Entrevista: Alfredo Lago, o balanço mundial é favorável aos países exportadores de arroz

 Entrevista: Alfredo Lago, o balanço mundial é favorável aos países exportadores de arroz

Cerca de 17% da área prevista já está semeada, segundo Lago

A superfície semeada no Uruguai será de aproximadamente 140 mil hectares.

 

O presidente da Associação dos Cultivadores de Arroz, referindo-se à situação do cultivo do Uruguai, comentou que: “aproximadamente 17% da lavoura teve avanço do plantio até hoje”. Ele estimou que “a superfície semeada será de cerca de 140.000 hectares”. Para Lago, “o negócio para o produtor melhorou a par da evolução da taxa de câmbio e da melhoria dos valores das exportações”, e disse que devido à boa gestão da pandemia em nosso país, “o Uruguai conseguiu atrair negócios do que outros países eles não podiam ”.

– Como está progredindo o plantio de arroz desta safra?

– Em primeiro lugar, é preciso destacar que a semeadura começou cedo, quase em meados de setembro. Na segunda quinzena daquele mês já havia produtores semeando. Temos um avanço importante basicamente na zona leste, em particular no departamento da Rocha, que hoje tem uma percentagem significativa de plantação, acima da média nacional. O norte está um pouco atrasado, pois os níveis de água desejados ainda não foram estabelecidos e o produtor decidiu aguardar alguma chuva. Por isso a semeadura começou um pouco mais tarde. Em nível nacional, estamos aproximadamente 17% avançados no plantio até o momento. Se compararmos, certamente é um dos anos em que mais avançamos em setembro e, quanto mais a leste, maior é o progresso. Rocha, como mencionei antes, tem cerca de 30% da área plantada. A represa India Muerta já tinha bons níveis de água, então o produtor conseguiu começar mais tranquilo.

– Como está o nível da água nas barragens e qual a intenção de plantio?

– Nos últimos dias tivemos alguns registros de chuva, mas a avaliação feita há poucos dias indica que a superfície seria cerca de 140.000 hectares, o que é 5.000 hectares a mais que no ano passado. Tínhamos a intenção de 160.000 hectares, mas vale lembrar que no ano passado a semeadura não foi interrompida por falta de água, mas sim pela situação econômica que os produtores estavam passando.

– O setor arrozeiro parece estar se aproximando de uma melhora depois de anos que o castigaram muito, como você vê essa recomposição e a possibilidade de colocar novamente em operação uma infraestrutura que foi descontinuada?

– É um pouco do cenário que o setor vislumbra. Existe um negócio positivo para diferentes variáveis. Por um lado temos produtividade, onde embora o produtor tenha coisas a melhorar é claro que temos níveis muito bons. Se nos compararmos com a produção de arroz em outros países do mundo, ou mesmo em relação a outros setores agrícolas do país, o arroz é, sem dúvida, o item mais produtivo. A outra variável é a estrutura de custos, que foi reduzida basicamente em função de uma melhora na taxa de câmbio. Não é o câmbio que gostaríamos, pois achamos que ainda estamos um pouco atrasados ​​em relação à região. O Brasil ainda está na frente e a Argentina é muito difícil de comparar. Ainda somos mais competitivos do que há um ano.

– Que outros aspectos influenciam?

-Há outro fator determinante que é o valor das exportações, que hoje são bem superior ao ano passado e aos ciclos anteriores. A emergência sanitária precipitou esta situação. Até recentemente havia uma situação de preços muito deprimidos em todo o mundo, mas a pandemia criava dificuldades para especificar o abastecimento para a população. Em muitos países, a estrutura logística, a saída das fazendas e indústrias, a chegada aos portos, etc. Isso tem gerado preocupação em países que dependem de importações para gerar segurança alimentar. Isso gerou mudanças importantes e melhores saldos para os países exportadores, e o Uruguai tem uma logística totalmente confiável. Não tivemos problemas para especificar as exportações e o porto estava funcionando sem problemas. No início da pandemia, o Uruguai conseguiu conquistar negócios que outros países não conseguiram. Se você olhar para fora da região, o Uruguai melhorou seus valores. Com base nisso, a realidade do Brasil foi descoberta, e há anos dizemos que ele produz menos do que consome. Isso deveria ter sido corrigido uma ou duas safras atrás, e agora existe um grande temor de que a nova safra não seja alcançada com estoques suficientes. Por este motivo, o arroz disponível teve um aumento significativo em seu valor. O Uruguai está capitalizando esses melhores negócios e a comercialização da safra 2019-2020 está avançando muito. Esses fatores, somados a uma safra americana boa, mas não tão grande como se pensava na época, criam um balanço mundial favorável para os países produtores e exportadores de arroz.

– Em relação às exportações, como estão evoluindo e quais são os principais mercados?

– Os mercados são mais ou menos os mesmos de sempre para o Uruguai. Em cinco destinos distribuímos as exportações, com 17% ou 18% em cada um deles. São a União Europeia, Brasil, Peru, México e a soma de alguns países da América Central. A Turquia também está crescendo, com 5%. O importante é que o Uruguai não depende de um mercado único. Na safra passada, o Iraque ficou com um terço das exportações e neste ano não participou de nada. Nosso país se beneficiou de outros destinos, e como há mais demanda no mundo, o Uruguai está logicamente se posicionando melhor. Em todo caso, não devemos deixar de atender aos mercados tradicionais que em tempos de dificuldades sempre vieram comprar aqui, valorizando nossos produtos, como Peru ou México por exemplo.

– Como está a arbitragem do preço da safra passada?

– A arbitragem está em pleno andamento. Temos trabalhado e analisado esses mecanismos com os árbitros. Ainda não temos resultados e não podemos fazer uma avaliação do que pode acontecer. Certamente demorará todo o mês de outubro para gerar o fechamento de preços.

– Como está se desenvolvendo a pesquisa nacional sobre variedades?

-A pesquisa no Uruguai, realizada pelo INIA, tem muita aceitação pelo setor arrozeiro. É o setor produtivo que mais absorve as tecnologias. Na questão genética, a grande maioria das variedades que hoje se cultivam são desenvolvidas pelo INIA. Há um trabalho muito bom e antigo. O produtor de arroz precisa estar continuamente recebendo melhorias nos materiais. Devemos avançar no tipo longo fino, que é o que se cultiva no Uruguai, mas também devemos nos aprimorar na investigação de outros tipos de arroz, como grãos longos largos, médios ou curtos. Nesse sentido, ainda não temos uma variedade nacional que se adapte aos nossos sistemas de produção e, por sua vez, seja um grão aceito no cenário internacional. Ainda há coisas a melhorar e obviamente continuamos trabalhando nisso. Este processo.

– Com a mudança de governo neste ano, que medidas podem ser implementadas para ajudar o setor?

– Primeiro é conveniente contextualizar um pouco. No dia 13 de março, a inauguração da safra coincidiu com o dia em que o Uruguai confirmou a chegada do coronavírus. Tínhamos alguns postulados e retificações que buscavam servir ao produtor para gerar uma melhora na situação econômica. Os pedidos ao governo estavam voltados para o aumento da restituição de impostos, gerando mecanismos de impacto na competitividade como abordar a questão das tarifas, mas sempre buscando situações que gerassem uma melhoria no negócio e fossem viável o cultivo de arroz em nosso país. Parte dessas correções são mantidas, como a necessidade de taxas adequadas, pois se nos compararmos com a região estamos atrasados. De qualquer forma, o negócio do produtor evoluiu paralelamente à evolução da taxa de câmbio e à melhoria dos valores das exportações. Tivemos que ajustar os problemas a essa nova realidade, porque parte já estava resolvida. Sobre a questão da restituição de impostos, a lógica de implementação de medidas anticíclicas permitiu ao produtor contar com a ajuda do Estado quando necessário e, quando o setor melhora, abdica desses benefícios. Lideramos pelo exemplo e retiramos por um tempo o pedido de ampliação dessas medidas, vendo a melhora da situação. Procuramos também aprimorar outras linhas de ação que têm a ver com o capítulo financeiro, que talvez não fosse uma prioridade. O setor do arroz notou a disposição do governo e do Banco República de gerar instrumentos financeiros já existentes para reformular e ajustar prazos e taxas. Isso ajuda muito. Da mesma forma, devemos continuar a insistir na questão das taxas.

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