E na próxima safra?
O que esperar da comercialização da safra 2004/2005?.
Diz um antigo ditado brasileiro que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. E a cautela é a principal das recomendações das lideranças do setor aos produtores. É preciso estar bem informado em 2005 para evitar prejuízos na comercialização do arroz. Segundo dados da Conab, o Brasil deve entrar na próxima safra com um estoque de passagem de 1,3 milhão de toneladas, 1 milhão de toneladas a mais do que em 2004. E deverá colher próximo de 12,1 milhões de toneladas.
De favorável, diante desse cenário, existe a informação de que o Brasil vai colher menos 600 mil toneladas e o Uruguai e a Argentina, menos 200 mil toneladas pela redução de área e produtividade. A Argentina deverá plantar 140 mil hectares e o Uruguai, 165 mil, em função do déficit hídrico. O presidente da Associação de Cultivadores de Arroz do Uruguai (ACA), Hugo Manini, crê numa redução significativa na região, que pode chegar a 25%. Até dezembro, porém, é possível alterar esses números de acordo com o clima.
O consultor da Safras & Mercados, Aldo Lobo, considera que a produção do Mercosul será pouco inferior ao ano passado, mas não muito. “É difícil falar em expectativa de preços neste momento, mas será um ano mais difícil do que 2004, pois arrancamos com um estoque de passagem de cerca de 990 mil toneladas e teremos uma produção significativa”, frisa.
O presidente do Instituto Riograndense do Arroz, Pery Sperotto Coelho, argumenta que é cedo demais para ter uma expectativa do comportamento do mercado na safra. “Vivemos um momento de baixa, mas existem fatores que ainda podem interferir no mercado, como um El Niño de fraca intensidade, uma significativa redução de área no Mercosul e o aceno do Governo Federal para disponibilizar mecanismos que enxuguem o mercado. A conjugação desses fatores aponta para uma safra em 2004/2005 bem diferente da que ocorreu no ano passado”, considera.
Sperotto Coelho lembra ainda que as chuvas atrasaram o plantio no Sul e a falta delas provocou um atraso no Centro-oeste, o que ocasionará uma entressafra mais longa e pode interferir na produtividade. “O Rio Grande do Sul não terá safra cheia como em 2004”, garante. Lembra ainda a expectativa de uma redução nos estoques mundiais e de quebra na produção de alguns dos principais países asiáticos por fatores climáticos. “Haverá uma movimentação diferente no mercado internacional, que pode interferir nos preços internos, inclusive com a consolidação de maiores exportações do Brasil e o Mercosul para terceiros mercados”, acrescenta.
OMC é o caminho
O Brasil está estudando uma ação de grande impacto na orizicultura do Mercosul, a médio prazo, se forem alcançados os resultados esperados. O Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) fechou convênio com o instituto Icone para dar o embasamento necessário a um pedido de painel de arbitragem na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios dos Estados Unidos ao arroz. A ação deverá ter o Uruguai como co-autor. Esses subsídios afetam diretamente o Uruguai e, indiretamente, o mercado brasileiro.
Além de ingressar mais barato no mercado interno, o produto norteamericano inviabiliza as exportações nacionais, reclama o diretor comercial do Irga, Rubens Silveira. Segundo ele, o Icone avaliará todos os itens que causam reflexo no mercado, do preço de insumos aos subsídios. Números indicam que mais de 60% dos sete milhões de toneladas de arroz longo e fino comercializados no mundo são exportados pelos EUA. É o mesmo tipo cultivado pelo Rio Grande do Sul. Na disputa do algodão com os EUA na OMC, o Brasil já pediu para estender as punições ao arroz.
Preocupa agora Depois, mais ainda.
O presidente da Federarroz, Valter José Pötter, considera que as dificuldades do mercado de arroz serão ainda maiores na safra, se for levado em conta o cenário atual. Para ele, a maior preocupação é a falta de regras justas na relação brasileira com o Mercosul. Afirma que argentinos e uruguaios produzem com custos muito menores por causa dos insumos e máquinas mais baratos, inclusive os comprados no Brasil, e pelas baixas taxas de juros. “Afora isso, a indústria deles recebe o Reintegro, uma devolução de impostos que constitui subsídio indireto. E não pagam ICMS nem Funrural e nem CDO. Só na distorção desses impostos, que era corrigida em parte pelo PIS/Cofins até julho de 2004, o produto deles fica até 12% mais barato na importação”, lembra.
Os arrozeiros gaúchos também desconfiam dos números oficiais das importações. “Identificamos quatro balanças funcionando em nove pontos de fronteira e caminhões com carga acima do peso e não declarada. Há arroz do Mercosul entrando ilegalmente no Brasil. E isso é crime”. Para Valter Pötter, algumas ações podem equilibrar preços na safra, como os mecanismos de opção privado e público, a estratégia de exportação e a organização da cadeia produtiva. Contudo, o dirigente julga fundamental uma revisão do acordo do Mercosul, dando as mesmas condições de produção para os arrozeiros dos três países que se destacam produzindo o cereal.
“Nós também queremos menos impostos, taxa de juros menor, Reintegro e insumos e máquinas mais baratas. Ou medidas compensatórias que coloquem o arroz do Mercosul em patamares acima do custo de produção brasileiro para ingressar em nosso mercado”, destaca o líder arrozeiro.
Nem tudo está perdido
Organização setorial e ações estratégicas buscam equilíbrio
Diante das dificuldades impostas neste segundo semestre de 2004, quando os preços do arroz caíram em plena entressafra, algumas iniciativas reúnem maior expectativa para que a cadeia produtiva brasileira alcance o equilíbrio e a viabilidade de mercado e da produção. Entre esses fatores, o presidente da Federarroz, Valter José Pötter, destaca a reorganização das associações de arrozeiros e da própria federação no Rio Grande do Sul. “A união das entidades e a criação das câmaras setoriais do arroz do Rio Grande do Sul e do Brasil também são ações importantes para que o setor fortaleça seus pleitos”, afirma. Mas, antes de mais nada, é importante destacar que o setor vem buscando competitividade em ações de gestão de lavoura e de tecnologia em busca de altas produtividades, redução dos custos de produção e qualificação do produto final. “A médio prazo, este será o grande fator de competitividade”, frisa.
Para Valter José Pötter, a retomada de preços remuneradores para o setor depende do comportamento a partir da próxima safra, mas principalmente da correção das distorções legais, tributárias e comerciais do Mercosul, como subsídios indiretos no Uruguai e na Argentina, menores juros, máquinas e insumos mais baratos, entre outros fatores. “O Governo brasileiro, enfim, dá sinais de estar mais sensível e tem ouvido nossa posição”, afirma. Ele também destaca o esforço que a cadeia produtiva gaúcha está realizando para equilibrar a oferta de arroz no mercado interno, visando exportação significativa em 2005.
OPÇÕES – Uma das tábuas de salvação da produção brasileira para o final de 2004 e a safra 2004/2005, é o contrato de opção privado, uma inovação proposta pela cadeia orizícola e aceita pelo Governo Federal. Por ele, os produtores poderão negociar 600 mil toneladas de arroz com a indústria pela cotação de mercado da Conab. O Governo brasileiro paga até R$ 2,50 de prêmio se o valor de mercado cair. “Há tratativas para que na safra 2004/ 2005 sejam disponibilizados contratos privados e públicos para 1,3 milhão de toneladas”, informa Marco Aurélio Tavares, diretor da Federarroz.
Safra 2004/2005 Fatores positivos para o mercado
• Menor safra no Brasil
• Redução da safra do Mercosul
• Redução dos estoques mundiais
• Redução de oferta no mercado internacional
• Mecanismo de comercialização (contrato de opção privado) para 600 mil toneladas
• Contratos de opção privado e público para 1,3 milhão de toneladas
• Pressão da cadeia produtiva contra distorções do Mercosul
• Pedido de abertura de painel de arbitragem na OMC contra os subsídios dos Estados Unidos ao arroz
• Inclusão do arroz nas negociações com a Argentina no caso da Guerra das Geladeiras
• Inclusão do arroz na negociação de cotas exportáveis para a Europa
• Organização da cadeia produtiva gaúcha para garantir a logística necessária e preços para a exportação de volumes importantes de arroz em 2005
• Incentivos do Governo Federal para a exportação, com redução da burocracia alfandegária
• Retirada da isenção de PIS/Cofins sobre o arroz importado do Mercosul, tema em tramitação no Congresso Nacional e nas instâncias do Governo Federal n Elevação da Tarifa Externa Comum para 35% sobre o arroz importado de terceiros países
• Agilização dos processos pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Arroz