Lavoura ou açude?
Tecnologia permite produzir arroz e criar peixe ao mesmo tempo.
A busca pela rentabilidade, a produção com menor impacto ambiental, maior qualidade e produtividade de arroz está levando pequenos e grandes produtores a investir na rizipiscicultura. Diferentes técnicas podem ser adaptadas, mas o princípio básico é o mesmo: peixes, no caso carpas, são colocados na área de cultivo para fazer o controle de invasoras e preparar a terra para o plantio de arroz.
O peixe passa a agregar receita, mas a grande vantagem, segundo os produtores, é o benefício deixado no solo que é cultivado no sistema prégerminado. O agrônomo Luís Antônio Valente, da Emater/RS, destaca a importância deste sistema principalmente para o controle de arroz vermelho, adubação e preparo natural do solo. “A tendência é pelo aumento das áreas de rizipiscicultura”, observa Valente, considerando que dos cerca de um milhão de hectares cultivados com arroz no Rio Grande do Sul, no máximo dois mil hectares são trabalhados atualmente com essas técnicas. “É uma questão de cultura do produtor, que irá usar um sistema natural na lavoura de arroz”, complementa Valente.
O produtor Dirceu Moreira da Costa, proprietário da Rizipiscicultura Taquaral, no município de Santo Antônio da Patrulha, foi pioneiro neste sistema, introduzindo as carpas na lavoura de arroz na safra 1996/1997. O investimento deu bons resultados e, gradualmente, ele foi ampliando a área que começou com seis hectares e este ano chegou a 60 hectares. “A dificuldade maior é preparar as áreas, que precisam de pontos de refúgio e a manutenção de lâmina de água para o peixe trabalhar”, comenta o produtor, que já recebeu o prêmio Talento Empreendedor e de Qualidade Total Rural graças à rizipiscicultura.
Dirceu Moreira da Costa experimentou várias formas de comer-cialização das carpas e na última safra começou a vender para pesqueiros (pesquepagues), entre-gando o quilo vivo a R$ 2,50. Em cada hectare de lavoura ele retira cerca de 1,5 mil quilos de peixe por ano e a média de produtividade de arroz gira na casa dos sete mil quilos por hectare.
Alta produtividade
O produtor Heronito Vencato, de Tapes, conseguiu na última safra a produtividade de 10,3 mil quilos de arroz por hectare. Os bons resultados são atribuídos à rizipiscicultura. Vencato tem 15 hectares com carpas que podem chegar a 25 quilos em três anos na lavoura. Com o auxílio de ração, no primeiro ano os peixes chegam a dois quilos, no segundo a seis quilos e no terceiro a 12 quilos. Heronito Vencato vende as carpas a R$ 3,50 o quilo, mas reconhece que “o importante é o que elas fazem para o solo, limpando, adubando e preparando a área para o plantio do arroz. O ganho ambiental é muito grande, pois estou produzindo um arroz orgânico, embora não esteja certificado”, observa Vencato. Para permanecerem na área durante a colheita, quando a água é retirada, os animais buscam os refúgios (áreas mais profundas que permanecem inundadas). Após a colheita, o produtor eleva o nível da água, e as carpas devoram sementes e pragas na área que era lavoura.