Maior produtor brasileiro de arroz avalia a crise na orizicultura

O deputado federal Érico Ribeiro, maior produtor brasileiro de arroz dá sua opinião a respeito da crise que vive a orizicultura brasileira em entrevista para o jornal Diário Popular, de Pelotas (RS).

Indispensável à mesa dos brasileiros e o produto mais consumido no Brasil e no mundo, o arroz produzido no Rio Grande do Sul, 50% da produção nacional, tem sido sinônimo de desânimo para os orizicultores, em especial àqueles que há décadas se dedicam a sua produção. Apesar de alta produtividade e qualidade, os preços pagos ao produtor na atual safra despencaram e 1,5 milhão de toneladas estiveram à espera de medidas governamentais que não chegaram para cobrir o elevado custo de produção, de R$ 28,00 a R$ 30,00 a saca de 50 quilos.

A falta de políticas para o setor, causa do endividamento dos agricultores e a redução da área plantada no próximo ano agrícola para não perder mais dinheiro, é tema desta entrevista com o deputado federal Érico Ribeiro (PP), representante da Metade Sul gaúcha na Câmara dos Deputados, região na qual 100 municípios, aproximadamente, têm na orizicultura a principal fonte de renda, de trabalho e de emprego. Produtor rural há mais de 45 anos, Ribeiro defende a busca de novos mercados para colocação do arroz brasileiro e alerta para o risco de os agricultores reduzirem o uso de tecnologia devido à falta de recursos.

Diário Popular – Na sua opinião esta é a pior crise do setor?

Érico Ribeiro – Este ano é o de menor preço desde 1992. Nem mesmo em 2000, que foi muito ruim, os preços da comercialização de safra foram tão aviltantes. Sem medo de errar posso afirmar que vivemos uma crise sem precedentes.

DP – O que mudou na safra atual em relação à de 2004?

ER – Quando a safra de 2005 foi plantada os preços favoráveis do arroz estimularam o plantio e a área de cultivo aumentou. Na época, com uma tonelada de arroz se comprava 13 sacos de 50 quilos de fertilizante. Hoje, esta relação é menor do que oito sacos de fertilizante por tonelada de arroz. A descapitalização da atividade orizícola deverá inibir o uso de tecnologia e interferir na área a ser plantada e na produtividade.

DP – Os preços oscilaram muito em relação à safra de 2004?

ER – Os preços pagos aos arrozeiros ficaram em R$ 20,00 (saca de 50 quilos). Na safra anterior os preços situaram-se em R$ 34,00. Assim, os preços médios da safra atual representam apenas 59% dos valores recebidos pelos orizicultores no mesmo período do ano passado. Resultado: dificuldades financeiras e econômicas para o setor como um todo, isto é, prejuízo real.

DP – Quanto caiu a receita com os preços despencando desta forma?

ER – Por hectare plantado, em média, a receita do produtor caiu de R$ 4.080,00 obtida na safra de 2004 para R$ 2.269,00 – ou 44,4%. Assim, a receita é insuficiente para cobrir os custos de produção e, com isso, aumentam as dificuldades para que os produtores rurais saldem seus compromissos.

DP – Com os preços baixos, o consumidor não estará satisfeito?

ER – É uma ilusão pensar assim, pois, com esses preços baixos desorganiza-se completamente o setor produtivo, o que redundará, logo ali, em desemprego, prejuízos ao próprio governo, desestímulo à produção e em importações do produto, como aconteceu na década de 90, quando o Brasil chegou a ser o maior importador mundial de arroz com custos de quase R$ 50,00 por 50 quilos. Como se vê, o consumidor chegou a pagar três vezes o preço de hoje.

DP – Enquanto as exportações não deslancharem quais as medidas para corrigir o preço?

ER – Como o governo federal abandonou o produtor brasileiro a sua própria sorte, hoje a única medida a ser tomada pelos produtores gaúchos é a redução de área e de produção. Com isso, terão mais produtividade e menos custos.

DP – Qual o impacto dos baixos preços?

ER – É muito grande, afeta a economia de dezenas de municípios. Afinal, somos responsáveis por metade da produção nacional de arroz. E na Metade Sul este impacto é dramático para todos, pois raro é o município da nossa região que não é afetado pela crise.

DP – Além dos preços baixos o que mais influiu negativamente?

ER – O orizicultor sofreu, também, com o impacto do custo do plantio da lavoura, que foi elevado. Cito aqui um exemplo: quando a lavoura foi plantada no último trimestre de 2004, o câmbio do real em relação ao dólar estava em torno de R$ 3,00 por um dólar. Isso fez com que o preço dos fertilizantes e demais insumos importados estivesse elevado. Hoje, na hora de vender o arroz, o câmbio registra menos do que R$ 2,40, o que significa achatar o preço ao produtor em mais de 20%. Entretanto, o mais negativo, foi a superoferta. O excedente de produção nacional agrega-se às importações do Mercosul. Este enorme excedente fez com que os preços caíssem.

DP – O que está sendo feito para mudar o atual estado de coisas?

ER – Tenho pautado minha atuação parlamentar nas críticas aos juros altos, na busca de melhores condições para financiamento de custeio e investimento, um câmbio mais equilibrado, bem como o controle maior das importações com preços, prazos e juros subsidiados. Também tenho observado em diversas reuniões com o ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura, e Antônio Palocci, da Fazenda, a necessidade de buscar novos mercados para colocação do arroz brasileiro. Não temos tradição como exportadores, mas sabemos que há mercados a conquistar e nosso produto tem qualidade. Também tenho mostrado aos nossos ministros as diferenças de preço entre os defensivos químicos produzidos no Brasil e os mesmos importados pelos demais países do Mercosul. Por incrível que pareça, hoje, se permite o uso de genéricos para a saúde humana, mas não se pode utilizá-los para os animais e para as plantas brasileiras.

DP – No caso das exportações, quais as dificuldades?

ER – Há mais de 30 anos estamos ausentes dos mercados externos e é muito difícil abrir novos mercados. Embora nosso produto seja de melhor qualidade, os compradores internacionais não o conhecem. Outra grande dificuldade está nos custos portuários brasileiros que chegam a ser de duas a três vezes os custos de nossos competidores. O mercado internacional de arroz é altamente subsidiado, pois todos os grandes consumidores são também grandes produtores. Quando exportam, no caso de China, Índia, Vietnã, Tailândia e outros, o fazem a qualquer preço, às custas de tesouros desses países. As autoridades brasileiras não entendem que, no caso de produtos agrícolas, em determinadas situações, é preciso subsidiar, sim. Como o caso atual do arroz.

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