Lavoura que dá peixe
A rizipiscicultura está sendo levada a sério. Ainda bem.
.
Uma novidade no cultivo de arroz está agregando renda e outros benefícios importantes, como controle de invasoras, para pequenos agricultores em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. É a rizipiscicultura, a criação de peixes consorciada com a cultura de arroz irrigado.
Enquanto grandes produtores de arroz vêm lutando contra sérias dificuldades econômicas, os agricultores familiares da região sul de Santa Catarina e algumas localidades gaúchas estão obtendo uma renda anual extra de R$ 5 mil por hectare com a produção de arroz irrigado integrado à criação de peixes.
A técnica, segundo os técnicos da Epagri de Santa Catarina, não é muito complicada, mas exige cuidados especiais. Isso faz do sistema uma alternativa importante para pequenos produtores. Os quadros da lavoura de arroz para a rizipiscicultura ocupam em média três mil metros quadrados. Em um dos lados é aberta uma vala com um metro de profundidade e 80 centímetros de largura. Esta área abrigará os peixes nos dias frios e na colheita do arroz.
O custo da adaptação de uma área de arroz para a rizipiscicultura gira em torno de R$ 550,00 por hectare. Cerca de 20 dias após a semeadura do arroz os alevinos são introduzidos na área, onde se desenvolvem durante um ano. A lâmina de água que cobre a área vai sendo elevada conforme o crescimento das plantas.
Ela chega a atingir cerca de 30 centímetros e possibilita que os peixes se desloquem livremente. Na hora da colheita eles se refugiam na vala construída enquanto trabalham as colheitadeiras. Em seguida o quadro é novamente coberto de água, transformando-se em um açude, onde os peixes permanecem sete meses até a nova semeadura, alimentando-se de restos de culturas. Com um manejo adequado e um pouco de alimentação suplementar é possível ao produtor tirar até sete toneladas de peixes por hectare.
Ficha técnica
Rizipiscultura
O que é?
A rizipiscicultura é o cultivo consorciado de arroz irrigado e peixes, reduzindo o uso de agrotóxicos e mão-de-obra e proporcionando aumento de renda por área.
A recomendação baseia-se em lavoura de arroz no sistema pré-germinado, com tabuleiros sistematizados em nível e a criação de peixes na técnica do policultivo de carpas.
O consórcio do arroz com os peixes é mais uma alternativa de redução de custos da lavoura, pois o bicho prepara o solo para o próximo cultivo, recicla a matéria orgânica e consome sementes de plantas invasoras, larvas de insetos, restos culturais do arroz (eliminando focos de fungos como a brusone) e sementes perdidas na colheita.
A adição de renda gerada pelo peixe é importante e entra na propriedade em um momento de grandes gastos, que é a hora da formação da nova lavoura.
Questão básica
Orizicultor vira pescador?
Não. A rizipiscicultura é a utilização da área durante a entressafra, além da produção de pescado, que chega a proporcionar aos agricultores uma renda até 150% superior à do arroz, além de inúmeras outras vantagens para a lavoura, dependendo da situação do mercado.
A ação dos peixes no arrozal controla as pragas, fertiliza o solo e dispensa o seu preparo com máquinas. O ideal é consorciar espécies de peixes que se alimentam de insetos e outras herbívoras. Os peixes herbívoros, como a carpa-comum ou a carpa-capim, revolvem o solo e se alimentam de sementes e brotos de pragas, eliminando assim os inços, inclusive o arroz vermelho, que é a principal praga da lavoura orizícola gaúcha. Peixes como a tilápia fazem o controle de insetos e larvas.