTec e as principais empresas de tecnologia e insumos do setor. Nas estações destas empresas e centros, será possível ao produtor conhecer, avaliar e tirar dúvidas sobre as tecnologias para alta produtividade. Paralelamente, haverá programação técnica com palestras e apresentações, além de shows musicais na parte da noite. São esperados 10 mil visitantes nos três dias de evento.

 

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