Importância do uso de sementes de boa qualidade de arroz irrigado para a safra 2011/2012
Autoria: Cley Donizeti Martins Nunes Pesquisador da Embrapa Clima Temperado.
No Brasil, a taxa de utilização de sementes certificadas de arroz pelos produtores publicados pela Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) na safra 2010/11 foi de 40%. No Rio Grande do Sul, segundo os dados divulgados pela Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), variou de 35% (2000/01) a 25% (2007/08). Nas duas últimas safras houve aumento significativo, superando a taxa nacional de utilização de sementes certificadas. Em 2009/10 foi 31%, aumentando para 45% na última safra (Apassul, citado pela Abrasem).
A taxa de utilização de sementes de arroz da classe certificada é preocupante. Reconhece-se que ainda é comum o agricultor separar parte de sua produção para utilizar na safra seguinte como semente.
Por outro lado existe um panorama de tratar com fungicidas todas as sementes. Na maioria dos casos não há necessidade, quando se usa sementes de qualidade em áreas sadias. Justifica-se tratar as sementes de arroz com fungicidas nos casos de cultivares introduzidas de outros locais ou nos lotes portadores de alguma doença em níveis elevados de contaminação.
Neste caso, o objetivo do tratamento de sementes é erradicar os patógenos da superfície das sementes e/ou protegê-las durante a germinação em áreas com histórico de ocorrência de doenças causadas por patógenos de solo, como tombamento, queima-de-plântula, queima-de-bainhas, mancha-de-bainhas, podridão-do-colmo e mal-do-pé. Dificilmente os fungos do solo penetraram nas sementes de arroz (ação mecânica ou enzimática) em virtude da extrema rigidez dos tecidos das glumas (casca).
A rigidez é causada pelo alto teor de silício e lignina, o que forma uma barreira intransponível, dificultando a decomposição. Estima-se que as plantas de arroz acumulem na casca em torno de 8,39-9,51% do silício absorvido e quando queimadas produzem próximo de 92%.
Os resultados de pesquisa de muitos anos mostram nas épocas preferenciais de semeadura do arroz que o tratamento de sementes de boa sanidade não tem efeito na sanidade das plântulas e velocidade de emergência. O tratamento tenderá a ser mais relevante à medida que a qualidade das sementes diminui. Estas épocas caracterizam-se pela ocorrência do máximo aproveitamento da temperatura e da radiação solar pelas plantas, contribuindo para expressão do máximo potencial produtivo da cultivar.
No Rio Grande do Sul, as semeaduras efetuadas no mês de setembro são consideradas cedo e as realizadas após 10 de novembro como tardias. No caso de áreas maiores é preferível semear mais cedo que mais tarde, em virtude de que a probabilidade de ocorrências de doenças como a brusone é maior e por causa da maior quantidade de inóculo produzido pelas lavouras semeadas mais cedo. As sementes tratadas com fungicidas nestas condições de solos frios aumentam a velocidade de emergência das plântulas somente em lotes de baixa qualidade (baixo poder germinativo).
O início da emergência das plântulas e da velocidade que ocorre está associado às baixas temperaturas da época. Semeadura realizada em 30 de agosto de 2010 em solo argiloso do Capão do Leão com a cultivar BRS Querência, tolerante para emergência em solos frios, levou 25 dias para iniciar e 24 dias para terminar a emergência, comparada com a semeadura em 29 de outubro de 2010, que levou 14 dias para iniciar e 15 dias para terminar a emergência.
Semeaduras em épocas antecipadas, sob condições de solo mal drenado e com baixa temperatura, principalmente abaixo de 18°C, podem causar sérios danos ao estabelecimento da lavoura com a redução do estande inicial. O conhecimento da característica de tolerância dos genótipos ao baixo vigor inicial associada para estas condições de ambiente de germinação e emergência das sementes em solos com baixa temperaturas torna-se importante.
Outra condição a observar é a origem da produção de sementes. As sementes procedentes de áreas contaminadas poderão causar problemas já no estabelecimento inicial da cultura e neste caso justifica-se o tratamento com fungicida. Para evitar ou combater este problema deve-se sempre priorizar o uso de sementes certificadas de alta qualidade, pois são obtidas com sementes de elevada qualidade genética, associadas às técnicas e práticas agrícolas que propiciem as melhores condições para um adequado desenvolvimento do material genético, oriundas de campos de produção isentos de doenças e colhidas nos estádios recomendados. As sementes atingem a maturidade fisiológica cerca de 30 a 32 dias após a antese, com máximo vigor e poder germinativo. Nesta fase, porém, possuem elevados teores de umidade, cerca de 27%, o que impede a colheita.
A boa semente tem origem no bom manejo produtivo envolvendo a fase de campo, pós-colheita e armazenamento. Sementes certificadas são a garantia de que estes processos foram realizados, o que dá ao produtor maior certeza de um lote de sementes de qualidade. O mais interessante é conhecer o campo de produção de sementes, próximo à fase de colheita, e a forma de armazenamento.
Outro fator intrínseco à qualidade da semente é a deterioração, que já inicia após a maturação fisiológica. A velocidade e o progresso da deterioração nas sementes são fundamentalmente influenciados pelo grau de hidratação da semente, temperatura de armazenamento e herança genética. Em termos genéticos as sementes de cultivares do grupo japônica são inerentemente de vida mais curta, enquanto as índicas são de vida longa após a colheita. O ambiente no campo também tem um efeito profundo sobre a qualidade fisiológica e sanitária das sementes.
Temperaturas altas e chuvas frequentes no período de colheita e alta umidade durante o armazenamento podem resultar em uma rápida e extensiva deterioração, causando baixas na germinação, no vigor e na sanidade das sementes. Outros fatores interagem para acelerar os processos deteriorativos das sementes, tais como imaturidade da semente, danos mecânicos e insetos.
Por serem higroscópicas, as sementes absorvem umidade do ar atmosférico. Por isso, em locais de clima úmido, a sua armazenagem deve ser mais cuidadosa. O vigor e deterioração das sementes estão fisiologicamente interligados e são aspectos recíprocos que refletem na qualidade de sementes. À medida que o vigor diminui, a deterioração aumenta, causando a redução da qualidade da semente. Portanto, a deterioração é o processo de envelhecimento e morte da semente, enquanto que o vigor é o principal componente da qualidade que é afetado pelo processo de deterioração.
Os testes de vigor são indicados para avaliar um ou vários efeitos menores da deterioração sobre o potencial de desempenho das sementes. O vigor baixo está associado à redução da velocidade e uniformidade do crescimento e/ou desenvolvimento de plântulas e por consequência pode haver aumento de competição com invasoras devido ao fechamento tardio e incompleto do dossel da população de plantas.
Normalmente, a alta incidência de fungos sob as sementes de arroz está associada à sua baixa qualidade. A associação é maior quanto maior o período de exposição a alta temperatura e umidade no campo e no armazenamento.
O tratamento com fungicidas pode erradicar estas populações de diferentes espécies de fungos sob as sementes. É importante ressaltar que o tratamento de sementes com fungicidas pode controlar a disseminação dos patógenos e aumentar a velocidade de emergência, mas somente nas sementes de baixa qualidade.
É importante lembrar que as sementes de baixa sanidade e sem tratamento podem introduzir doenças em novas áreas de cultivo se as condições de hospedeiros e ambientes forem favoráveis. Entretanto, o tratamento de sementes passa a ser importante nas áreas de intenso cultivo ou quando houver histórico na última safra de ocorrência de doenças de plântulas (tombamento), de raízes ou de colmo, que são causadas por fungos de solo.