Intensificação de culturas amplia os horizontes
Arroz, soja, milho e o que mais vier para as terras baixas
Se o prato mais tradicional do Brasil é o arroz com feijão, nas terras agrícolas do extremo sul do país, a combinação que está dando certo é arroz com soja. E a experiência adquirida com a oleaginosa, que pulou em 10 anos de 11 mil para 417 mil hectares cultivados, agora abre espaço para outros desafios, como o ingresso do milho no sistema de produção. A próxima temporada deverá superar 450 mil hectares de soja semeados em terras de arroz. Em milho, foram 1,1 mil hectares no ano passado, 800 para a grãos e 300 para silagem. Deverá ficar entre 2,2 e 2,6 mil hectares na próxima safra.
O professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Enio Marchezan, uma das referências em pesquisa de arroz e cultivos em terras baixas no país, considera que o passo dado, ao inserir a soja nas várzeas antes destinadas apenas ao monocultivo arrozeiro, abre um leque de opções que terão papel importante nos aspectos agronômico e econômico e até na segurança alimentar do país. Milho, grãos ou silagem, pastagens consorciando aveia, azevém e trevo persa, ou mesmo trigo e triticale, são experiências que têm apresentado resultados promissores. “A cada safra, a pesquisa avança, até com os próprios resultado da inovação e adaptação dos agricultores”, reconheceu Marchezan.
Na última temporada, em um de seus experimentos, Marchezan realizou o plantio sequencial de milho (plantado em agosto) e de soja (outubro/novembro) com ótimos resultados. “Isso mostra que é possível fazer até três safras numa mesma área no período de um ano”, vaticinou o professor Paulo Régis Ferreira da Silva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), consultor do Irga e um entusiasta da integração do milho ao sistema.
MILHO
“O milho surge no sentido de dar maior diversidade em relação à soja nas zonas arrozeiras, traz versatilidade, importantes vantagens, mas a implantação exige cautela e conhecimento, pois o milho é mais suscetível aos estresses hídricos ou residual de defensivos”, observou. Nas regiões mais quentes, entende que é possível começar a plantar o milho em agosto, depois o arroz em setembro/outubro, e ainda dá tempo para semear a leguminosa em outubro. “São culturas complementares”, observou.
Para Ferreira da Silva, a metade sul gaúcha elimina o grande limitante para a lavoura de milho, que é a falta de irrigação. “É uma região com muita água disponível, sistema eficiente de irrigação e que aprendeu a drenar bem e terá opção e culturas que não demandarão tantos recursos hídricos quanto o arroz”, enfatizou. “Em coxilha, onde a soja teve prejuízo e sem irrigação consistente, não aconselho entrar com milho”, alertou. Em 2022, o Rio Grande do Sul tem um déficit de três milhões de toneladas de milho, e a região norte do estado, que era forte produtora, vem reduzindo a produção pela limitação de água. Sob pivô, na fronteira oeste, há resultados comerciais superiores a 180 sacos de 60kg por hectare.
Nas regiões central e litoral norte, médias superiores a 200 sacos. Na zona sul, médias comerciais entre 165 e 185 sacos. “Até julho, enquanto a margem do arroz era negativa, a do milho variava de 26% a 70% positivos”, comemorou.
Fique de olho
Para os professores Enio Marchezan e Paulo Régis Ferreira da Silva, há uma premissa que não pode ser esquecida: a lavoura de arroz irrigado continua sendo o carro-chefe das propriedades. E os demais cultivos entram como alternativas também para potencializar a produtividade e a renda da lavoura de arroz e com fins agronômicos.