La Niña atrasa o plantio da safra 2007/08

Além de prolongar o período seco, o La Niña traz um verão com chuvas concentradas, no Centro-Oeste e Sudeste, e com estiagem no Sul
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Falta de chuvas pode provocar a troca da soja pelo algodão e afetar a colheita de café. A ocorrência do fenômeno La Niña – resfriamento das águas do Oceano Pacífico – está atrasando o plantio da safra 2007/08. Em pleno setembro, apenas o Rio Grande do Sul iniciou a semeadura e, mesmo assim, de forma tardia. Estima-se que 17% da área prevista para o milho no estado – o primeiro produto a ser plantado – foram cultivadas, ante as 25% nesta mesma época de 2006. O prolongamento do período seco pode provocar a troca de soja por algodão – cujo semeadura é mais tardia – e trazer conseqüências para o café.

– É pouco provável que vamos ter condições de plantio em setembro. A recuperação das chuvas vai ser gradual – Paulo Etchitchury, meteorologista da Somar.

Segundo os especialistas, as precipitações voltam no Centro-Oeste e Sudeste na segunda quinzena deste mês e início do próximo. Os meteorologistas dizem que o fenômeno ocorre até o início de 2008. Além de prolongar o período seco, o La Niña traz um verão com chuvas concentradas, no Centro-Oeste e Sudeste, e com estiagem no Sul.

– Cerca de 90% do País está seco e com temperaturas altas. O produtor não consegue nem iniciar o preparo do solo – diz Expedito Rebello, chefe de Divisão de Pesquisas Aplicadas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Ele lembra, no entanto, que o zoneamento agrícola prevê o plantio de grãos entre outubro e 10 de dezembro. Segundo Rebello, o grande problema, no caso do Centro-Oeste, é que o período seco – que dura 120 dias – será mais longo, já que começou mais cedo (em abril). Mas Etchitchury lembra também que o La Niña traz mais chuvas, de forma concentrada, na região, o que pode afetar as culturas.

A tendência, de acordo com a ClimaTempo é de chuvas abaixo da média no Oeste do Paraná, no Norte de Mato Grosso e Leste de Goiás, para outubro.
No Rio Grande do Sul, o produtor poderá plantar o milho mais tarde – em novembro e dezembro – segundo o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado.

– O que pode ocorrer é se prolongar a entressafra – diz.

Até agora, o único estado liberado a cultivar soja no Centro-Norte do País é Mato Grosso, cujo período de proibição de planta no campo (vazio sanitário) termina no dia 15. Muitos produtores se programaram para iniciar o cultivo na última segunda-feira, mas tiveram de prorrogar à espera de chuvas (acima de 50 milímetros), o que não ocorre há mais de 3 meses, segundo Guilherme Schefer, do Grupo Schefer.

– Se não cair água até o final de setembro teremos de migrar para algodão e soja mais tardia. Dá para aproveitar o fertilizante e o defensivo – avisa o produtor.

– A última precipitação mais forte aconteceu em 6 de abril no Estado, ainda assim, de apenas 20 milímetros – diz a meteorologista da Somar, Olívia Nunes.
Café

Os cafeicultores de Minas Gerais estão preocupados com a estiagem – há 40 dias não há precipitações. Isso porque, as regiões produtoras tiveram chuvas fortes entre junho e julho, que provocaram floradas precoces. Segundo o engenheiro-agrônomo da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), Joaquim Goulart, tradicionalmente o período da florada acontece a partir de setembro.

– A chuva teria de acontecer entre setembro e outubro para termos uma florada uniforme -, disse.

A florada precoce atingiu entre 30% e 50% da capacidade produtiva da planta, principalmente em regiões abaixo de 900 metros de altitude. No Cerrado Mineiro, ainda não choveu e as folhas estão murchando. Segundo Goulart, a estiagem pode intensificar o prejuízo e pode comprometer até a florada da safra 2008/09, pois com o passar do tempo aumenta o déficit hídrico.
O fenômeno La Niña só não é problemático para a lavoura de arroz.

– Como diz o produtor, o arroz gosta de água no pé e sol na cabeça – explica Valmir Menezes, do Instituto Riograndense do Arroz (Irga).

De acordo com ele, em anos de resfriamento das águas do Pacífico a produtividade do cereal é mais alta.

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