Em busca da lavoura perfeita

 Em busca da lavoura perfeita

Crescimento para dentro: saída para o produtor é, ao invés de aumentar o tamanho da lavoura, ganhar produtividade ao preencher as brechas

Menos brechas no campo significa mais produtividade no arroz

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É muito comum no Rio Grande do Sul existirem lavouras de arroz vizinhas que, apesar de utilizarem o mesmo tipo de sementes, serem plantadas na mesma época e se desenvolverem sob as mesmas condições de microclima, chegam, na safra, a registrar uma diferença de produtividade de até três mil quilos por hectare. Nos países de origem hispânica e mesmo os orizicultores e técnicos gaúchos chamam esta situação de brecha. É a diferença entre o que é possível produzir, com as tecnologias e meios que estão disponíveis, e o que realmente está sendo produzido pela lavoura.

Reduzir esta diferença é o grande desafio a que se propõem o setor de pesquisas do arroz, os extensionistas rurais e os produtores. Há um programa em desenvolvimento por parte do Fundo Latino-americano e do Caribe para o Arroz Irrigado (Flar) e o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), seu representante brasileiro. “Temos que reduzir estas perdas e alcançar um padrão de alta produtividade média, pois dispomos de tecnologia para isso”, afirma o economista Luis Sanint, diretor-executivo do Flar.

O pesquisador do Irga Valmir Gaedke Menezes diz que o real potencial de produção da lavoura arrozeira gaúcha está em torno de oito mil quilos por hectare. Em áreas experimentais, a capacidade é até maior e alcança os 10 mil quilos. Menezes garante que há produtores de diferentes regiões do estado que alcançam estes níveis produtivos em parte de suas áreas. As lavouras pequenas e quase artesanais da Depressão Central gaúcha muitas vezes ultrapassam os oito mil quilos de arroz por hectare.

O Rio Grande do Sul, no entanto, só ultrapassa uma produtividade média superior a 5,3 mil quilos quando o clima é muito favorável. “Parte do problema é cultural, pois no passado se ganhava no aumento de área e na ciranda financeira”, explica o pesquisador.

 

Produzir mais reduz os custos

A melhor forma de reduzir custos na lavoura é aumentar a produtividade. O grande peso econômico da lavoura são os custos fixos. Produzir mais numa mesma área mantém o mesmo custo, mas o resultado é maior. Um exemplo dado pelo pesquisador Valmir Gaedke Menezes, do Irga, e que numa área de 80 hectares, com o manejo adequado, e possível ao produtor alcançar uma produ­ção proporcional a 100 hectares conduzidos sem atenção as recomendações da pesquisa.

Com isso, há menos custo de arrendamento, água, herbicida, defensivos em geral, energia, maquinário e mão-de-obra. Para chegará isso existem alguns man­damentos básicos, elementares e simples. O método pode começar pelo produtor fazendo uma melhor nutrição das plantas e readequando a adubação para atingir maiores patamares de pro­dutividade. "O nível de adubação só pode ser melhorado agregando novas tecnologias que já são até óbvias", explica.

Semear na época recomendada para a região agroclimática Controlar invasoras até 15° dia Colocar água até três dias após o controle.

Irrigação tem que ser precoce para combater invasoras incrementar a adubação com 300 a 400 quilos de adubo aplicados na bas

 

ANATOMIA DO ERRO 

O crescimento equivocado

O pesquisador do Irga Valmir Gaedke Menezes define as brechas como "lavouras em dificuldades que crescem para os lados (aumentaram volume de produção pela expansão de área e pouco se preocuparam com produtividade). As menos afetadas tiveram um crescimento vertical (mais produção numa mesma área) por não dispor de terras para a expansão", explica o agrônomo.

Neste exemplo cabem as pequenas lavouras Depressão central gaúcha que ficaram numa área de várzea limitada pelo rio e os cerros. Estas áreas, para suportar a competitividade do mercado e a oscilação de preços, precisam produzir cada vez mais. A receita para obter estes resultados não é mirabolante. É simples e recomendada há anos pela pesquisa. O problema, portanto, é cultural. "A tecnologia existe. Falta é que boa parte dos produtores a en­tenda e passe a aplicar", frisou.

 

Tudo começa com o manejo

O engenheiro agrônomo Valmir Gaedke Menezes, do Irga, e o economista rural e diretor-executivo do Flar, Luis Sanint, afirmam que a padronização do manejo da cultura do arroz é funda­mental para aumentar a produtividade da lavoura de arroz. Um exemplo cla­ro disso, segundo Menezes, é que o Irga tem 40 lavouras de demonstração espalhadas pelo Rio Grande do Sul usando desta tecnologia e com produtividade média su­perior a sete mil quilos por hectare. "São áreas em diferentes regiões, clima e com produtores completa­mente diferentes", afirma.

Menezes assegura que a padronização do proces­so produtivo e um dos ca­minhos para alcançar me­lhores medias. "Para a la­voura de arroz não existe uma receita pronta, mas com um manejo adequado recomendado pela pesqui­sa e possível reduzir esta distância de produtivida­de entre as melhores e as piores lavouras", explicou Sanint. Segundo ele,é muito comum que o pro­dutor não saiba por qual motivo colheu oito mil qui­los ou por que colheu cin­co mil. "E esta é uma obri­gação do arrozeiro. Ele tem que ser profissional", acrescentou.

Questão básica 

O céu é o limite? 

Não. Segundo o pesquisador Valmir Menezes, o arroz vermelho é o principal limitante que existe para que a produtividade das lavouras orizícolas gaúchas aumente. Um importante aliado deverá entrar no mercado dentro de duas safras, o arroz clearfield, que é resistente aos herbicidas do gênero das imidazolinonas e permitirá o combate ao vermelho. Adotando o sistema e as técnicas de manejo, a tendência é de um crescimento da produtividade nas lavouras. O arroz clearfield, no entanto, terá suas sementes distribuídas para produtores selecionados, integrantes de um programa específico.

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