Exportar é estratégico!

 Exportar é estratégico!

 Lúcio do Prado, diretor técnico e comercial da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), cumpre papel estratégico no governo do Rio Grande do Sul e também para a cadeia produtiva do arroz. Com carreira política em Alegrete, onde já foi candidato a prefeito, tem vasta experiência como empresário. Trabalhou na Assembleia Legislativa e, entre outras entidades, presidiu a Associação dos Jovens Empresários do Estado do Rio Grande do Sul. Na Cesa, precisa fazer funcionar uma estrutura há muito sem manutenção, precária, em alguns casos obsoleta, com dívidas históricas e considerada um dos elefantes brancos da administração estadual. No momento, faz uma transição em busca de viabilidade de algumas unidades armazenadoras no estado, a privatização de outras, mas concentra esforços na unidade do Porto de Rio Grande, que é vital para a orizicultura gaúcha e as exportações. Planeta Arroz o entrevistou sobre o momento da Cesa e da unidade de Rio Grande.

Planeta Arroz – Em primeiro lugar, poderia fazer uma breve explanação sobre a situação da Cesa?
Lúcio do Prado – Acumulou dívidas que chegaram a R$ 400 milhões ao longo de décadas, tornou-se deficitária, as estruturas não tiveram a devida atenção, mas vem evoluindo em diversos acordos importantes nos últimos anos. A dívida, paulatinamente, por meio de acordos e um plano de negócios, está sendo amortizada, reduzida, negociada. Conseguimos uma importante vitória na Assembleia Legislativa ao liberar a venda de unidades sem plebiscito e o Estado está se esforçando para encontrar soluções. Estamos tentando sanear as finanças dentro do que é possível, enxugar a estrutura e usar parte do patrimônio hoje ocioso ou gerando dívidas como meio de viabilizá-la. Há unidades saudáveis, mas o conjunto e o histórico de endividamento pesam muito.

Planeta Arroz – Há solução?
Lúcio do Prado – Sim. Estamos avançando num acordo na Justiça do Trabalho para o enxugamento da autarquia liberando as unidades de penhora em ações trabalhistas. Vamos quitar 40% deste valor em seis anos com os trabalhadores, que são também a história da Cesa. Será possível, então, desbloquear esse patrimônio, buscar negociação das unidades desativadas, depois as deficitárias, locar algumas, buscar parcerias, vender outras, dar algumas em pagamento de dívidas e ficar com aquelas que dão resultados, são estratégicas. Essa tem sido a orientação do governador José Ivo Sartori e do presidente Carlos Kerchner.

Planeta Arroz – A privatização é irreversível?
Lúcio do Prado – O governo e o contribuinte gaúcho não têm porque manterem uma estrutura que dá prejuízos. Essa capacidade armazenadora será transferida à iniciativa privada sem prejuízo ao agronegócio. Unidades estratégicas serão mantidas até formarmos parcerias robustas.

Planeta Arroz – Que unidades serão negociadas?
Lúcio do Prado – Vamos seguir um cronograma que começa com unidades desativadas, depois as deficitárias e não estratégicas. Estação, Nova Prata, Passo Fundo e Santa Bárbara do Sul estão entre as prioritárias. Vamos fechar parcerias público-privadas em algumas, como Cruz Alta, Júlio de Castilhos, Santa Rosa e Palmeira das Missões. Locamos a unidade de São Luiz Gonzaga.

Planeta Arroz – Qual o destino das unidades da zona arrozeira?
Lúcio do Prado – Temos estruturas deficitárias em Cachoeira do Sul, Bagé e São Gabriel. Nas últimas há negócios já pra safra de soja e arroz. Camaquã passou por investimentos e foi ampliada para 1 milhão de sacas. Há outros interessados. Estamos oferecendo condições especiais e aceitando propostas para viabilizar negócios, como descontos nas tarifas de armazenagem de grãos. Será importante ao produtor que não quiser vender a safra imediatamente e não tem como armazenar seus grãos.

Planeta Arroz – Alguma dessas estruturas é mais atraente?
Lúcio do Prado – A de Cachoeira do Sul, que tem capacidade para 68 mil toneladas. Acho estratégica. Está num ponto central do estado que se tornou grande produtor de soja, tradicional produtor de arroz, à beira do Rio Jacuí, num lugar que tem calado e a estrutura básica para carregar navios. Alguns grupos que pretendem usar o rio para transporte da soja e arroz têm sondado a estrutura, mas as conversas não evoluíram. Temos interesse em parceiros para esta unidade – além das outras – em especial porque reúne características distintas.

Planeta Arroz – Para o arroz, a mais estratégica é de Rio Grande!
Lúcio do Prado – É! Em 2014 houve uma notificação do Ministério do Trabalho exigindo adequações na unidade. Elas não foram feitas. Fizemos umas reformas, adaptações que foram solicitadas pela cadeia produtiva para a armazenagem de quebrados de arroz para exportação, mas as notificações mais antigas não chegaram a nós. O ministério queria uma análise de risco de explosão do pó. Somente três empresas fazem isso no Brasil e custa mais de R$ 50 mil. Não foi feita porque os pedidos se perderam no governo passado. Em outubro a estrutura foi interditada pela fiscalização do MTb e tínhamos navios para carregar. No início de novembro conseguimos um acordo com o ministério para voltarmos a receber produtos naquela unidade e acertamos que vamos realizar a licitação em regime de urgência. É o único terminal que exporta exclusivamente arroz.

Planeta Arroz – Mas, estava em reforma. Já terminou?
Lúcio do Prado – Sim. Fizemos adequações pedidas pelo setor aproveitando o início da ampliação do cais do Porto Novo. O problema é que o canteiro de obras é todo na nossa área. É preciso negociar a entrada e saída das cargas, não há espaço para manobra, ficou tudo muito complexo. Continuamos operando até a interdição do Ministério do Trabalho, mas com dificuldade. Agora tenho uma reunião agendada para tratar da retirada do canteiro de obras desse espaço.

Planeta Arroz – Os carregamentos voltaram ao normal?
Lúcio do Prado – Sim. Carregamos de dois a três navios por mês. O problema é que o prazo para conclusão da obra do cais é fevereiro. Esse canteiro de obras atrapalha. Precisamos carregar caçamba na Cesa e levar até o superporto. Tenho uma reunião na Superintendência Especial de Portos para pedir a retirada do canteiro.

Planeta Arroz – Então, haverá investimentos?
Lúcio do Prado – Vamos instalar um ship loader em parceria com a iniciativa privada. Precisamos resolver a questão do Ministério do Trabalho, liberar a área e definir o tipo de equipamento que será instalado. Levamos de 90 a 100 dias para isso, a tempo da próxima safra, espero, em condições mais competitivas. Com a segunda correia transportadora, a capacidade de carregamento passa de 500 toneladas/hora para mais de mil toneladas/hora. Há melhorias no recebimento, embaixo do tombador instalado para suprir o descarregamento manual que ocorria antes, passando de 50 para 300 toneladas/hora.

Planeta Arroz – Isso seria um grande salto…
Lúcio do Prado – Sem dúvida. Exportar é preciso, é estratégico para a cadeia produtiva e para manter o equilíbrio nos preços. O papel desta unidade é fundamental. Claro que há outros fatores, como o câmbio, a disponibilidade de grão, que podem interferir. Mas podemos ter a capacidade de exportar 2, 3 milhões de toneladas ao ano. O mundo precisa de alimentos e o Brasil é apto a produzir.

Planeta Arroz – Mas hoje a unidade se resume a exportar quebrados.
Lúcio do Prado – Estamos cumprindo os contratos existentes, as exportações enfraqueceram em função do câmbio, mas veja bem: esse embarque de quebrados movimenta de 300 mil a 450 mil toneladas por ano, a indústria agrega valor. E passa pela Cesa. Ainda temos a possibilidade de ampliar a área de retaguarda, instalando um pulmão de até 100 mil toneladas se houver demanda.

Planeta Arroz – O senhor tem contatos com a cadeia arrozeira?
Lúcio do Prado – Sempre. Falo com o Henrique Dornelles, da Federarroz, com os operadores, temos demandas em um relatório de indicações dos agentes de mercado para o uso da unidade de Rio Grande. Somos parceiros. Não só em Rio Grande, mas principalmente ali, pois trata-se de uma estrutura vital para o arroz gaúcho e queremos transformá-la na grande porta de saída deste cereal para o mundo. É fundamental para manter nossa presença internacional e dar competitividade à nossa lavoura. Logística é um problema e estamos resolvendo, devagar, mas resolvendo com boa vontade e diálogo.

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