Evolução da sustentabilidade na irrigação da cultura do arroz
Figura 1. Manejo da irrigação contínua no cultivo de arroz irrigado na região tropical, município de Lagoa da Confusão, no Tocantins. Foto: Alberto Baêta dos Santos
Entre 1990 e 2023, a área cultivada com arroz irrigado na região subtropical aumentou de 0,83 para 1,00 milhão de ha, ao passo que na região tropical diminuiu de 0,27 para 0,15 milhão de ha. Nesse período, a produção aumentou, respectivamente, de 4,25 para 8,53 milhões de toneladas e de 0,80 para 0,90 milhão de toneladas nas duas regiões produtoras, subtropical e tropical, resultado da maior produtividade de grãos.
Esse aumento, especialmente na região tropical, se deve à melhor gestão dos recursos de produção em razão da profissionalização no campo, tanto nos aspectos técnicos como administrativos, e avanços tecnológicos da pesquisa, o que possibilitou elevar a produtividade de grãos com menor impacto ao ambiente, sem expansão expressiva da área cultivada. Essa conquista em incrementos de produtividade do arroz, especialmente, explica-se pelo zelo dos produtores na condução do sistema de produção, com racionalização dos fatores de produção.
As tecnologias adotadas propiciam aumentar a rentabilidade do produtor, com preservação do ambiente produtivo, e ampliar a estabilidade da oferta de arroz para os consumidores. Entre essas tecnologias, destacam-se as de manejo da cultura que permitem reduzir a quantidade de água aplicada.
Em todo o mundo, os sistemas de cultivo enfrentam o desafio de obter produtividades mais elevadas com menos água. Como a demanda por arroz é crescente, em razão do contínuo aumento da população, é necessário produzir mais arroz com menos água, ou seja, obter um uso eficiente da água na lavoura de arroz. O sistema de irrigação tradicionalmente usado no cultivo de arroz irrigado é o de inundação contínua ou permanente, que se caracteriza pela manutenção de uma lâmina de água durante quase todo o ciclo da cultura. Com isso, a demanda por água é grande.
Dessa maneira, a racionalização do uso de água é fundamental para produzir arroz de maneira sustentável mediante à redução da pegada hídrica e de carbono do sistema de produção. Assim, novos manejos de água em substituição ao convencional de irrigação por inundação contínua, usado na década de 1990, têm sido adotados. No RS, a irrigação por inundação com fornecimento intermitente de água é um sistema alternativo à irrigação tradicionalmente utilizada. Outra estratégia que tem trazido bons resultados é a utilização de irrigação por aspersão para irrigar a cultura do arroz nesse estado. Pelas características do solo e do sistema de manejo, pode-se economizar até cerca de 50% do uso de água sem comprometer a produtividade.
Alternativa para a redução do uso da água foi o desenvolvimento de cultivares mais produtivas, precoces e adaptadas a cada região de cultivo. A precocidade reduz a necessidade de irrigação, permitindo economizar nos custos com recursos hídricos e energia. Cultivares adaptadas aos sistemas produtivos tendem a se encaixar melhor nas janelas de plantio, frequentemente na época das chuvas durante os meses de verão, com maior tolerância a doenças, o que resulta em maior produtividade de grãos com a mesma quantidade de água aplicada.
A evolução na sistematização das lavouras contribui também para a economia de água. A sistematização com declividade variada ou suavização consiste na adequação da superfície do terreno para facilitar o manejo da água, tanto a drenagem superficial quanto a irrigação. Ela difere da sistematização convencional pelo fato de movimentar menos o solo, ser mais econômica e agredir menos o ambiente.
Como resultado dessas tecnologias, a necessidade de água para suprir a lavoura de arroz no RS, que era de 10 a 14 mil m-3 ha na década de 1990, para um período médio de irrigação de 80 a 100 dias, foi reduzida para seis a 12 mil m-3 ha.
Em grande parte da área cultivada com arroz irrigado no TO, a irrigação contínua, com lâmina d’água (figura 1), foi substituída pelo método de irrigação intermitente, em que se produz com o solo saturado (figura 2). Esse manejo da irrigação propicia produtividade média de grãos das cultivares de arroz irrigado similar ou superior em até 16% ao manejo tradicional de água com inundação contínua ou permanente e com redução de até 82% do volume de água aplicado, o que resulta em uso mais eficiente da água. Esse manejo pode reduzir a emissão de metano, diminuindo assim o potencial de aquecimento global e a intensidade dos gases de efeito estufa.
Resultados recentes da Embrapa Arroz e Feijão constataram que a implementação da irrigação por inundação intermitente contribuiu para a redução no abastecimento de água sem comprometer o desempenho fisiológico do arroz tropical irrigado. Assim, as estratégias que promovem a utilização criteriosa da água, como a manutenção do solo saturado e a inundação intermitente ao longo do ciclo, podem ser prontamente integradas ao cultivo do arroz irrigado tropical sem prejuízo à produtividade de grãos ou ao índice de colheita.
Luís Fernando Stone, Alberto Baêta dos Santos, Alcido Elenor Wander
Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão.