Espanha, a terra da paella

 Espanha, a terra da paella

Autoria: GILBERTO WAGECK AMATO
Eng. químico, M.Sc.
Irga – Centro de Excelência do Arroz.

Como é sabido, o cultivo do arroz na Espanha remonta ao domínio árabe, no distante século VIII. Na região do Levante espanhol, mais precisamente em Valência, os moros deixaram importantes legados, como o arroz (al’riz) e a laranja. Os canais de irrigação – as acequías – deixados pelos romanos, ajudados pelo solo e clima, formaram um sinergismo que resulta, hoje, em prato de fama internacional: a paella valenciana. 

O arroz de Valência foi ganhando destaque no curso do tempo, a ponto do rei dom Jaime, no século XIII, ter decretado que somente poderia ser consumido o arroz local, produzido em La Albufera de Valência, pois seria o único, assim consta, que não gerava o paludismo (malária), doença que grassava à época. Os promotores de saúde eram os pântanos canalizados. Começava a tomar corpo a paella (pronuncia-se “paêia”) valenciana. 

A origem do termo paella, na versão mais aceita, está relacionada com o hábito dos homens serem os responsáveis por preparar “para ela”, ou “pá’ ella”, a comida tradicional, dando uma “folga” às mulheres ao final de semana.

A Espanha no contexto europeu 

Na última década têm ocorrido pouquíssimas oscilações na produção de arroz na Europa, em grande parte por limitações de acordos de quotas preestabelecidas por país. A Espanha ocupa o segundo posto na produção e consumo de arroz, seguindo logo após a Itália. É responsável por um terço da produção européia, beirando um milhão de toneladas de paddy. Seguem-na Grécia, Portugal e França. O sistema cooperativo responde por 80% da produção. 

Como em todo lugar, existe um natural conflito entre a lavoura e a indústria. Ao contrário da concentração que ocorre no sul do Brasil, a produção está bem distribuída entre Andaluzia (30%), Extremadura (23%), Valência (10%), Catalunha (9%), Aragão (7%), seguidos de Navarra, Múrcia e Albacete. 

Um fato interessante ocorre com a região valenciana: detentora desde sempre da maior produção, ocupa hoje a terceira posição, produzindo menos que no século XVIII. Ao contrário da busca de maior produção que pauta os caminhos do arroz no Brasil, a Espanha – e Valência, em particular – tem se caracterizado por agregação de valor, seja pelo tradicional, através da Denominaciò d’Origen del Arrós Valencià, seja pelo moderno, com o desenvolvimento de tecnologias próprias, adequadas às variedades locais, com arroz de cozimento rápido, arroz com aroma, com arroz de características funcionais e com pratos preparados.

Al final y al cabo, o importante é que os consumidores estão dispostos a pagar mais pelo arroz de Valência. A região leva “medalha de prata” na produção, mas mantém a “medalha de ouro” no “PIB arroz”. 

Enquanto isso, no Brasil, a baixa agregação de valor tem deixado o pódio vazio!

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