Indústria fecha as portas à 422CL

 Indústria fecha as portas à 422CL

Sem destino: queda-de-braço compromete o mercado da 422CL

Primeiras empresas já anunciaram veto total à variedade .

A indefinição quanto à cobrança, dos produtores, de uma “multa” pelo uso indevido do sistema Clearfield e as ameaças da Basf podem acarretar o fechamento das portas das indústrias gaúchas de arroz à variedade Irga 422CL. A Pilecco e Cia Ltda, de Alegrete, por exemplo, já tomou essa decisão e não receberá, beneficiará ou comercializará nenhum grão da cultivar até que o assunto da cobrança pelo uso da tecnologia esteja resolvido totalmente. A indústria Pirahy Alimentos, de São Borja, segue o mesmo caminho. Se outras empresas vão adotar a mesma política, apenas o tempo irá mostrar. 

“Resolvemos não aceitar mais a 422CL por precaução, a fim de que nem a indústria, nem nossos clientes enfrentem riscos desnecessários”, explica Onélio Pilecco, presidente da empresa que leva seu nome. Ele destaca que enquanto os arrozeiros conseguem maiores produtividades com o controle do arroz vermelho, os engenhos não têm nenhuma vantagem no processo de beneficiamento da variedade. Pelo contrário, na safra passada, a cultivar chegou a receber algumas reclamações relativas à sua qualidade. 

TERMO – Misturadas, as diferentes variedades de arroz não podem ser separadas visualmente. Por isso, a Pilecco exigirá que os agricultores que trabalham com a indústria assinem um termo garantindo a inexistência de grãos CL. “Assim, ficamos isentos de qualquer responsabilidade”, argumenta. Frisa que, em caso de dúvida, a indústria poderá – antes de receber o produto – fazer exames para assegurar-se de que seu estoque estará limpo do cereal “Clearfield”.

Declaração
Se a maioria das indústrias recusar o recebimento do arroz 422CL, os produtores talvez não tenham outra solução para comercializar sua safra senão a declaração de usuários da tecnologia Clearfield, recolhendo o percentual estipulado pela empresa em acordo com o Irga e a Federarroz. A tendência natural é que a diferença na remuneração do arroz “Clearfield” com relação às demais variedades seja acentuada.

Mercado
Sem a 422CL, a Pilecco irá trabalhar com todas as demais variedades que apresentem comportamento aceito pelo mercado, especialmente Irga 417 e BR Irga 409. Na Pirahy, além da “novela Clearfield”, pesaram na decisão as características apresentadas pela variedade na safra passada. A indústria considera melhor ficar apenas com cultivares de mais eficiência no beneficiamento e comercia-lização.

 

Acordo não tem efeito para a indústria

A orientação do Sindicato das Indústrias do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS) é para recebimento da variedade Irga 422 CL pelas empresas, desde que com declaração do produtor para evitar eventuais transtornos. Cada engenho está livre, no entanto, para tomar suas próprias decisões, que podem até incluir a não aceitação da cultivar. “Para nós, não tem nenhum efeito o acordo entre Basf, Irga e Federarroz”, afirma o presidente do sindicato, Élio Coradini, lembrando que inúmeras reuniões foram feitas com a multinacional sem que fossem esclarecidos aspectos em relação aos direitos alegados pela fabricante do herbicida Only. 

Uma carta assinada em conjunto por Sindarroz, Abiap, Sindapel e Fearroz está sendo distribuída aos associados das entidades desde o Carnaval. Nela é destacada a participação em inúmeros encontros com a Basf, quando se buscou um acordo sobre os alegados direitos que a multinacional tem sobre o uso da tecnologia Clearfield. O documento também informa que o quarteto, através de seus departamentos jurídicos, está analisando os argumentos utilizados pela fabricante de defensivos para cobrar taxas sobre utilização de sementes e adoção de práticas de manejo da lavoura. “Medidas estão sendo estudadas com vistas à correta determinação de eventuais direitos/deveres envolvendo o assunto”, conclui o texto.

MUDANÇAS – Sem acordo entre a Basf e a indústria, dificilmente haverá algum tipo de cobrança de indenização pelo uso da tecnologia, a menos que a multinacional consiga esta autorização na Justiça. O assunto, no entanto, é complexo e uma discussão nesta instância, até chegar a uma decisão, pode levar muito tempo. 

O certo é que os produtores gaúchos, apesar de terem limpado suas áreas e se beneficiado pela facilidade de manejo, só terão prejuízos por conta do uso de tecnologia pirata a partir de agora. O mercado irá “rebaixar” as cotações da variedade Irga 422CL ou seus “similares”, marginalizando um produto que está sendo responsável pela recuperação de áreas nobres para a lavoura gaúcha, onde o cultivo do arroz se tornava impraticável. 

O lançamento de variedade de melhor qualidade industrial e comercial pode ser travado, por conta deste comportamento dos produtores. O prejuízo é evidente. No final das contas, apesar de escapar das multas e indenizações, todos vão pagar pelo uso indevido da tecnologia. Principalmente aqueles que mais precisam da tecnologia. 

Os produtores, em assembléia da Federarroz, aceitaram pagar pela tecnologia, que entendem tratar-se da melhor ferramenta para controle do arroz vermelho. Contudo, com preços médios de R$ 18,50 em 2006, acham muito caros os percentuais de 2% a 6%. Há quem fale em 1%.

 

Farsul quer mudanças na proposta

A comissão de arroz da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul emitiu nota oficial com sua posição sobre a cobrança, pela Basf, de multa pelo uso não-autorizado da tecnologia Clearfield nas lavouras de arroz do estado. No documento, a entidade de representação patronal da lavoura gaúcha informa que a comissão de arroz concorda com a cobrança de royalties e sugere que esta se aplique a partir da safra 2007/08 desde que já formalizadas e aceitas as regras da cobrança, com a concordância de todas as entidades da cadeia produtiva do arroz , pois reconhece a importância da tecnologia. 

Segundo o presidente da comissão, Francisco Schardong, o documento sugere que o custo para o produtor de um saco de semente (40kg) de Irga 422CL seja equivalente ao valor de até dois sacos de arroz em casca (pago ao produtor). Propõe ainda que o custo de um litro do herbicida Only ao produtor seja equivalente a dois sacos de arroz em casca. 

A Farsul ainda considera que o arrozeiro que utilizar a tecnologia Clearfield de forma não-autorizada, e declarar, deveria pagar 2% sobre o valor do produto, descontados ocasião da venda do grão. Quem não declarar pagaria 4%. Não obteve resposta da multinacional.

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