Inimigo público da lavoura

 Inimigo público da lavoura

Arroz daninho: cruzamentos ampliam resistências e dificultam identificação

O arroz vermelho
constitui-se na principal planta daninha da
lavoura arrozeira irrigada
.

“Conheça o inimigo e a si mesmo e você obterá a vitória sem qualquer perigo; conheça terreno e as condições da natureza e você será sempre vitorioso”. A citação é de autoria do general, estrategista e filósofo chinês Sun Tzu, mais conhecido por sua obra “A arte da guerra”, composta por 13 capítulos de estratégias militares. Mas serve também como referência à batalha diária travada por orizicultores de todo o mundo para erradicar ou controlar o arroz vermelho em suas lavouras, onde a melhor estratégia de combate é a informação.

No Brasil, não é diferente. Historicamente, o arroz vermelho é a planta daninha que mais causa prejuízos econômicos à cadeia agroindustrial orizícola. Nas lavouras, interfere de forma direta e acentuada na produtividade e na lucratividade da cultura, além de aumentar os custos de produção e depreciar o produto colhido. Nas indústrias, provoca uma perda expressiva da qualidade física do cereal, na medida em que perde seu rendimento em comparação com os grãos inteiros.

O manejo desta planta daninha, com vistas a minimizar seus efeitos negativos, passa por ações preventivas e requer a combinação de um conjunto de ações de controle e complementares, reunidas em um programa planejado, que inclua: a) uso de sementes, água, máquinas e equipamentos livres de arroz vermelho; b) sistematização de áreas; c) sistemas de cultivo que dificulte a emergência do arroz vermelho contido no solo; d) adoção das recomendações técnicas para cultura, observando o manejo integrado de práticas de cultivo; e) rotação de culturas, com controle do arroz vermelho em todos os cultivos; f) uso racional de agroquímicos; g) manejo adequado das culturas e resteva, para evitar a multiplicação do arroz vermelho nas áreas cultivadas ou em repouso.

Cultivares resistentes a herbicidas, principalmente sobre novos grupos químicos, diferentes dos atualmente utilizados, são ferramentas muito importantes para o manejo do arroz vermelho.

Controle em pauta

Grupo de palestrantes: Seminário Latino-americano discutiu o controle da invasora

Para buscar soluções que reduzam os prejuízos causados pela invasora nas lavouras, o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) promoveu, nos dias 4 e 5 de junho, em Porto Alegre, o II Seminário Latino Americano sobre Arroz Vermelho, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). O evento reuniu cerca de 500 participantes, numa programação dividida em quatro painéis técnico-científicos. Além de palestrantes brasileiros da Ufrgs, Irga, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), estiveram presentes técnicos, pesquisadores e professores da Colômbia, Estados Unidos, Filipinas, Itália e Israel.

Os resultados mostrados durante o seminário apontam que as várias tecnologias existentes ou em desenvolvimento não resultarão em controle do arroz vermelho e, por exemplo, a eliminação do risco de fluxo gênico entre plantas comercial e invasora é difícil de ser alcançada. No entanto, o principal fator relacionado ao controle dos processos já existentes, como no caso de cultivares resistentes aos herbicidas do grupo das imidazolinonas ou de outras novas tecnologias, é a sistemática de manejo da cultura realizada por cada produtor.
As evidencias apresentadas também indicam que nenhum método irá individualmente resolver o problema do arroz daninho. As práticas existentes, tanto relacionadas ao controle químico, quanto às alterações moleculares, serão somente ferramentas de curto tempo de uso se não forem utilizadas adequadamente por cada produtor, a exemplo do que ocorre em muitas lavouras pelo desenvolvimento de arroz vermelho resistente a herbicidas.

Desta forma, os fatores relacionados ao manejo da cultura e de plantas daninhas abordados detalhadamente no seminário, como adequação de sistemas de preparo do solo e de irrigação, época plantio, período de início da irrigação e, principalmente, rotação de culturas, manejo da vegetação antecedendo o plantio, controle de escapes e utilização de sementes isenta de arroz vermelho são e continuarão sendo as ferramentas mais importantes em relação ao controle deste inço.

Da China para o mundo
A exemplo do arroz cultivado comercialmente (oryza sativa), o arroz vermelho (oryza sativa L.) também é oriundo da Ásia, sendo que daquela região foi disseminado para o mundo, possivelmente como contaminante em sementes de arroz cultivado. Também conhecido por arroz preto ou arroz daninho, recebe essa denominação pela coloração vermelho amarronzada do pericarpo do grão.

Por pertencer à mesma espécie, possui características genéticas, morfológicas e bioquímicas semelhantes, tornando uma planta daninha de difícil controle. Os diferentes ecótipos de arroz vermelho encontrados nas lavouras apresentam variabilidade para as características morfológicas e fisiológicas.

Possui também os mesmos hábitos do arroz cultivado, confundindo-se com esse, e geralmente é mais precoce, dependendo da cultivar usada na lavoura. Em geral, o ciclo biológico é menor, o porte é mais elevado, tende acamar e debulha com facilidade, criando um perigoso banco de sementes que podem germinar até 30 anos após.

A importância da semente

Diversidade: grãos vermelhos interferem na qualidade do produto comercial e na renda do produtor

O uso de sementes não oficiais ou até mesmo de sementes salvas é a maior causa da dispersão de sementes de arroz vermelho nas lavouras. “A invasora está presente em níveis variáveis de infestação na maioria das áreas cultivadas com arroz irrigado no Brasil e o problema parece ser mais crítico onde a semeadura é realizada em solo seco”, avalia o gerente de pesquisa da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), José Alberto Noldin.

Segundo ele, existe uma limitada disponibilidade de sementes isentas do arroz daninho, mas em muitos estados com sistemas organizados de produção sementeira são tolerados níveis excessivamente altos de arroz vermelho, constituindo-se, dessa forma, no principal fator de aumento na infestação das áreas em cultivo e disseminação para novas lavouras.

O equacionamento do problema, conforme Noldin, passa necessariamente por um conjunto de ações resultantes de trabalho integrado de diferentes instituições, incluindo os órgãos de pesquisa, extensão, assistência técnica e associações setoriais, com o objetivo de disponibilizar sementes livres de arroz vermelho, oferecer aos rizicultores tecnologias para produção de material isento do inço e promover a conscientização destes sobre os benefícios que podem ter com o uso de sementes de qualidade.

Para o pesquisador do Irga, Felipe Gutheil Ferreira, o uso de material genético superior e livre de sementes de invasoras deve ser a primeira decisão de um produtor rural no momento de planejar a lavoura. Segundo ele, dentre todos os insumos necessários à formação de uma lavoura de qualidade, pode-se afirmar que a semente é o principal.

“Nela estão presentes os atributos genéticos, físicos, fisiológicos e fitossanitários que expressam o potencial produtivo de uma cultivar e todas as suas características agronômicas. Além disto, com os avanços das pesquisas agronômicas e biotecnológicas, as novas tecnologias estão sendo inseridas na semente, ou seja, a eficácia e a manutenção, ao longo dos anos, de uma nova tecnologia dependem do uso correto deste material de propagação”, explica.

Além das questões relacionadas à produtividade, Ferreira ressalta que a semente, quando mal utilizada, pode ser o principal veículo de disseminação de plantas daninhas. “O hábito de reservar sementes para uso próprio, embora seja considerada uma prática legal, desde que atendidas as exigências impostas pela lei, pode ocasionar problemas ao produtor. Isto porque, em muitos casos, não há o planejamento e os cuidados necessários à produção sementeira, pois não existem critérios legais para estabelecer os seus padrões mínimos de qualidade”, complementa.

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