Manejo da secagem escalonada de arroz para acelerar o fluxo de recebimento de grãos durante a safra

 Manejo da secagem escalonada de arroz para acelerar o fluxo de recebimento de grãos durante a safra

Ainda que todos os cuidados na etapa de produção tenham sido tomados, se boas práticas de pós-colheita não forem seguidas, há possibilidades de perdas significativas na qualidade do arroz, na agilidade operacional e na rentabilidade da safra. Esse conceito serve tanto para o produtor que tem unidade armazenadora em sua propriedade rural como para armazenistas, cooperativas e indústrias que recebem grãos sujos e úmidos diretamente das lavouras.

Como forma de acelerar o fluxo de recebimento de grãos, tem sido cada vez mais comum a adoção do manejo de secagem escalonada. Nesse manejo, o arroz é secado até cerca de 15-16% de umidade, o que faz com que os metabolismos dos grãos e dos microrganismos associados sejam drasticamente reduzidos se comparados aos dos grãos mais úmidos, colhidos nas faixas de umidade tecnicamente recomendadas pelo bom manejo agronômico de produção. Fungos do grupo dos hidrofílicos, dos termotolerantes e dos tolerantes ao frio são controlados ao secar o arroz até 15-16% de umidade ¹.

Por se tratar de faixa de umidade onde a água está mais disponível e retida fisicamente em capilares maiores na cariopse do arroz, até 15-16%, a secagem é relativamente rápida, sendo o processo mais lento dessa faixa de umidade para menos.

Após a secagem parcial, os grãos são armazenados em silos ou armazéns graneleiros por períodos que variam de alguns dias até geralmente dois a três meses, quando, após a colheita, há certa folga operacional. Nesse estágio, a temperatura deve ser mantida baixa e, se possível, por sistema controlado ou artificial. Para a maior parte das cultivares, há preservação de ocorrência de amarelecimento e melhor rendimento de inteiros se grãos com 15-16% de umidade forem mantidos nesse período em temperaturas ao redor de 15°C ². A prática mostra ganhos de tempo na capacidade de recepção da unidade de até 30% ou mais.

Após acalmar o fluxo de recebimento de arroz na unidade armazenadora, passado o período de safra, o arroz mantido parcialmente seco deve retornar aos secadores para complementação da secagem, até atingir 12-13% de umidade, dependendo da umidade-alvo desejada pela indústria. Nesse grau de umidade, inclusive fungos tolerantes a ambientes mais secos – como algumas espécies dos gêneros aspergillus spp. e eurotium spp. – são controlados ¹.

É importante manejar de forma a evitar choque térmico nos grãos que porventura sejam retirados do armazenamento a 15ºC e retornem ao secador para complementação de secagem. Deve-se evitar diferenças de temperatura entre ar e massa de grãos superiores a 9°C, principalmente ao se conduzir o arrefecimento até 15°C (com resfriadores artificiais) para grãos parcialmente secos na primeira parte do manejo de secagem escalonada.

Durante o período de armazenamento do arroz parcialmente seco e posteriormente do arroz seco até 12-13% de umidade, é imprescindível manter monitoramento de qualidade da massa de grãos através de termometria e/ou sensores de dióxido de carbono, visando corrigir eventuais problemas rapidamente. Nesse sentido, sensores de dióxido de carbono apresentam vantagens comparados à termometria por apresentarem picos de CO2 de três a cinco semanas antes que picos de temperatura sejam detectados ³.

Há muitas propriedades rurais, unidades armazenadoras e agroindústrias que tradicionalmente manejavam arroz, mas que, atualmente, também operam com grãos de soja, trigo e/ou milho. Importante destacar que para soja o período de escalonamento entre a primeira secagem (parcial) e a segunda secagem (complementar) deve ser de poucos dias, porque a soja é um grão oleaginoso, portanto, rico em lipídios (entre 18,5 e 24,5% para a maioria das cultivares) e mais propenso às reações de rancificação e oxidação no armazenamento comparada ao arroz 4. Para milho, deve haver cuidado especial para não ocorrerem choques térmicos ou danos mecânicos, enquanto para trigo controles de temperatura devem ser observados para preservar as proteínas do glúten.

 

Referências:
¹ Fleurat-Lessard, Integrated management of the risks of stored grain spoilage by seedborne fungi and contamination by storage mould mycotoxins – An update, Journal of Stored Products Research, 2017.
² Shad e Atungulu, Post-harvest kernel discoloration and fungi activity in long-grain hybrid, pureline and medium-grain rice cultivars as influenced by storage environment and antifungal treatment, Journal of Stored Products Research, 2019.
³ Maier, Monitoring CO2 in stored grain, World-Grain, 2016.
4 Lindemann, Lang, Dittgen, Rombaldi, Elias e Vanier, Effects of Preharvest Desiccation Using Glufosinate-Ammonium on Quality Attributes of Freshly Harvested and Long-Term Stored Soybeans, ACS Agricultural Science & Technology, 2021.

Nathan Levien Vanier
Eng. Agrônomo, Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Professor na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas – Labgrãos/PPGCTA/CMPCTA.
E-mail: nathanvanier@hotmail.com

Maurício de Oliveira
Eng. Agrônomo, Doutor em Ciência e Tecnologia Agroindustrial, Professor na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas – Labgrãos/PPGCTA/CMPCTA.
E-mail: mauricio@labgraos.com.br

Moacir Cardoso Elias
Eng. Agrônomo, Doutor em Agronomia, Professor na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas – Labgrãos/PPGCTA/CMPCTA.
E-mail: eliasmc@uol.com.br

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