Justo e imperfeito
Conab muda contagem, mas estoques seguem muito ajustados no país
Se é um sinal de preços remuneradores à orizicultura, esta é uma boa notícia: os estoques finais de arroz no Brasil deverão continuar muito ajustados e serão os menores dos últimos dez anos. Os números foram divulgados em janeiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) com mudanças, pois não são mais consideradas as informações do ano safra (março a fevereiro), mas do ano civil (janeiro a dezembro). Sobre o quadro de oferta e demanda do arroz, do 4º levantamento da safra de grãos, a Conab informou que houve um revisão da periodicidade e metodologia. “A alteração busca uma maior acurácia das estimativas dos números, pois, ao se estimar o estoque de passagem em fevereiro, deve-se desconsiderar o produto novo colhido entre janeiro e fevereiro. Isto gerava dificuldade na extração de tal informação, além de poder levar a uma interpretação equivocada do quadro de suprimento, em vista que o estoque físico real, ao final de fevereiro, é sempre maior do que o publicado como estoque de passagem”, divulgou a companhia.
Para o produtor e consultor Marco Aurélio Marques Tavares, a mudança da metodologia realizada pela Conab comprova uma realidade de menores disponibilidades. “O último levantamento mostra que os estoques do atual ano safra, base 30/12/2020, apresentaram redução de 350 mil toneladas, em relação à temporada passada, quando a escassez do cereal já tinha sido significativa, pois totaliza 1,595 milhão de toneladas, enquanto, no ano anterior era de 1,945 milhão de toneladas”, frisa. “Com a metodologia anterior, o estoque de passagem, em final de Fevereiro (2021) estaria entre 400 a 500 mil toneladas, um dos menores em níveis históricos”, complementa.
Ainda segundo o analista, sob o novo modelo, o estoque de transição será de 1,6 milhão de toneladas. “Se considerarmos os meses de janeiro e fevereiro, de consumo em torno de 1,8 milhão de toneladas, considerando a média mensal brasileira, e com neutralidade na balança comercial, os estoques estariam zerados”, argumenta. Entende, portanto, que será indispensável o ingresso, de pelo menos, 600 a 700 mil toneladas da safra nova (80 mil hectares colhidos) para atender a demanda interna no período, e ter o estoque final previsto para final de fevereiro. “O atraso de safra pode realmente impactar a oferta no início do ano o que garantiria preços muito firmes”, projeta.
Considerando os último levantamento do Irga, sobre as fases fenológicas da safra no Rio Grande do Sul, a safra deve alcançar maior velocidade e volume apenas entre 15 e 28 de fevereiro, e será inferior a 937 mil hectares, bem abaixo da intenção inicial de plantio. “A luz desses números, se projeta uma recuperação ou, pelo menos, estabilização dos preços de mercado, com atual momento, mostrando um quadro de baixa liquidez, com a indústria ‘comprada’, mas com pouco produto nas mãos do rizicultor. A volatilidade do dólar, preços internacionais mais firmes, consumo aquecido (pandemia), menor área plantada e produção e, naturalmente, os estoques muito ajustados são fundamentos favoráveis para preços firmes”, finaliza.