Estiagem grave no RS começa a impactar também os preços do arroz

 Estiagem grave no RS começa a impactar também os preços do arroz

Foto: Arquivo Revista Planeta Arroz

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/PlanetaArroz) Depois de bater no fundo do poço em dezembro, os preços do arroz no Rio Grande do Sul neste ano/safra 2021/22 (até 28 de fevereiro) começa a mostrar um cenário um pouco mais complexo. Produtores recuaram nas vendas, indústria e tradings avançaram em busca de alguns volumes e tipos específicos – alguns para retraírem até o pico de colheita – e o clima começou a figurar na conjuntura.

Vamos primeiro abordar o clima? Pois, então, o cenário da safra de verão no Rio Grande do Sul mudou completamente em pouco mais de 30 dias, quando o que pareciam ser reduções parciais e pontuais passaram a se confirmar como uma trágica perda global provocada pela forte estiagem. Os grãos de sequeiro e as pastagens/pecuária são os segmentos mais atingidos, mas o arroz irrigado começou a computar perdas mais significativas nas últimas semanas. Algumas áreas foram abandonadas em regiões como a Fronteira-Oeste, onde a situação é mais grave em São Borja e Massambará, e na Depressão Central – Candelária e Cachoeira do Sul (nesta, sete dos oito rios que cortam a região estão secos, restando apenas o Jacuí com vazão também inferior à sua média para a época).

Há áreas de soja e milho, em coxilha, sem capacidade de recuperação e em fase de encaminhamento dos seguros – que pagam entre 28 e 33 sacas de soja por hectare – frente à previsão de produtividade nula. A única região arrozeira que parece menos atingida é a Zona Sul, que teve um volume relativamente superior de chuvas, mas ainda assim vê reduzir o volume de água nas barragens e lagoas. As lavouras em floração e formação de grão (espigamento) também estão sendo atingidas pela onda histórica de calor, que gera esterilidade e grãos chochos ou quebrados.

E este fenômeno atinge o conjunto das lavouras gaúchas. Embora formalmente ninguém afirme, já é corrente que os danos pontuais previstos há duas semanas, se tornam generalizados dia-a-dia e isso poderá impactar de forma mais expressiva no resultado final da safra de verão, seja em quantidade seja em qualidade.

Ao natural, sabe-se que em anos de La Niña o Rio Grande do Sul e Santa Catarina colhem arroz irrigado muito bem. Entretanto, esta é a terceira temporada de seca seguida no RS, os lençóis freáticos estão baixos, as lagoas e barragens com grande evaporação (e salinidade nas águas das lagoas dos Patos e Mirim) e áreas sendo abandonadas. A “arrancada” do plantio já aconteceu com açudes que não conseguiram recuperar toda a sua capacidade de armazenamento em parte das regiões. Portanto, o estado colhe bem se La Niña chega com reservatórios cheios.

A evaporação e a falta de recarga, ainda que mínima, têm colaborado para comprometer o dimensionamento da água para a área que deveria ser irrigada. Para manter a irrigação mais perto dos canais, muitos produtores tiveram de abandonar áreas de arroz mais longe das valetas, que precisariam de mais um levante – e investimentos. As imagens são quase inacreditáveis.

Soja e milho poderão superar 50% de quebra no Rio Grande do Sul, o que apesar dos preços que podem ser recordes, já reduzirá a renda dos produtores cujas propriedades são diversificadas. Ou seja, a estratégia de vender soja, milho e boi no primeiro semestre e segurar o arroz, pode ser comprometida. Há casos de produtores colhendo milho muito bem em áreas de arroz, irrigadas, em sistema de sulco-camalhão. Mas, apenas exceções.

O preço do boi também deve ser impactado, mas no momento há produtores tentando se desfazer de parte dos rebanhos em função do alto custo da alimentação com silagem – que subiu de preço – e a baixa oferta. Alguns analistas já avaliam uma quebra, em arroz, de 3% a 5%, que pode ser ainda maior a cada dia que passa. Além da perda produtiva, a qualidade do grão é afetada pelas temperaturas acima dos 38ºC. Algumas regiões chegaram a beirar 42 graus e em solos de lavouras há marcas de até 65 graus.

Em todas as culturas, as perdas estão sendo ainda mais preocupantes em função do alto custo de produção desta temporada. Neste domingo, algumas chuvas pontuais foram registradas em alguns municípios da Planície Costeira Interna e na Depressão Central.

MERCADO

O clima é parte dos fatores que alteram a expectativa da semana sobre os preços do arroz. Nesta semana o mercado teve pequena valorização, seja pelo impacto psicológico da estiagem, seja pela retração dos agricultores que não estão interessados em ofertar. Associou-se ao fator climático, que está impactando o “psicológico” e gerando retração na oferta por parte dos produtores que ainda detêm estoques da safra passada e que esperam uma evolução de preços, uma maior demanda pelas indústrias, que aceitaram pagar um pouco mais diante do desinteresse dos agricultores.

Uma compra rápida de produto para exportação também movimentou Zona Sul, Campanha e Fronteira-Oeste com a venda de pequenos lotes. Na Fronteira-Oeste preocupa um pouco o nível de infestação de insetos nos silos para o arroz da “safra velha”, que é considerado alto e está exigindo investimentos em expurgo.

Os preços médios, segundo o Indicador do Arroz Esalq/Senar-RS, ficaram em R$ 62,90, com valorização no mês em 0,6% em moeda brasileira, mas 49 centavos de dólar em moeda norte-americana, alcançando equivalência/50kg em US$ 11,53. Mas, isso também está ligado ao câmbio brasileiro, uma vez que o Real vem valorizando frente ao Dólar. Janeiro iniciou com cotação de R$ 62,49, equivalente a US$ 11,04. Ainda assim, as cotações brasileiras continuam atraentes ao mercado internacional. O problema é que não há movimento de compra porque os grandes importadores da América Central e América do Sul estão abastecidos.

No mercado livre, raros e em pequenos volumes, negócios têm sido reportados por até R$ 68,00 colocados no porto, ou entre R$ 60,50 e R$ 62,00 livres. Indústrias fizeram um movimento de compra nos últimos dias e aceitaram pagar entre R$ 64,00 e R$ 66,00 para o produto posto em Pelotas e Camaquã, mas também em pequenos volumes. A expectativa é de que após este movimento, saiam do mercado para esperar a entrada da safra, buscando fazer média inferior.

Enquanto isso, algumas regiões como a Depressão Central, a Campanha e as Planícies Costeiras, mantêm média de preços – livre ao produtor – entre R$ 58,00 e R$ 60,00.

A tendência é de que os preços, ao longo desta semana se mantenham com leve valorização, podendo a média do indicador superar os R$ 63,00 por conta da retração dos agricultores em ofertar. Preocupados com a estiagem, o manejo e a manutenção das condições de suas lavouras, os rizicultores mais rentabilizados estão recebendo os compradores, mas sem sinalizar negociação abaixo dos patamares de R$ 65,00 a R$ 68,00, brutos. Da região Sul chegou informações de vendas de pequenos volumes acima dos R$ 70,00 (R$ 65,00 livres), mas para grão com 64×6 de variedades nobres.

CONSUMIDOR

Os preços ao consumidor se mantiveram estáveis nas capitais pesquisadas por Planeta Arroz, com mínimas registradas em torno de R$ 13,00 e máximas de R$ 42,00 para grãos considerados “extra” para o pacote de cinco quilos, branco, Tipo 1. As médias se mantiveram entre R$ 20,00 e R$ 21,00. Surpreende algumas marcas, recentemente envolvidas em polêmica, chegando ao Norte do Brasil com o fardo até R$ 14,00 abaixo da média das concorrentes. A quebra da safra de verão também vai influenciar muito na inflação de alimentos em 2022, elevando os custos ao consumidor, especialmente das proteínas, mas com possibilidade de reflexos também no arroz.

1 Comentário

  • Lá em agosto do ano passado escrevi aqui pedindo que reduzissem área e plantassem 20% menos pq haviam fortes indicios que teriamos um ano seco. Não. O que a maioria fez??? Foram lá e aumentaram a área. Tanto de arroz como de soja. É a ambição desmedida que acaba prejudicando o produtor! É preciso entender as variantes climáticas… Esse La Nina vai até abril desse ano. Poderemos então no próximo ano um evento de El Nino… Entretanto, o que se vê é a maioria do pessoal virando terras nas várzeas. Vão plantar várzeas próximas aos grandes rios por quê? Prá perder de 10 a 20% da área de novo? Aliás sabendo-se que produzindo área os preços despencam porque plantam área cheia? A grande industria está trazendo arroz uruguaio a U$ 14 para não deixarem os nossos preços subirem! Pagam R$ 80 pros hermanos! Se a TEC voltasse ao normal teriamos outro cenário de mercado… Mas parece q até arroz guiano fedido tipo 5 vão trazer! O arrozeiro só se ferra…

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