Fecoagro revela que 65% das entidades filiadas não têm a menor liquidez financeira

A Fecoagro apresentou o relatório econômico e financeiro das 60 cooperativas filiadas.

O caos financeiro que ainda assombra as duas principais cooperativas agrícolas de Cachoeira do Sul (Coriscal e Cotricasul) é uma situação comum para a maioria das cooperativas do setor agropecuário do Rio Grande do Sul. A federação dessas entidades, a Fecoagro, apresentou no mês passado o relatório econômico e financeiro das 60 cooperativas filiadas.

O documento revela o drama dessas empresas que movimentaram pouco mais de 2,5 bilhões de dólares em 2006 e que somam 180,5 mil produtores associados. O dado mais preocupante é que 65% das cooperativas não têm liquidez financeira, ou seja, 39 das maiores entidades do agronegócio gaúcho não têm condições de liquidar todas as dívidas em um curto prazo.

Entre as cooperativas sem liquidez financeira estão a Cooperativa Agrícola Cachoeirense (Coriscal) e a Cooperativa Tritícola de Cachoeira do Sul (Cotricasul), ambas em autoliquidação, nas piores colocações do ranking. Segundo o relatório da Fecoagro, a Cotricasul apresentava em 2006 a pior situação, com apenas R$ 0,22 no caixa para pagar cada R$ 1,00 de dívida. A Coriscal aparece na terceira pior posição, com apenas R$ 0,31 para pagar cada R$ 1,00.

Até mesmo a Cotrijuí, de Ijuí, que pelo terceiro ano consecutivo teve o maior ingresso de receita (220 milhões de dólares), está entre as sem liquidez. A Cotrijuí tem R$ 0,71 para pagar cada R$ 1,00 de dívidas.

A frustração das safras causada pela estiagem ou pela baixa cotação da produção é apontada como principal motivo para o caos financeiro das cooperativas, já que essas entidades acabaram financiando os produtores rurais que estavam sem crédito e não tiveram como pegar recursos nos bancos para custeio da lavoura. É por isso que a Cotricasul e a Coriscal têm a maior parte de suas dívidas com os próprios associados inadimplentes.

CONCORRÊNCIA – O presidente da Fecoagro, Rui Polidoro Pinto, preferiu não comentar o desempenho econômico e financeiro das cooperativas. Segundo ele, o relatório da federação deve ser usado para ajudar em definições estratégicas, pois mostra muitos comparativos.

O ex-presidente da Cotricasul, Nelson Schramm Júnior, membro do conselho administrativo da Fecoagro, disse que os dados não devem ser usados para estimular a concorrência entre as cooperativas e que a maior parte das informações deveria ficar restrita aos dirigentes para consumo interno das entidades.

Na Cotricasul, o relatório não chegou a ser analisado pelo atual liquidante Carlos Inácio Trindade.

– Sei das nossas dificuldades e estou trabalhando para podermos andar com nossas pernas – resumiu Trindade.

Na Coriscal, o relatório foi analisado pelos liquidantes e arquivado. Segundo Kurt Lovenhaupt, os dados não revelam a atual realidade da cooperativa.

– Nossa atual situação é bem melhor do que a apresentada no relatório – afirmou Kurt.

UMA PERGUNTA

Os dados do relatório da Fecoagro são fidedignos?
Em tese sim. Os números são levantados pelas diretorias das cooperativas e encaminhados para a federação, que faz as tabelas comparativas e devolve para as entidades o relatório, uma espécie de anuário das contas. Os números devem ser analisados com reservas, já que erros ou maquiagem nos dados podem passar despercebidos pela federação. Um especialista no assunto foi consultado pela reportagem e estranhou os dados referentes ao patrimônio da Cotricasul entre 2005 e 2006, quando a entidade teria perdido 463% dos seus bens. Pela contabilidade apresentada no relatório, a Cotricasul deixou de ter em 2005 um patrimônio líquido de 1,3 milhão de dólares para ficar com um passivo de 4,7 milhões de dólares.

OS NÚMEROS

Fecoagro

62 cooperativas filiadas
180,5 mil associados
42% do PIB gaúcho está no agronegócio
9% do PIB do agronegócio está nas cooperativas agropecuárias

Faturamento das 60 cooperativas da Fecoagro (em dólares)

2004 = 2,33 bilhões
2005 = 2,06 bilhões
2006 = 2,58 bilhões

Faturamento da Coriscal
(em dólares)

2004 = 10.512.141
2005 = 13.725.452
2006 = 15.809.263

Faturamento da Cotricasul
(em dólares)

2004 = 15.632.545
2005 = 13.145.268
2006 = 11.590.767

Patrimônio líquido das 60 cooperativas da Fecoagro (em dólar)

2004 = 412,07 bilhões
2005 = 446,84 bilhões
2006 = 498,02 bilhões

Patrimônio líquido da Coriscal
(em dólares)

2004 = 3.429.322
2005 = 2.857.786 (-16,6%)
2006 = 462.332 (-83,8%)

Patrimônio líquido Cotricasul
(em dólares)

2004 = 1.035.804
2005 = 1.301.183 (+25,6%)
2006 = – 4.733.622 (-463,7%)

Importante

No ranking das cooperativas que mais tiveram ingresso de receita, em 2006, a Coriscal aparece na 36ª posição e a Cotricasul na 40ª. A primeira do ranking é a Cotrijuí, com 220,7 milhões de dólares de faturamento em 2006. No topo do ranking, as oito primeiras (Cotrijuí, Cotrimaio, Cotrijal, Cotrisal/SR, Cosuel, Cotripal, Coolan e Cotrigo) tiveram receita superior a 100 milhões de dólares. A Coriscal teve 15,8 milhões de dólares de faturamento e a Cotricasul, 11,6 milhões de dólares.

O QUADRO

Situação da Cotricasul

COTRICASUL

Potencial de liquidez

Analisando o potencial de liquidez das cooperativas, a Cotricasul teve nos últimos três anos o pior desempenho de todas as 60 entidades:

Em 2004, a Cotricasul aparecia na lista das auto-suficientes, com R$ 1,01 de recursos para quitar a curto prazo cada dívida de R$ 1,00

No ano seguinte, em 2005, a relação foi de R$ 0,90 para cada R$ 1,00

A queda drástica, de 75,5% na capacidade de liquidez, foi constatada no último ano, quando sobraram apenas R$ 0,22 para pagar cada R$ 1,00 de conta

Caixa

Nos três anos de análise do relatório da Fepagro, a Cotricasul sempre esteve sem caixa para liquidar as contas. A queda mais significativa no caixa também aconteceu no último ano:

Em 2005, a Cotricasul tinha R$ 0,69 para pagar cada R$ 1,00

No ano passado, o caixa enxugou em 55%, sobrando apenas R$ 0,31 para cada R$ 1,00.

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