Gigantes do Arroz

 Gigantes do Arroz

Apesar de produzir 70% do arroz brasileiro, indústria gaúcha beneficia bem menos

Ranking do Irga mostra perfil da indústria do arroz

As 145 empresas que mantêm 157 unidades industriais no Rio Grande do Sul beneficiaram 5.545.152 toneladas de arroz em 2022. Esse volume representa 71,9% das 7.708.229,8 toneladas colhidas no estado. As 2.164.077 toneladas remanescentes, ou 28,1% encontraram como destino a exportação em casca, o envio a outros estados ou permaneceram nos estoques públicos e privados. Isso mostra que mesmo a lavoura gaúcha representando mais de 70% da produção no país, o estado não chega a mesma proporção ao transformar o grão que vai ao prato do consumidor.

O índice de beneficiamento foi ligeiramente maior do que em 2021, quando 5.532.641 toneladas representaram 64,9% das 8.523.429 t colhidas. A sobra em estoques ou saídas nacionais e internacionais foi de 2.990.788, ou 35,1%. Em 2020 e 2019, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) não realizou o cálculo pela taxa de contribuição para a defesa da orizicultura (CDO), divulgou um ranking sobre a arrecadação.

Mas a queda no desempenho da industrialização do arroz gaúcho fica evidente quando se compara os números com o processamento de 2018. Nessa temporada, foram industrializadas 5.796.178 toneladas de arroz em casca, o que representa 68,4% das 8.474.392 colhidas. O saldo remanescente foi de 2.678.214, ou 31,6%. Percebe-se que o valor até mostrou certa recuperação, um pouco mais de 12 mil toneladas, frente a 2021, mas ainda foi 251 mil toneladas menor em relação a 2018.

Fique de olho
Pelas definições, arroz beneficiado é aquele que passa por processo industrial e se encontra desprovido, no mínimo, da sua casca, até estar disponível para consumo. A operação de beneficiamento envolve o descascamento, o polimento, a separação de quebrados, a separação de grãos com defeitos, a recomposição para a tipificação (tipo do arroz) e a embalagem, conforme Gilberto Wageck Amato, consultor do Irga.

Grandes entre os grandes

Exportações reduzem em parte a capacidade ociosa da indústria, mas é preciso ampliar os embarques do arroz branco e reduzir impostos

As 10 maiores empresas gaúchas do setor são responsáveis pela industrialização de 48,8% do arroz no Rio Grande do Sul. Em 2022, esse volume alcançou 2,56 milhões de toneladas, segundo o ranking divulgado em maio pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). As 20 maiores empresas alcançam 65%, enquanto as 30 maiores alcançam 74%.

São números expressivos que indicam uma concentração cada vez maior no setor. Os 26% restantes são representados por 115 empresas.

Pelo ranking, a Camil é líder isolada, com 986 mil toneladas, somando mais que o dobro do volume processado do segundo concorrente e do que a soma da industrialização dos três gigantes em segundo (Josapar), terceiro (Arrozeira Pelotas) e quarto (Pirahy Alimentos) na lista.

Em 2022, a líder teve queda em volume, alcançando 985,9 mil toneladas, enquanto em 2021 foram 1,05 milhão, 68 mil toneladas a mais. A participação caiu de 19,1%, até 17,8%.

Novidade do TOP 10 é a ultrapassagem da Arrozeira Pelotas sobre a Pirahy Alimentos. Com 3,87% de participação e 214,7 mil toneladas beneficiadas, a empresa pelotense que está entre as maiores exportadoras de arroz branco assumiu o terceiro lugar no ranking, contra as 213 mil toneladas da empresa fronteiriça.

A Urbano manteve-se em quinto, pois embora tenha comprado, não agregou a Broto Legal a sua estratégia administrativa e comercial. É seguida pela Cotrisel, que subiu um posto. Outra empresa que melhorou a colocação foi a Pilecco Nobre, agora em 7º, vindo da 9ª posição.

ESTREANTES
O Engenho A.M é estreante no grupo de elite e deu um salto da 14ª posição, em 2018, para a 11ª em 2021. Em 2022, assumiu o 8º lugar. A Cooperja, no litoral norte, perdeu três posições e ficou em nono lugar.

Outro estreante no rol dos 10 primeiros é a Dickow, da depressão central, que depois de acumular o 12º posto por dois anos na relação, evoluiu para a 10ª.

Chama a atenção o fato de que algumas empresas surgiram pela primeira vez na lista, caso da Luiz Carlos Machado, no litoral norte, enquanto outras tradicionais saíram da listagem. São os casos da Pitangueiras, Fronteiriço e Martizalem. Algumas empresas estão com nomes diferentes nas listas de 2021 e de 2022, caso da Blue Cheff, antes Braussan, e da Cooperativa São Luizense, antes Coopatrigo. Há também empresas que mudaram a razão social e, até, algumas que trabalham com duas razões sociais, portanto, estão em pontos diferentes no ranqueamento, conforme o critério estabelecido pelo Irga.

Questão básica
No quebra-cabeças, percebe-se que 102 empresas processam menos do que um navio de 30 mil toneladas, ou 600 mil sacos de 50 quilos. Destas, 62 não alcançam 10 mil toneladas, ou 200 mil sacos de beneficiamento. Apenas a Camil ultrapassa – e dobra – o valor de 450 mil t processadas, com quase 986 mil t. É a única das empresas que alcançou mais de um milhão de toneladas beneficiadas no Brasil ao longo da história. Por isso, o maior market share.

Setor vive desindustrialização

O ranking da indústria de arroz, divulgado pelo Irga em maio, dá números aos argumentos apresentados pela cadeia produtiva, em especial empresas e cooperativas de beneficiamento: o peso tributário é um dos principais componentes da concentração e, agora, da desindustrialização das regiões arrozeiras. A análise é do diretor executivo do Sindarroz-RS, Tiago Sarmento Barata.

“Levamos ao governo do Estado um cenário preocupante para a cadeia produtiva e que requer ações de equalização da alta carga tributária, a mais alta do país, sobre o arroz gaúcho. Esperamos ser atendidos, pois embora sejamos produtores de 70% do grão no Brasil, participamos com apenas 55% do beneficiamento”, afirmou.

Entre 2021 e 2022, a queda no processamento foi de 5,5%. Desde 2020 a industrialização gaúcha cai 400 mil toneladas ao ano, quase 100 indústrias deixaram de existir desde 2006, caindo de 251 para 157. A área semeada caiu 28% nas terras baixas, a de soja aumentou 788% em 12 anos.

A razão principal é a matriz tributária, alterada com isenções de até 100% e com créditos em estados não produtores, feito Minas Gerais e São Paulo, os maiores importadores do arroz paraguaio, não tão alta em países vizinhos e sufocante no Brasil.

A competição por matéria-prima com a exportação também eleva o custo da indústria. “Ainda que seja muito importante exportarmos para equalizar oferta e demanda, há clara vantagem competitiva às nações que só importam arroz em casca e geram renda, empregos e arrecadação do beneficiamento em seus próprios países”, disse Dilnei Portantiolo, do Sindicato da Indústria do Arroz de Pelotas (Sindapel).

Portantiolo explicou que não há interesse em onerar o casca. “Precisamos retirar do beneficiado o excesso tributário que nos retira a capacidade de competir. Trabalhamos no sentido da cadeia produtiva exportar conjuntamente e um volume maior de arroz branco, integral ou parboilizado”, acrescentou.

Consequência
Carlos Eduardo Nunes, presidente do Sindarroz-RS, ainda lembrou uma série de gargalos estruturais e logísticos que afetam a capacidade de competir do grão local frente a alguns concorrentes, “mas se conseguirmos fazer a lição de casa no ramo tributário, daremos um grande passo”, afirmou.

Para Nunes, a concentração das empresas ocorre ao natural, por melhor desempenho em escala. “Por causa das vantagens competitivas, Minas Gerais aumentou a importação de 74 mil para 428 mil toneladas em 2022. O Paraguai elevou mais de 10 vezes a sua produção em 20 anos”.

PREJUÍZOS
A consequência da carga tributária gaúcha acarreta prejuízos ao setor, a começar pela perda de condição competitiva no abastecimento dos principais mercados consumidores nacionais, queda dos preços da matéria-prima, desestímulo do produtor (preço de venda inferior ao custo de produção) e consequente redução da área plantada. A desindustrialização atinge diretamente o setor considerado a principal agroindústria da metade sul e também gera impacto social a cerca de 150 municípios pela redução dos postos de trabalho, da renda e da arrecadação.

Fique de olho
O Rio Grande do Sul tem o maior polo produtivo e industrial de arroz fora do continente asiático, é reconhecido mundialmente como ofertante de arroz de qualidade premium, o segmento industrial é responsável pela manutenção de 11.144 empregos diretos (Caged – fev/23). Na produção, são 14,4 mil empregos diretos (Caged – fev/23), e este produto é responsável por aproximadamente 4% do ICMS arrecadado no Estado.

Questão básica
A surpresa do aumento do número de indústrias no ranking do Irga não alcançou o Sindarroz-RS. Segundo Tiago Sarmento Barata, há algumas empresas de menor porte que beneficiam o arroz, mas não necessariamente todos os anos. “Por diversos motivos, como partilhas, inventários, mudanças de proprietário ou estratégias diversas, algumas empresas menores não operam em todas as safras e algumas já tinham uma marca que era arrendada e resolveram reassumir este espaço. Mas são poucas”, revelou.

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