Efeito dominó
Valorização no campo
reflete nos supermercados.
Agas vê o preço no limite
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A alta nos preços pagos aos produtores também está começando a chegar ao consumidor. E como o arroz faz parte da cesta básica, essas altas vão pesar bastante no bolso do brasileiro. Segundo uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o preço do arroz subiu cerca de 30% nos últimos 12 meses, índice muito acima da inflação no período, que foi em torno de 5%.
O vice-presidente da Federarroz na Planície Costeira Interna, Daire Coutinho, contesta a informação de que o arroz é um dos vilões da inflação. “O que aconteceu nos preços do arroz até agora foi a recuperação de preços aos níveis anteriores àqueles praticados no ano de 2011, que, pelos prejuízos causados ao produtor, deve ser esquecido pelo setor agrícola. As cotações tiveram um realinhamento natural pela estabilização da oferta. E os valores estão nominalmente equilibrados com os do passado, desconsiderando a inflação do período”, afirma Coutinho.
Para o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antonio Longo, a alta dos preços é fator determinante no comportamento do consumidor. “Para produtos de consumo diário, como o arroz, o consumidor conhece o preço. Se o aumento for muito grande, o arroz não deixará de ser consumido, mas certamente terá uma queda na procura. Há um teto que o consumidor tolera. Ultrapassando um determinado patamar, o consumidor, que é atento, diminui o consumo, migrando para massas e outras alternativas”, pondera.
Ele explica que as margens médias dos segmentos da cadeia produtiva até chegar ao varejo são de 10% a 15%. “Acreditamos que o preço está no limite. Existe uma tendência de estabilidade nos preços com possível queda. O setor trabalha com esta perspectiva e está iniciando a redução dos estoques com segurança”, acrescenta.
Em tempos de preços mais altos e consumo interno estagnado, o maior desafio do varejo está em compreender o papel do arroz dentro de um supermercado e como ele pode se tornar mais atraente ao consumidor. Se por um lado a área de hortifrutigranjeiros, por exemplo, é aquela que pega o consumidor pelos olhos, o arroz, de maneira geral, só é comprado por necessidade.
ATRATIVO
Longo argumenta que cada setor tem seu atrativo, e o varejo está atento a isto. “O consumidor gaúcho, que é o mais exigente do Brasil, quer encontrar uma novidade, uma ponta de gôndola diferente, um preço atrativo, um diferencial a cada visita ao supermercado, e é isto que buscamos. Há diferentes opções e apelos. Algumas redes destacam os produtos regionais, outras procuram explorar os benefícios que o arroz integral traz à saúde, por exemplo. Cada consumidor é diferente, e o supermercadista sabe o que o seu cliente procura e precisa”, contrapõe.
Reflexo indesejado
O momento vivido pelo arroz em termos de preços reflete na composição do custo de produção da próxima safra, atualmente em R$ 28,40, conforme o Irga. O chefe da equipe de política setorial do Irga, Victor Kayser, esclarece que o produtor mais capitalizado, que já investiu na compra de insumos para a safra, não vai sentir tanto o impacto. “Como a grande maioria comercializou o produto antes dos preços atingirem o patamar mais elevado, este reflexo será percebido em dezembro e janeiro na aplicação de ureia, fungicidas ou herbicidas”, diz.
Kayser observa que tais reflexos podem ser sentidos de forma mais imediata por aqueles produtores que precisam pagar arrendamento, mas há outras variáveis. “A alta do grão influencia no percentual pago aos funcionários que recebem participação. É o caso do empregado que faz o nivelamento das taipas, por exemplo. Mas o que se observa, em geral, é que, quando melhoram os preços, os insumos, principalmente adubos, acompanham a evolução”, compara.
A questão dos custos de produção é, na visão do analista da Conab, Paulo Morceli, um dos aspectos mais importantes a que o produtor deve estar atento. “Os períodos das safras 2002/03 e 2003/04 apresentaram ganhos extraordinários. Seguiu-se um período de preços baixos, com produtores amargando prejuízos, sendo substituído por períodos de safras sucessivas, com bons preços, especialmente 2007/08 e 2008/09. Na safra passada, o produtor do Mato Grosso conseguiu vender sua produção com ganhos. Já os produtores do RS conseguiram reaver pouco mais do que os custos variáveis, sem obter, na média, a reposição dos custos operacionais”, aponta.
Morceli ressalta que o cenário da safra atual indica ganhos se o mercado seguir com preços em ascensão. “Já para a safra a ser plantada, pode-se notar que todos os custos tiveram ligeira elevação, ou seja, 7,04% e 13,28% no custo variável do RS e MT, respectivamente, e 6% e 11,17% no operacional para esses dois estados. Neste sentido, é importante atentar para o fato de que a obtenção de preços remuneradores torna-se mais difícil, de modo que será necessário um ano com comercialização melhor que o atual”, projeta o analista.
Dias melhores em 2013
A expectativa de uma nova safra com volume mais ajustado ao consumo interno, somada à queda das importações e um volume de estoques mais baixos em 2013, cria boas perspectivas para o setor no novo ano. Com relação aos preços ao produtor, Morceli estima que, se a produção ficar mais restrita, com a colheita de uma safra nos volumes previstos, é possível que estes preços se mantenham em patamares do mesmo desenho da presente safra. “É possível que, no início da comercialização, venha a cair levemente, voltando a crescer em seguida, finalizando o ano comercial com médias superiores aos custos de produção”, prevê.
O presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Cláudio Pereira, avalia que em 2013 as cotações do cereal serão “bem melhores” quando comparadas com iguais períodos deste ano. Pereira prefere não arriscar percentuais, mas aposta em boas margens para os produtores, apesar do custo total de produção “um pouco maior” nesta safra do que os R$ 28,00 por saca do ciclo anterior.
Já o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Renato Rocha, aposta na tendência de que os preços médios se mantenham firmes, apesar de uma pequena interferência do governo federal ofertando pequenos volumes de estoques mais antigos. “Isso não está afetando os preços e ajuda a liberar armazéns para a próxima safra. O que não pode é ampliar demais a oferta, pois é um tiro no pé. Sem renda, o produtor recorre ao governo para resolver os problemas do setor”, alerta Rocha.
Ele projeta cotações entre R$ 30,00 e R$ 40,00 em 2013, desde que as intenções de plantio estimadas se confirmem. Segundo ele, mesmo com a recuperação dos mananciais, até o início de novembro a água é disponível para uma área inferior àquela cultivada no ano passado. “Muita gente está optando por soja, que deve aumentar em mais de 50% este ano na várzea para rotação, controle de arroz vermelho, limpeza de inços e até mesmo pela atratividade do preço em talhões de baixa produção de arroz”, explica.