Enquanto caem no RS, cotações do arroz chegam a R$ 100,00… nos EUA
Bolsa de Chicago US$ 16,885, por quintal, em julho nos Estados Unidos e indicador Esalq/Senar-RS marca retrocesso nesta quinta-feira com pressão interna.
O sonho de todo o produtor está se realizando, mas nos Estados Unidos e num quadro muito diferente da realidade arrozeira nacional: os contratos futuros do arroz na Bolsa de Chicago subiram com força nesta quinta-feira, 28/05, e bateram com 3,84%, em US$ 16,988 por quintal (45,4kg) para julho. Na equivalência em sacos de 50 quilos, alcançaria US$ 18,71 dólares, ou pelo câmbio de hoje (R$ 5,38) bateria em R$ 100,65. O detalhe é que há uma grande diferença entre o cenário brasileiro – do qual, como raras vezes, o agricultor não pode se queixar – e o estadunidense.
Enquanto o país norte-americano está alcançando cerca de 85% da área plantada esta semana e pouco mais de 50% em emergência, o Sul do Brasil, que representa 80% da produção nacional, já concluiu a colheita. E ela foi superior à expectativa de consumo.
“A realidade é que os Estados Unidos têm baixíssimos estoques, e não são de boa qualidade, para realizar novas vendas externas. E eles, internamente, tiveram um aumento do consumo por causa das ações humanitárias relacionadas à pandemia do Covid-19, já que aquele é o pais mais atingido até agora, no mundo. Os seus estoques estão comprometidos com embarques já contratados até setembro. Isso faz com que os contratos de julho tenham referenciais altíssimos para arroz que já está dentro da indústria, mas quase não há disponibilidade de produto para vender nesses preços”, explica o analista da AgroDados/Planeta Arroz, Cleiton Evandro dos Santos.
Ele observa que o valor dos contratos cai para US$ 12,32 em setembro e US$ 12,00 em novembro, por quintal (cwt), períodos que representam o pico de colheita e oferta no país da América do Norte. Em sacas de 50 quilos, estes valores seriam de US$ 13,58 (R$ 73,06) e US$ 13,22 (R$ 71,10). “Grosso modo, estamos vivendo hoje o momento que os Estados Unidos vão viver em novembro, com a entrada da colheita e muitos contratos de venda. A depender da cotação do dólar, saberemos se seremos ou não competitivos. Abaixo de R$ 5,00 começamos a perder a competitividade e acima dos R$ 6,00 poderemos disputar espaço”, afirma Santos.
Frisa, no entanto, que cotações entre US$ 12,00 e US$ 13,00 são referência histórica no mercado internacional. “E nesses padrões, tanto importamos quanto exportamos”. O analista de AgroDados/Planeta Arroz também destaca o bom momento de negócios para os exportadores locais. “Para o arroz estamos muito competitivos, graças à falta de produto para ofertar dos Estados Unidos, o câmbio e a demanda forte das Américas, o novo mercado para o México e a Guatemala, e a demanda por quebrados da África, que foram fortalecidas pela pandemia do novo coronavírus”, assegura.
Para Santos, o Brasil deve superar as 200 mil toneladas de arroz exportadas tanto no mês de maio quanto no mês de junho. “Numa avaliação superficial, podemos dizer que abril, maio e junho devem chegar bem perto de 600 mil toneladas exportadas considerando arroz em casca, branco em granel, quebrados e branco e parboilizado em contêineres”, avalia. No momento há sete navios de arroz em casca programados para serem embarcados em Rio Grande. Além disso, Santa Catarina exportou mil contêineres entre abril e maio. “Hoje, há dois navios sendo carregados em Rio Grande que vão partir a semana que vem”, observa.
Os preços internos são bons, e não apenas na Zona Sul, em que a referência são os R$ 70,00, embora negócios mesmo tenham acontecido abaixo desse patamar, na faixa de R$ 67,50 a R$ 68,50, em liquidação. A Região Central e a Campanha pagam R$ 60,00 a R$ 62,00 (mas tem frete de R$ 3,50 até Pelotas, Funrural e CDO), a Fronteira Oeste R$ 62,00 a R$ 64,00.
Santa Catarina
Em Santa Catarina o cenário é diferente pela forma de comercialização. Como mais de 70% das indústrias trabalham com arroz parboilizado – e não branco – a comercialização foca na renda e não no rendimento de engenho. O Norte, com um frete um pouco menor e menor disputa pela matéria-prima, pelo número de empresas ser baixo, paga em média R$ 55,00 a R$ 56,00. Já no Sul Catarinense, os valores ficam entre R$ 56,00 e R$ 58,00, mas não há taxa CDO, as cooperativas – e até algumas indústrias – não descontam secagem (7% a 8%) e algumas não descontam Funrural e ainda agregam ajuda de até R$ 1,50 no frete e mais R$ 1,50 em bônus de insumos nas compras da próxima safra para quem deposita o grão. O valor acaba chegando à equivalência dos preços no RS, onde o preço costuma incluir todos os "penduricalhos".
Cenários Externo x Interno
Enquanto as vendas com destino externo são fortalecidas pela conjuntura, e o produto colocado no porto já consolida R$ 70,00 de referência, internamente a indústria tem tentado sustentar os negócios em patamares inferiores com dificuldades de repassar os custos e manter suas margens. O argumento é de que os repasse de preços têm sofrido resistência do varejo, das cozinhas industriais e dos consumidores e de que o mercado “enfraqueceu”.
O indicador de preços do arroz em casca no RS Esalq/Senar-RS apontou desaquecimento no mercado nesta quinta-feira, após duas sessões de valorização, mas também ter apontado queda na sexta-feira e na segunda-feira passadas. Segundo os analistas do Centro de Pesquisas em Economia Aplicada (Cepea) parte das indústrias consultadas saíram do mercado nesta quinta-feira, ao passo que outras reduziram suas ofertas em até R$ 2,00 por saca.
Depois que uma grande indústria ultrapassou os R$ 70,00 para fazer posição, os produtores passaram a exigir este patamar para novos negócios, e empresas que não tinham muitos estoques para liquidar acabaram sendo forçadas a chegar a esta cotação. “Mas, houve um avanço para fazer posição no mercado, algumas liquidações e um recuo por que os valores ao longo da cadeia parecem estar chegando, para o momento, num teto. O consumidor não quer pagar mais de R$ 3,50 a R$ 4,00 pelo arroz, exceto em nichos que buscam marcas e padrões superiores”, acrescenta Cleiton Evandro dos Santos.
Nesta quinta-feira, o indicador Esalq/Senar-RS marcou R$ 62,71/50 kg, redução de 0,64% frente ao de quarta. No mês a alta acumulada é de 9,59%. Com a valorização do dólar nesta quinta, houve um recuo na equivalência em moeda estrangeira, para US$ 11,69, ou 24 centavos de dólar. “Essa margem ainda é interessante para o produtor nacional, pois com a paridade acima disso, em especial perto de US$ 12,00 ou acima, crescem as importações e aumenta a pressão sobre os preços internos”, acrescenta Santos.
De acordo com o analista, a safra brasileira, em torno de 10,7 milhões de toneladas, bem como os estoques de passagem, atendem com folga o mercado brasileiro. “A tendência é de confirmarmos mais um ano de balança comercial positiva no arroz, mas o fluxo natural vai assegurar um bom volume de compras brasileiras no Mercosul, em especial do Paraguai que precisa achar mercado para perto de 700 mil toneladas ao ano e teve dificuldades de se posicionar para atender a terceiros países”, aponta.