Embarques sem risco de apagão
Arroz produzido no RS,
exportado a mais de 70 países, tem dificuldades para superar gargalos logísticos e portuários
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Localizado em um estado no qual as commodities agrícolas são os principais produtos de exportação, o Porto de Rio Grande se especializou na movimentação de grãos. É considerado o melhor do Brasil e o sétimo do mundo nesse quesito, de acordo com levantamento feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firj).
Sua atual infraestrutura, no entanto, carece de obras de modernização para atender, de forma ágil e eficiente, o escoamento da produção agrícola do estado, que cresce em níveis surpreendentes a cada safra. Um dos segmentos mais atingidos por esse “gap” logístico é o arroz, que está entre os principais produtos exportados pelo Porto de Rio Grande.
De março a outubro de 2013, o volume embarcado somou 560 mil toneladas (base casca) e a expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que se aproxime de 1 milhão de toneladas até fevereiro de 2014. Trata-se de um volume modesto, se comparado às 8 milhões de toneladas de soja, também previstas para serem escoadas no mesmo período, mas de extrema importância para a economia do Rio Grande do Sul, já que o estado é responsável por mais de 90% das exportações do cereal.
É esta disparidade em relação à soja que faz com que o arroz seja o produto mais afetado pelo gargalo na infraestrutura do porto para a exportação a granel. “A disputa entre os dois produtos por espaço nos terminais graneleiros do porto fica mais acirrada no primeiro semestre do ano, já que ambas as safras coincidem. E nessa queda de braço, a soja acaba levando vantagem em razão do volume que movimenta”, avalia o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Arroz Parboilizado (Abiap), Marco Aurélio Amaral Júnior.
Esta análise é compartilhada pelo diretor da Tranships – Agenciamentos Marítimos, Fernando José Fuscaldo Júnior: “O arroz enfrenta dificuldade por não ser um produto com volume como a soja, pois possui características específicas, que dificultam a exportação. Diferentemente da soja, o arroz precisa ser separado conforme sua classificação, o que exige adequações nos armazéns. Carece, portanto, de mais espaço e de terminais mais especializados”, aponta.
Exportar é prioridade
Dornelles: prioridade é alcançar
o mercado internacional
Pilger: investimento de R$ 900 mil
no terminal da Cesa
O escoamento de parte da produção gaúcha de arroz por meio das exportações é uma das metas prioritárias da nova diretoria da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz). Para garantir os embarques, a entidade busca junto ao governo do estado obras de melhoria e expansão do terminal portuário da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) em Rio Grande.
Com capacidade estática (limite de carga que o espaço consegue armazenar ao mesmo tempo) para 50 mil toneladas, o armazém é usado quase exclusivamente para estocagem do cereal. Dos quatro terminais que operam com embarques de grãos, o terminal da Cesa é, sem dúvida, o que apresenta maiores problemas de infraestrutura, sobretudo por não estar capacitado para receber navios de grande porte e, consequentemente, embarcar grandes volumes. “É onde está o gargalo”, aponta Marco Aurélio Amaral Júnior. “Tem espaço para armazenar, mas falta capacidade de recepção e expedição. Por enquanto, está sendo utilizado para armazenar arroz, que depois é transferido para os terminais da Termasa e Tergrasa para ser embarcado”, diz.
O presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, explica que o primeiro passo para a adequação do terminal da Cesa é a instalação do tombador, que está comprado há alguns anos, mas que ainda aguarda recursos para ser instalado. “O alfandegamento irá ocorrer até o final deste ano. O aumento do calado e a obra de ampliação do cais deverão ser iniciados em 2014. Estamos solicitando ao governador Tarso Genro para ser nosso interlocutor e que a referida obra ocorra no segundo semestre para não comprometer o cenário favorável do primeiro”, informa.
Segundo Dornelles, nos últimos anos, o Brasil tem mostrado alto grau de competitividade para atender a demanda mundial, especialmente de países da África e da América Latina, por conta da qualidade do grão produzido no Sul e da estrutura criada para este fim. “Para mim, isto é uma fortaleza! Se com todos esses gargalos o nosso arroz é muito bem aceito no mercado internacional e este ano deveremos chegar a 1 milhão de toneladas, imaginem com um terminal portuário específico para arroz, com características próprias, que seja excelência em segurança, limpeza e eficiência operacional?”, projeta o dirigente.
O diretor-presidente da Cesa, Márcio Rogério Pilger, acrescenta que, além do tombador e da parte alfandegária, estão sendo reformadas sete das 69 células de armazenagem do terminal, cada uma com capacidade para 5.500 toneladas. A obra, segundo ele, deverá ser concluída em 30 dias. “O terminal da Cesa é estratégico para o escoamento de arroz a granel, sendo responsável por 30% do volume exportado anualmente, que em 2012 foi de 263 mil toneladas”, ressalta. As obras da Cesa, considerando o alfandegamento, a obra do tombador e a ampliação de células do armazém devem somar perto de R$ 900 mil.
Disputa pelos terminais
Além da Cesa, as operações portuárias de granéis em Rio Grande também são efetuadas pelos terminais da Bianchini, Termasa e Tergrasa, portos gerenciados por empresas privadas, que geralmente costumam estar superlotadas de soja e outros produtos no primeiro semestre do ano. “Como o calado do canal de acesso à Cesa é menor do que o previsto, o terminal não está capacitado para receber navios grandes, o que obriga o embarque parcelado em volumes menores, em navios menores. Para o embarque de grandes volumes, em navios maiores, o arroz precisa ser levado até os terminais da Termasa e Tergrasa para ser embarcado”, observa Fuscaldo Júnior, da Tranships.
O Terminal Termasa Rio Grande é a unidade mais antiga, constituída em 1993. Em 1997, foi constituído o Terminal Tergrasa, também em Rio Grande. Com mais de 250 colaboradores, os terminais possuem capacidade para receber 60 mil toneladas de granéis por dia nos modais de transporte rodoviário, ferroviário e hidroviário, capacidade para armazenamento de 502 mil toneladas e capacidade de expedição de 90 mil toneladas por dia.
Os embarques em contêineres representam de 10% a 15% das exportações de arroz e são operados pelo terminal da Tecon. Essa modalidade apresenta algumas vantagens em relação ao arroz exportado à granel. Permite o embarque de volumes menores com facilidade logística, embarques semanais regulares, acesso a mercados alternativos, controle da carga e perda zero.
Possibilita também exportar um produto mais elaborado e com maior valor agregado, embalado com a marca do cliente ou ensacado (até 50 quilos). “A carga sai fechada e chega ao cliente do jeito que foi embarcada, sem interferências externas, como o clima, por exemplo”, aponta o gerente comercial da Tecon, Rodrigo Orsoletta.
O terminal da Tecon conta com um cais de 900 metros, permitindo a carga e descarga de três navios, com um calado de 12,5 metros, dispõe de acesso ferroviário e rodoviário, além do transporte fluvial pela Lagoa dos Patos. Em termos de capacidade estática, oferece 300 mil metros de área para o arroz, embora ocupe apenas 40% desse espaço. “O arroz é a carga mais embarcada no terminal, tem espaço para crescer, mas o frete marítimo é superior ao granel. As exportações nessa modalidade vêm crescendo, embora em 2012 o volume embarcado tenha sido inferior a 2011. Foram embarcados mais de 5 mil contêineres em 2012. Neste ano, até setembro, já foram embarcados 3.296 contêineres com arroz”, informa Rodrigo.