Mais verde do que nunca
50 anos da Revolução
Verde do Arroz: vitória contra a fome comemorada em todo o mundo
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Se o arroz é vida, na década de 1960, quando o Instituto Internacional de Pesquisas do Arroz (Irri) foi criado, a vida na Ásia, que concentra 90% da produção e do consumo do cereal, estava sob forte ameaça. Restrições e limitações de produtividade e qualidade e altos custos vinham estabelecendo um teto muito baixo de produção global de arroz. A pobreza extrema atingia produtores e consumidores. A população aumentava e a demanda por alimentos crescia muito mais do que o potencial produtivo do grão que é o pilar da Ásia. A fome também afetava a América Latina, a África e parte da Europa, que recém saía da Segunda Guerra Mundial.
Foi quando surgiu o “arroz milagroso”, um grão longo fino chamado IR8 que provocou uma verdadeira revolução verde na produção global, deu forma às variedades modernas e serviu de base genética da expansão da cultura em todo o mundo. E impediu que a fome dizimasse populações mundo afora. O IR8 foi a primeira variedade de alto rendimento lançada pelo Irri, em 28 de novembro de 1966. No final do ano passado, agricultores, cientistas, parceiros de pesquisa e financiamento e membros da comunidade diplomática se reuniram na sede do Irri em Los Baños, nas Filipinas, para celebrar o 50º aniversário da estreia mundial da variedade. O Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat), na Colômbia, também realizou evento para marcar a data e debater o futuro das pesquisas.
Peter Jennings, líder da equipe que criou IR8 no início dos anos 1960, lembrou que quando o programa de desenvolvimento de variedades começou nenhuma linha de pesquisa buscava características de baixo porte nas plantas, mas apenas maior produtividade e resistência a pragas e doenças. O IR8 é uma variedade de arroz semianão, e ninguém sabia da existência de uma fonte para esse traço genético. “Foi quase por acaso que começamos a observar uma variedade anã, com alta produtividade, resultante do cruzamento número 8. Com folhas eretas, permitia melhor ação dos defensivos, e por seu porte respondia com maior produtividade à fertilização. Isso nos fez desenvolver o conhecimento de um controle genético para determinar uma planta de menor porte mais produtiva e de ciclo mais curto. Uma boa arquitetura, capaz de sustentar o volume de grãos sem acamar, tornou o IR8 especial. Foi um avanço de 400 anos nas lavouras somente substituindo as variedades tradicionais por outra”, entusiasma-se.
Em 1966 os cientistas apontaram uma produtividade média em campo experimental de 9,6 toneladas de arroz da nova variedade, enquanto a média das variedades tradicionais nas Filipinas pouco passava de 1 tonelada. Campos experimentais foram distribuídos por outros países da Ásia com resultados similares, o que consolidou o lançamento da cultivar que revolucionou a produção arrozeira no mundo.
QUESTÃO BÁSICA
No final de 1962 o pesquisador Peter Jennings e sua equipe fizeram 38 cruzamentos com o material disponível no centro de pesquisas. Alguns desses cruzamentos envolveram três variedades de arroz anão de Taiwan, China: Dee-geo-woo-gen (DGWG), Taichung Native 1 e I-geo-tze – e Peta, uma variedade alta, vigorosa e resistente a pragas originária da Indonésia. O oitavo cruzamento entre os 38 foi entre Peta e DGWG e deu origem ao IR8.