Estoques de arroz são os mais baixos em dez anos
Volume do grão disponível em fevereiro de 2019 será suficiente para atender à demanda nacional por apenas dez dias.
Os estoques de arroz do ano comercial de 2018, que começou em março e se encerra em fevereiro de 2019, são os mais baixos dos últimos dez anos. A afirmação é do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles. Ele confirma a projeção feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no último dia 10, de que o volume final do grão armazenado vai baixar para 321 mil toneladas, quantidade que será suficiente para atender a demanda nacional por apenas dez dias. Dornelles frisa que é uma situação de atenção, mas que a produção sempre foi estável no Rio Grande do Sul. Por isso, entende que não há motivos para preocupação com desabastecimento.
O presidente da Federarroz vê como único motivo de alerta no momento o fato de que, em função do clima – inverno gaúcho muito chuvoso –, há pouquíssimas áreas preparadas para plantio. “Estamos nos aproximando de setembro, período em que começa o plantio, e poucas áreas estão preparadas e aptas para a atividade. Isso tudo pode se reverter, mas precisamos que, daqui para frente, o clima colabore”, salienta. Ele explica que as chuvas que têm ocorrido são de baixos volumes, não ajudando a encher as barragens mas impedindo o produtor de trabalhar no solo.
O diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Tiago Barata, diz que a Conab, trabalhando em relatório de dois meses atrás, fez correções na posição do estoque inicial, que é referente a março do ano comercial de 2018, e já reduziu muito o volume: de 1,3 milhão para 700 mil toneladas. E em função da safra brasileira e da estimativa do que vai ser importado, exportado e consumido, projeta um estoque ainda mais baixo em fevereiro, de cerca de 300 mil toneladas. Conforme Tiago Barata, essa posição final de estoque é consequência do que deve ocorrer ao longo do ano. “Então, muita coisa pode acontecer daqui para a frente”, observa.
Barata salienta que independente de ser R$ 100 mil a mais ou a menos do que o volume projetado pela Conab, há convicção de que este será um ano de enxugamento da disponibilidade de produto e de oferta de arroz muito ajustada à necessidade de consumo brasileiro. Quanto à possibilidade de impacto desse fato na inflação, o diretor comercial do Irga diz que o mercado se regula e que se os estoques forem insuficientes para atender à demanda, o Brasil aumenta as importações, como já ocorreu várias vezes. “O Brasil, inclusive, importa sem ter necessidade porque tem produto no mercado interno. Então, se precisar, vai fazer”, completa.
Preço para o produtor aumenta desde abril
Os preços do arroz para o produtor, que vinha reclamando do recebimento de valor abaixo do mínimo (R$ 36,00) e do custo de produção, vêm apresentando recuperação desde abril deste ano comercial. A saca de 50 quilos agora está valendo de R$ 42,00. E este aumento é o primeiro sinal de estoques baixos, segundo o coordenador da Comissão do Arroz da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, Francisco Schardong.
O diretor comercial do Irga, Tiago Barata, avalia que o preço do cereal está melhorando, mas ainda longe do ideal, pois não cobre o custo de produção (R$ 45,00 a saca). Conforme ele, poucos orizicultores ainda têm arroz para vender e aproveitar a valorização do grão. “Grande parte dos produtores não tem condições de esperar para vender o produto no melhor momento porque precisa pagar as dívidas”, acrescenta.
O presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, estima que apenas 30% dos produtores poderão usufruir dos valores superiores aos que vinham sendo praticados. Para o consumidor, o preço segue o mesmo no momento, segundo Schardong, pois os produtos que estão nas gôndolas ainda são os adquiridos há mais tempo.
Cesta básica
No cálculo da cesta básica nacional, feito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), não foi verificado até o momento aumento significativo de preço do arroz para o consumidor. De acordo com o professor de Economia e coordenador da pesquisa, Silvio Arend, no último mês, pelo levantamento da Unisc, o preço deste cereal para o consumidor baixou 6,4%. No início de junho o preço médio estava em R$ 6,76 (2 quilos) e, no começo de julho, era de R$ 6,33. O custo de 2 quilos de arroz era de R$ 6,65 em maio e, de janeiro a março, estava na faixa de R$ 7,15.
A variação não é tão grande, segundo Silvio Arend, tendo reduzido nos últimos meses em razão da entrada no mercado do produto da nova safra. A participação do arroz na cesta básica em Santa Cruz do Sul não é significativa: foi de aproximadamente 2,74% do gasto da Cesta de julho, que atingiu R$ 346,12. O cereal não é um componente que pese no custo total da cesta básica nacional. Carne bovina, pão francês, leite tipo C e feijão preto têm maior participação no custo da cesta básica.