Fora de rota
Brasil perde espaço no mercado global apesar do câmbio
Se a tempestade perfeita fez o Brasil alcançar volumes recordes mensais de exportação em 2020, em 2021 chegou a ressaca e o arroz tornou-se pouco competitivo no mercado externo. A conjuntura desfavorável favoreceu o Mercosul e os Estados Unidos e gerou a perda de clientes em um cenário de preços domésticos fortalecidos, recuperação parcial do real, preços globais em queda, retenção da oferta e países importadores abastecidos.
Então, a disparada dos fretes marítimos – 300% para alguns destinos e 500% em contêineres – pegou em cheio os exportadores. Em 2020, com preços em alta ao consumidor e a explosão de consumo nos meses pós-pandemia, houve medo de faltar arroz no país, que sem a tarifa externa comum (TEC), comprou cerca de 300 mil t na Ásia e EUA.
O diretor do Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz/RS), Tiago Barata, explica que em 2020 os valores da matéria-prima subiram, mas foram compensados pela valorização do dólar.
O real foi uma das moedas que mais desvalorizou. “Quando recuperou-se um pouco e os preços internos estabilizaram em 2021, houve descompasso, clientes importantes foram comprar na Argentina, Estados Unidos e Ásia, casos de Cuba, Venezuela e México. Para agravar a situação, houve alta do frete, queda nos preços da Ásia e o Brasil não conseguiu ofertar volume a preço competitivo”, frisa.
Para Barata, o Brasil, em 2020, demonstrou que tem capacidade de atender fortes demandas globais em logística, qualidade e produção. “Há 15 anos, a meta era exportar 10% da safra gaúcha, superamos isso em 2020”.
Em 2020, de janeiro a dezembro, o Brasil embarcou 1,813 milhão de toneladas e recebeu 1,281 milhão, com saldo positivo de 532 mil t. “Agora, estamos menos competitivos, há equilíbrio na balança comercial e a aposta é na qualidade e no câmbio”, resume.
Entre março e julho de 2021, o país exportou 469,2 mil toneladas e as importações chegaram a 439,1 mil t. O saldo é 30,1 mil. A Conab prevê exportação de 1,3 milhão de toneladas e 1,1 milhão em compras, saldo de 200 mil t para 2021. O Brasil teria de embarcar 100 mil toneladas a mais por mês até fevereiro, o que é pouco provável.