Difícil travessia

 Difícil travessia

Conjuntura e câmbio
travam capacidade exportadora de arroz.

Se nos últimos anos agentes da cadeia produtiva do arroz, mas em especial trades e indústrias, alcançaram bons volumes exportados, superando enormes dificuldades estruturais e praticamente sem nenhum incentivo, com as deficiências conjunturais deste ano, feito o câmbio adverso, se tornou um ato heroico embarcar o grão em 2017. Com o terminal da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) em Rio Grande inoperante – condição que deve se tornar permanente – e disputando espaço nos terminais que priorizam soja e milho, o primeiro semestre apresentou baixo volume de embarques para o setor.

 

APENAS DOIS MESES 

Julho e setembro – sob conjuntura muito favorável – fizeram lembrar os bons tempos. Em julho, as cargas embarcadas tinham um grau maior de tolerância a defeitos e umidade e em setembro os preços internos caíram ao menor patamar do ano, gerando competitividade com outros fornecedores globais para mercados da África e das Américas.

Surpreende que ao longo da cadeia produtiva, agentes e analistas, reafirmam de forma sistemática que um dos importantes caminhos para superar a crise no setor é uma retomada das exportações. Mas, ao longo do ano nada aconteceu para melhorar as condições estruturais e competitivas neste sentido. Pelo contrário, houve o pedido de desocupação do terminal da Cesa em Rio Grande, capaz de armazenar 60 mil toneladas de arroz e que recentemente recebeu novos equipamentos de carga e descarga para agilizar o carregamento dos navios. A determinação é da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Com a Cesa em frangalhos, a batalha já é dada como perdida pelos arrozeiros.

Para alguns operadores, a falta de investimentos e políticas voltadas ao escoamento do arroz 15 anos depois de o país começar a exportar maiores volumes – e em algumas temporadas posicionar-se entre os 10 maiores fornecedores mundiais – revela falta de interesse do poder público e mesmo de agentes privados em solucionar os gargalos de logística e transporte.

Sem isso, a orizicultura é personagem eventual no jogo mundial. “O Brasil tem potencial para exportar 1,5 milhão de toneladas/ano sem afetar seu abastecimento interno, mas exceto uma oportunidade muito favorável, não conseguimos consolidar tal posição. Esta seria uma condição importante para assegurar a estabilidade nos preços internos e até para promover algum crescimento produtivo”, reconhece Francisco Lineu Schardong, presidente da Comissão do Arroz da Farsul.

Com os preços internos do grão batendo no mais baixo patamar do ano em setembro, os negócios voltaram a movimentar o porto, mesmo com o câmbio ainda sendo um complicador. Com a expectativa de mecanismos de comercialização que poderiam gerar maior oferta às vendas externas, em outubro houve pequeno arrefecimento na demanda pelo cereal.

Déficit líquido

No ano comercial que começou em 1º de março de 2017 e vai até 28 de fevereiro de 2018, o Brasil acumula 487.522 toneladas de arroz (base casca) exportadas. Mantida a média mensal, a expectativa é de que alcance 835.752 toneladas enviadas a outros países. No entanto, com preços mais baixos, a cadeia produtiva espera uma elevação nas vendas até o final do ano, o que pode levar o país às 900 mil toneladas. Ainda assim, o déficit previsto na balança comercial do ano deve ficar em torno de 300 mil toneladas. Ano passado, neste período, o volume de embarques ficava perto de 600 mil toneladas. E ainda assim, foi um ano deficitário.

De março a setembro, o Brasil importou 752.745 toneladas. Mantida a média mensal, as importações devem chegar próximas de 1,3 milhão de toneladas. Por hora, o déficit é de 265.223 toneladas.

No ano civil, que conta de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2017, o Brasil exportou 617.318 toneladas, com média mensal de 51.443 toneladas (base casca) entre janeiro e setembro. Destaque aos clientes africanos: Serra Leoa, com 103,7 mil toneladas, Senegal ( 84,9 mil) e Gâmbia, (76,9 mil). A África representa 47,9% das vendas brasileiras, em especial de quebrados de arroz, seguida de América Central e do Norte, com 24,5%, América do Sul, com 22,6%, e, por fim, Europa, com 5% das cargas. O grão brasileiro foi para 60 países até agora.


FIQUE DE OLHO

Para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá consolidar 800 mil toneladas exportadas no ano comercial 2017/18, até fevereiro, e a importação de 1 milhão de toneladas, registrando um déficit de 200 mil toneladas. Em 2016/17 foram exportadas 893,7 mil toneladas e importadas 1,187 milhão de toneladas, com déficit de 293 mil toneladas. Para a temporada que começa em 1º de março de 2018 e vai até fevereiro de 2019, a expectativa da Conab é de uma balança comercial em equilíbrio, com a importação e a exportação de 1 milhão de toneladas.

Para os agentes de mercado, ainda é muito cedo para projetar o comportamento da comercialização futura. Isso vai depender, de maneira fundamental, da relação entre os preços internos e externos e do comportamento do câmbio. A estrutura, a cadeia produtiva já sabe que não vai mudar no curto prazo.


Enxurrada

Em contrapartida, as importações brasileiras de arroz no ano civil bateram em 967.921 toneladas, com média mensal de 107.547. Os maiores fornecedores do Brasil são os vizinhos do Mercosul, que juntos representam 95,2% das compras realizadas. O Paraguai lidera o ranking, com uma enxurrada de 516.249 toneladas (53,3%), seguido do Uruguai, com 264.517 (27,3%), e da Argentina, 141.174 (14,6%). De fora do bloco, 2% das compras são do Suriname e da Guiana, na faixa de 19 mil toneladas cada um. Com estoques altos de 2016, dificuldades de logística e inserção em outros mercados e menores custos de produção, o país guarani resolveu liquidar excedentes e baixou preços para superar os concorrentes da região. Agora reformula seu sistema em busca de exportar beneficiado.

A Itália é o sexto maior fornecedor, com 5.449 toneladas. Os demais 11 países estão vinculados ao fornecimento de variedades que visam atendimento de mercados especiais, caso das aromáticas, coloridas, arbórias, japonesas, grãos médios ou longos, para culinária étnica ou alta culinária ou mix de grãos. Estes 12 países fornecedores representam 2,8% das compras nacionais. Entre eles, algumas origens incomuns: França, Líbano e Romênia.

 

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