Herança pesada
Excedentes vão pressionar o mercado de arroz em 2011.
O aumento da safra brasileira de arroz 2010/2011, principalmente no sul do Brasil, acompanhado dos excedentes da safra passada – somada ao estoque de passagem anterior – e aumento dos volumes produzidos por Uruguai, Argentina e Paraguai, vai pressionar os preços ao produtor nacional no ano comercial 2011/2012. Com a produção estimada em nove milhões de toneladas, mais de cerca de 1,1 milhão em estoques, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina têm uma oferta superior a 10 milhões de toneladas, que chega a 13 milhões se computada a produção dos países do Mercosul. A concentração da oferta no Cone Sul também determina preços baixos ao produtor.
Mas esse cenário tem alguns agravantes. Em primeiro lugar, a falta de competitividade com o produto do Mercosul, que tem preferência na compra do Sudeste, Centro-oeste e Nordeste em razão do preço. Desonerada de tributação, a importação de uma tonelada de arroz uruguaio chega 99,13 dólares mais barata ao Recife (PE), no nordeste brasileiro, do que o mesmo volume de arroz branco gaúcho, ainda que a base de preços dos produtos seja idêntica. Os custos com logística, frete e tributos são os responsáveis por isso.
Também é determinante a política cambial brasileira. Com o real valorizado frente ao dólar é mais difícil alcançar preços competitivos e exportar, mas é fácil importar.
Os preços do Mercosul são mais atraentes do que o produto nacional, tanto para o mercado interno quanto para terceiros países. Metade da safra do Uruguai e da Argentina e quase 70% da safra paraguaia são direcionadas ao Brasil. É dispensável, mas diante do acordo de livre comércio e a competitividade favorável, esse produto se torna parte do “suprimento brasileiro”.
Para Tiago Sarmento Barata, o analista de mercados da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, o grande problema é a dificuldade de escoamento, e isso está ligado tanto ao câmbio quanto à tributação interna e o próprio “custo Brasil”.
“O preço baixo é consequência da dificuldade em retirar o arroz do sul e colocar nos mercados. Como a operação é mais cara do que a importação, as cotações nacionais estão pressionadas para baixo”, considera. Segundo ele, em algumas circunstâncias até o PEP para o nordeste, o centro-oeste e o norte brasileiro poderia ser justificado como positivo.
CENÁRIO
Barata diz que com o pacote de mecanismos lançado pelo governo federal o arrozeiro conseguirá aumentar sua média diante das cotações muito baixas do final de 2010 e início de 2011, direcionando uma parcela da produção para AGFs, mas o preço livre de mercado não deve ser muito alterado. “O cenário não indica um ano de preços altos”, avisa.
O mercado internacional segue em baixa, depois de leve reação, em função das safras maiores nos principais produtores, demanda estável dos importadores e crescimento dos estoques mundiais. O Brasil, para exportar, terá mais concorrentes e um mercado mundial com excedentes de produção. A expectativa dos analistas é de que os preços em 2011 serão levemente superiores a 2010, mas em razão dos mecanismos do governo.
QUESTÃO BÁSICA
Um agravante é que pagando o preço mínimo de R$ 25,80 a indústria gaúcha e a catarinense não conseguem competir em pé de igualdade com o arroz que chega do Mercosul. Ou seja, ou abre mão de seus mercados ou espreme o produtor para conseguir arroz em valores que compensem lá na ponta do varejo. Além disso, é importante frisar que o lançamento de mecanismos de comercialização para 1,38 milhão de toneladas não quer dizer que todo esse volume será negociado.