Expectativa de safra recorde no Brasil
Autoria: Adriano Vendeth é consultor para a área orizíciola da empresa Solo Brazil (www.solobrazil.com.br).
O segundo levantamento da Conab reafirmou novamente a boa intenção de plantio de arroz para a safra 2003/2004. A pesquisa revela um aumento de 9% na semeadura na região Centro-sul, mais 50% na Bahia, 2% no Piauí, 3% no Maranhão, 7% no Tocantins e 22% em Rondônia. Até o momento, os levantamentos registram queda no plantio em regiões de pouca importância, tais como Paraná (-6%), Rio de Janeiro (-6%), Espírito Santo (-4%) e Mato Grosso do Sul (-1%). No Centro-oeste a semeadura cresce quase 15%, com destaque ao Mato Grosso (19%). Na região Sul a Conab levantou um acréscimo de 6,2%, sendo 7% no Rio Grande do Sul e 7% em Santa Catarina.
Nesse levantamento, a Conab estimou uma área de 1,028 milhão de hectares no Rio Grande do Sul(+7%), a produtividade esperada em 5.550 quilos/hectare (+13,5%) e a produção em 5,703 milhões de toneladas (+21%). O Irga registrava a área local em 1,041 milhão de hectares (+9%), acreditando em uma produtividade média de até 5.700 kg/ ha, ensejando uma produção de até 5,9 milhões de toneladas. Todavia, após as enchentes e chuvas em excesso de dezembro, readequou a área para 1,031 milhão de hectares. Ainda assim, haveria um acréscimo de 5,84% na área sobre a safra anterior.
As pesquisas confirmam uma área absolutamente recorde no Rio Grande do Sul. A variável mais importante a partir de agora passa a ser o potencial produtivo das lavouras locais. A estimativa de produtividade considerada pela Conab é cautelosa, referindo-se à média histórica dos últimos cinco anos no estado. O potencial divulgado pelo Irga é certamente mais arrojado, porém amplamente possível de ser atingido.
Os gaúchos já conseguiram uma produtividade média de 5.840 kg/ha no ano de 1999. Em 2001, a produtividade local fechou em 5.615 kg/ha, e em 2002 em quase 5.690 kg/ ha. Estes foram os melhores anos. Obviamente que as condições climáticas nesta safra podem fazer a diferença. Por enquanto, é realmente prudente considerar a modesta produção de 5,7 milhões de toneladas projetada pela Conab ou até 5,8 milhões de toneladas se considerarmos a relação entre a produtividade histÛrica local e a ·rea esperada pelo Irga. Este patamar possível também pode ser considerado recorde no Rio Grande do Sul, já que a maior oferta de arroz aconteceu em 1999, quando os gaúchos produziram 5,650 milhões de toneladas.
Portanto, podemos trabalhar com a hipótese de um aumento de oferta próximo de um milhão de toneladas no estado gaúcho em 2004, correspondendo por enquanto a cerca de 70% do possível crescimento da safra nacional. O avanço de plantio e oferta no Rio Grande do Sul é, sem dúvida, o mais decisivo para o desenrolar do mercado no próximo ano, pois continuará sendo a principal região de abastecimento para as demais deficitárias do grão e com grandes dificuldades de importação.
O levantamento da Conab sinaliza uma intenção de plantio maior em todas as principais regiões produtoras. Na região Sul a produção de arroz pode crescer 18% ou 1,066 milhão de toneladas, quase tudo concentrado no Rio Grande do Sul. No Centro-oeste a oferta pode subir quase 15% ou cerca de 260 mil toneladas, em grande parte no Mato Grosso. E finalmente no Sudeste, a produção pode ser maior em apenas 20 mil toneladas, com pouca influência sobre o contexto nacional.
Para as regiões Norte e Nordeste ainda é cedo para se definir com certa precisão o potencial para o próximo ano. A própria Conab projeta um volume próximo de 2,5 milhões de toneladas nessas regiões, mas certamente poderá ser maior. Com condições climáticas excepcionais, essas regiões podem produzir juntas algo em torno de 2,8 milhões de toneladas.
A safra brasileira de 2004 está assim estimada pelo órgão em quase 11,8 milhões de toneladas, contra 10,4 milhões produzidas neste ano. O volume projetado é muito próximo do registrado em 1999. Por isso, a nova safra brasileira também pode ser recorde, dependendo exclusivamente das condições climáticas. Recente estimativa do IBGE indica a safra de arroz do próximo ano em 11,880 milhões de toneladas (+16,7%), já considerada potencialmente recorde. Os números do IBGE, tais como os da Conab, não abrangem a maior parte das regiões Norte e Nordeste, repetindo os valores de 2003.
O segundo levantamento do IBGE aponta uma ampliação de 9,7% na semeadura com arroz e de 5,9% na produtividade esperada nas regiões pesquisadas. Na verdade, os números da Conab e do IBGE são bastante divergentes, mas chegam a um montante total de oferta muito semelhante para 2004 e que certamente induz expectativas de uma possível redução considerável nos preços. Considerando a demanda anual de 12,740 milhões de toneladas proposta pela Conab, chega-se a um provável déficit de oferta de um milhão de toneladas para 2004, provavelmente entre 40% a 50% inferior ao déficit ocorrido em 2003. Para uma demanda externa superior a 1,5 milhão de toneladas, o Brasil já importou quase 1,120 milhão até novembro, sendo pelo menos 35% dos EUA, 3% da Tailândia e quase 1% do Vietnã. Do próprio Mercosul se originou 60% das compras externas até o momento, índice este que deve novamente aumentar em 2004 com a recuperação do potencial exportador no Uruguai e na Argentina.