Estava indo tão bem
Plantio em tempo recorde,
literalmente, foi por água abaixo no Rio Grande
do Sul nesta safra.
A velocidade com que os arrozeiros gaúchos avançavam nas operações de plantio na safra 2016/17 até meados de outubro passado impressionava. Toda a semana o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e a Emater/RS confirmavam números jamais alcançados de área semeada, o que gerou a euforia de que a atual temporada – mantida aquela tendência – seria semeada e colhida em tempo recorde. Mas daí vieram os temporais a partir de 15 de outubro e boa parte das lavouras voltou a viver o drama do alagamento por enchentes e das enxurradas que destruíram taipas, canais de irrigação e de drenagem, acessos e estruturas de lavouras.
Perto de 100 mil hectares tiveram danos mais sérios e ao menos 70 mil devem ser replantados. Com as chuvaradas de outubro e início de novembro, poucos produtores puderam entrar nas lavouras até os dias 7 e 8 de novembro e a estimativa é de que 20% da lavoura gaúcha, ou 220 mil hectares, seja cultivada fora da época recomendada pela pesquisa. Sem contar as áreas replantadas. “Sem dúvida, os indicativos iniciais eram bem promissores e, para uma lavoura que vem de redução de área, de produtividade e de renda em 2015/16, a notícia é muito negativa”, explica o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles. O atraso, que com a área a ser replantada pode passar de 250 mil hectares, representa uma lavoura mais cara e de menor potencial produtivo. “Há inúmeros trabalhos comprovando isso”, acrescenta.
Daire Coutinho, presidente da Câmara Setorial do Arroz, lembra que este também foi um ano de dificuldades de acesso ao crédito. “Muitos produtores não puderam acessar o crédito oficial e só conseguiram recursos pelas indústrias ou fornecedores de defensivos, e precisarão entregar o arroz colhido já na safra, onde a tendência é de preços mais baixos”, reconhece. Guri, Puitá (do Inta) e Irga 424 RI são as cultivares que devem prevalecer na área, com um avanço importante de variedades da RiceTec. O Irga e a Emater/RS projetam uma área cultivada de arroz de 1,094 milhão de hectares semeados nesta temporada, com avanço de 0,9% sobre a área passada. A produtividade deve ficar entre 8,2 e 8,3 milhões de toneladas.
FIQUE DE OLHO
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento, o Rio Grande do Sul vai colher mais de 1 milhão de toneladas acima do colhido na temporada passada. A estimativa é de uma colheita entre 8,258 e 8,630 milhões de toneladas, com avanço entre 12,3% e 17,3%. A área prevista gira entre 1 milhão e 1,150 milhão de hectares, o que pode representar uma queda de 2,3% ou um aumento de 6,9% a ser colhida sobre 1,076 milhão de hectares cultivados em 2015/16 pelos gaúchos. O rendimento, também em função do clima, do melhor aproveitamento das tecnologias e maior área semeada dentro da faixa ótima recomendada pela pesquisa, sobe 9,7%, para 7.503 quilos por hectare, diante dos 6.837 quilos gerados, em média, nas lavouras gaúchas no ciclo passado. A expectativa a partir de dezembro é de tempo mais firme pela transição entre um ano de clima normal e um fenômeno climático La Niña de baixa intensidade.