Evolução e desafios do controle de plantas daninhas em arroz irrigado

 Evolução e desafios do controle de  plantas daninhas em arroz irrigado

 A evolução do controle de plantas daninhas se deu na década de 90 com a entrada dos herbicidas do grupo químico ALS e a adoção gradual pelos produtores. Os herbicidas deste grupo apresentavam excelente performance, amplo espectro de ação e doses relativamente baixas.

Devido a isso, a taxa de utilização unicamente destes herbicidas se deu em grande escala. O Reflexo disto, veio alguns anos depois com o surgimento de espécies resistentes aos herbicidas. Segundo levantamento realizado pelo Dr. Ian Heap, (Weed Scienc 2019), as principais espécies de plantas daninhas da cultura do arroz, adquiriram resistência aos herbicidas do Grupo químico dos ALS devido a sua frequência de uso (Quadro 1).

No entanto, nas últimas duas décadas, a lavoura arrozeira passou por várias transformações, uma delas foi a adoções de melhores práticas de manejo relacionadas a época de semeadura, irrigação, densidade de plantas, adubação e utilização de novas cultivares, com maior potencial produtivo e capacidade competitiva.

Junto a isso, ocorreu a introdução do Sistema Clearfield que possibilitou o aumento de produtividade de grãos devido ao controle seletivo do arroz vermelho com o uso de cultivares com mutação genética e a utilização de herbicida para o controle seletivo do arroz vermelho. Através deste sistema e do uso de práticas de manejo recomenda pelo Projeto 10 (Irga) que visavam o aumento de produtividade possibilitou o aumento na produtividade média do estado (Figura 1)

No entanto, podemos observar que até os anos de 2010, houve crescimento na produtividade, e após isso, ocorreu a estagnação na produtividade média do estado. Parte disto se deve a crescente dificuldade do controle de plantas daninhas, até este momento a principal dificuldade de controle era apenas do arroz vermelho, posteriormente a isso, ocorreu o surgimento de novas espécies resistentes.

Devido a frequente utilização dos herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, o aumento das doses utilizadas, a falta de controle de escapes, a monocultura e o uso de sementes de baixa qualidade, contribuíram para a multiplicação dos casos de resistência. A consequência disso, foi o aumento do custo produtivo devido a perda silenciosa de produtividade em virtude do maior desembolso para o controle, e por perdas de produtividade devido a competição entre plantas.

Atualmente uma ferramenta fundamental para controle de plantas daninhas é a rotação de culturas e sistemas produtivos. Vemos que produtores que estão conseguindo superar os desafios de implementar culturas como a soja, sorgo, milho e pecuária estão na vanguarda da produtividade, conseguindo minimizar os problemas de plantas daninhas.

TENDÊNCIAS E DESAFIOS

Com o passar dos anos vemos que a rotação de cultura nas áreas de arroz é fundamental para viabilizar a rentabilidade, diminuir os riscos e garantir a permanência do produtor no campo. No entanto, existe muitos desafios a serem superados, vemos que para a rotação de cultura em terras baixas é muito dependente das características química e física do solo, principalmente no que diz respeito à drenagem e descompactação do solo.

Atualmente, temos nas terras baixas muitas plantas daninhas resistentes, e em algumas regiões começa a surgir novas espécies resistentes devido a introdução de novas culturas ou práticas de manejo. O sistema de rotação permite a utilização de outros mecanismos de ação de herbicidas, benéfico para manejar as espécies resistentes. Porém, o mau uso destas ferramentas, pode agravar o cenário atual. Exemplo disso, é o excesso da utilização de glifosato em soja nas áreas de rotação com arroz, o que está proporcionando alta pressão de seleção para biotipos de arroz vermelho e capim arroz resistentes ao glifosato (Foto 1).

Plantas de arroz vermelho e capim arroz em soja após aplicação de glifosato  

Neste sentido, a dificuldade existente é a velocidade que novos modos de ação são descobertos e introduzidos no mercado. A última descoberta ocorreu em 2019, sendo a primeira nova classificação de modo de ação de herbicida dos últimos 35 anos, o qual foi descoberto e lançado pela BASF na Austrália.

Isso mostra a dificuldade da descoberta de novas ferramentas para o controle químico. Desta forma, temos que explorar melhor as potencialidades, como a diversificação de sistema de cultivo, rotação de culturas, com boas práticas agrícolas e uso equilibrado dos herbicidas, buscando sempre a rotação de grupos químicos, a qualificação da mão de obra, profissionalização do sistema produtivo são ferramentas fundamentais no crescimento da orizicultura.

Novas tecnologias estão sendo anunciadas como exemplo do Sistema Provisia, o que permitirá o controle seletivo do arroz vermelho com um mecanismo de ação diferente do Sistema Clearfield. Este sistema trará a viabilização de uso de áreas infestadas com arroz vermelho e capim arroz resistente aos ALS, e assim, novos patamares de produtividade.

As pesquisas indicam que as novas tecnologias estarão alicerçadas em genética, biotecnologia, e agentes biológicos as quais associadas a agricultura digital e as boas práticas agrícolas como uso de doses e produtos registrados. Assim como, o conhecimento das espécies resistentes e suas possíveis resistências cruzadas ou múltiplas, permitirá que o produtor possa explorar ao máximo, o potencial dos herbicidas principalmente pensando no que diz respeito a resistência cruzada.

O conhecimento do nível de resistência em cada área será importante pois podemos ter dentro do mesmo grupo químico resistência a um herbicida e aos demais do mesmo grupo não. Exemplo disso é a resistência do capim arroz ao grupo químico Ariloxifenoxipropionatos (FOPs) e a inexistência de resistência desta espécie para o grupo químico ciclohexanodionas (DINs), sendo que os dois grupos pertencem ao mesmo modo de ação (Inbidores de ACCase).

Neste sentido o conhecimento do comportamento fisiológico da plantas daninhas associado ao uso de práticas de manejo adequadas para cada realidade, como por exemplo, o uso do rolo faca onde posiciona as sementes de arroz vermelho próximo a superfície (Foto 2) proporciona condições adequadas para as sementes germinar ou até mesmo perder viabilidade. Além disso, a antecipação da irrigação (Foto 3) possibilita melhor resposta ao combate as plantas daninhas resistentes devido ao uso mais eficiente dos herbicidas. Neste contexto, a ferramenta manejo de sistemas produtivos associado as ferramentas químicas serão fundamentais para o aumento das produtividades.

Desta forma com a crescente valorização do arroz associado a diversificação de sistemas, novas tecnologias, a introdução de novas cultivares e híbridos com alta produtividade, além do aproveitamento do sistema de irrigação do arroz para viabilizar a irrigação de outras culturas nas terras baixas mostra que existe a possibilidade de aumentar a rentabilidade das áreas da Metade Sul do Rio Grande do Sul.

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