Lavoura em transição

Mapa prevê queda de 60% na área e aumento de 3,5% em produção de arroz até 2031

 

Nos próximos 10 anos, a cadeia produtiva do arroz do Brasil passará por profundas transformações. A produção evoluirá 3,5%, de 11,62 milhões de toneladas em 2020/21, para 12,02 milhões em 2031, enquanto o consumo tende a cair 2,2% no decênio, de 10,8 milhões de toneladas para 10,56 milhões. Para equilibrar oferta e demanda, o país reduzirá, em média, em 18,8% as importações do grão, de 1,1 milhão de toneladas registradas em 2021, para cerca de 890 mil em 2031. Pior para o Mercosul, que responde por quase 90% do fornecimento de arroz adquirido pelo Brasil graças ao acordo de livre comércio e as relações cambial e de custos e preços diferenciados.

Mas o mais importante: a área cairá 60%, de 1,687 milhão de hectares para 641 mil hectares. A boa notícia é que a produtividade seguirá crescendo, fazendo com que o abastecimento doméstico esteja garantido. A dúvida é se a genética e o manejo realmente elevarão a média de rendimento por hectare de 8,7 mil quilos no Rio Grande do Sul, e 6,5 no Brasil, para 18,75 toneladas/ha, que são projetadas no limite médio para 2031.

Todas essas informações fazem parte do estudo “Projeções para o agronegócio – Brasil 2020/21 – 2030/31 – divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). E essa projeção permite vislumbrar um avanço ainda mais significativo das culturas de soja, milho e sorgo nas terras baixas na safra de verão. Há, ainda, uma versão “mais otimista” do estudo, adotada por margem de garantia e que considera que a produção de 2022, que termina de ser colhida em torno de 11 milhões de toneladas e com redução de mais de 6% sobre o ano passado, poderia chegar perto de 14,2 milhões de toneladas e, em 10 anos, bater em 19,9 milhões.

A versão também eleva o consumo para 13,96 milhões de toneladas e amplia as importações para 3,27 milhões. Mas é só a fórmula de cálculo que gera essa distorção. Ninguém, neste momento, seria tão otimista com este cultivo. Segundo o grupo que produziu o estudo, a produtividade continuará sendo a principal força, impulsionando o crescimento da agropecuária nos próximos 10 anos.

Em grãos, isto poderá ser observado ao confrontar os dados de projeções de produção e área plantada: 3,5% x -60%, no caso do arroz. Se por um lado a agricultura torna-se cada vez mais intensiva em capital, por outro, há um processo claro de substituição de trabalho nas operações. Essa tendência foi mostrada pelos resultados do Censo Agro 2017. Três tendências são observadas ao analisar os dados da produtividade: redução de mão de obra ocupada; redução da área plantada devido aos ganhos de produtividade da terra; e aumento do uso de capital. Ou seja, tecnologia é o drive da produção, dominando em muito terra e trabalho.

Produção, consumo e importação de arroz (mil t)

Consumo se manterá estável

O arroz é um dos pilares da alimentação básica da população brasileira. Acompanhado do feijão, de uma salada e de uma proteína, é considerado um prato nutritivo e equilibrado. É, também, o grão mais consumido por humanos no mundo. Seu consumo mantém-se entre estável e levemente em queda per capita nos últimos anos no país, quase acompanhado a evolução da taxa de crescimento populacional.

A demanda por arroz no país mantém-se entre 10,5 e 10,8 milhões de toneladas ao ano, em média, há uma década. O Brasil não tem problemas com o abastecimento. Nem mesmo durante a pandemia de covid-19. O estudo “Projeções para o agronegócio – Brasil 2020/21 a 2030/31”, divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), projeta para 2031 o consumo de 10.561 toneladas de arroz, em base casca, pelos mais de 230 milhões de brasileiros. Em uma previsão superpositiva, pode chegar a 13,964 milhão de toneladas.

O Rio Grande do Sul fornece de 70,5% a 72% do arroz consumido no país, dependendo da safra, e é o maior produtor. Mas encontra-se produções importantes em estados como Santa Catarina, Tocantins e Mato Grosso. O Maranhão perdeu relevância. Anualmente, o país exporta cerca de 1,3 milhões de toneladas e importa um milhão.

As projeções do Mapa indicam que o decênio 2022/2031 será marcado por estabilidade de consumo nesta área, com ligeira tendência à contração, enquanto projeta-se a produção do arroz em situação de estabilidade, mantendo-se entre 11,7 e 12 milhões de toneladas ao ano (base casca). As projeções mostram algum nível de comércio exterior, mas com o objetivo de equilíbrio da oferta e demanda.

Fique de olho

Conforme mostra o Censo Agropecuário 2017, há um processo de transição em que pequenos produtores, em geral com nível tecnológico inferior, deixam a atividade, e aumenta a produção oriunda de estabelecimentos maiores e tecnificados. A redução da área é parte do fenômeno, uma vez que lavouras de baixa intensidade têm sido substituídas por aquelas de mais tecnologia e níveis de produtividade. Ocde-FAO (2021) projetam uma produção mundial de arroz de 568,8 milhões de toneladas, com produtividade média de 3,5 toneladas por hectare no mundo, praticamente a metade do volume por área acolhido no Brasil.

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