Marcha à ré

 Marcha à ré

Argentina reduziu
em 30% a lavoura
de arroz em 20 anos
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 Depois de cultivar 290 mil hectares de arroz em 1998, a Argentina formou menos de 200 mil hectares de lavouras na temporada 2017/18. Hugo Müller, engenheiro agrônomo, rizicultor e presidente da Fundação Pro Arroz, explica que há cinco províncias que desenvolvem a cultura: Corrientes (com 82 mil hectares), Entre Ríos (65 mil hectares), Santa Fé (40 mil hectares) e cerca de 13 mil hectares entre Chaco e Formosa.

As variedades são desenvolvidas pela fundação em parceria com o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta) – destacam-se as cultivares Gurí, Puitá e Cambá – e cobrem mais de 70% da área semeada, com participação importante também no Brasil, no Uruguai e no Paraguai. O país está entre os principais exportadores do mundo.

Apesar disso, a produção de arroz na Argentina está em retrocesso se for comparada a alguns anos anteriores. O país já beirou 300 mil hectares plantados, mas agora planta perto de dois terços disso, e já produziu 1,7 milhão de toneladas, agora caminha para 1,2 milhão. Em 2000, a província de Entre Ríos tinha 620 arrozeiros, em 2010 eram 347 e em 2018 o número de produtores ativos não chega a 200.

Em 17 anos, mais de 400 produtores, ou perto de 70%, abandonaram a atividade. “Os grandes produtores, que conseguem ganhar pela produção em escala, permanecem, ainda que com dificuldades. Mas o pequeno arrozeiro vai se descapitalizando até chegar a um nível que não consegue mais se manter e abandona a atividade”, reconhece Müller. Segundo ele, essa é uma tendência que também se registra em maior ou menor proporção nas outras províncias.

As causas estão associadas ao aumento dos custos internos, com o hectare ao redor de US$ 1,3 mil quando historicamente esteve ao redor de US$ 800. E esta condição impõe a perda de competitividade. Hugo Müller lembra ainda que antigamente se utilizava trens para escoar o arroz aos portos, mas atualmente só há caminhões.

Uma solução seria usar barcos pelas hidrovias internas, mas encontra-se prejudicada uma vez que, por falta de calado, as embarcações só conseguem carregar a metade da capacidade no Porto de Concepción del Uruguay e precisam completar a carga nos terminais do Rio Paraná, o que eleva muito os custos. “Há também os custos de mão de obra, que é alto, energia elétrica e combustíveis, que estão entre os que mais subiram nos últimos anos”, acrescenta.

O dirigente entende que o surgimento do Paraguai como um grande competidor no Mercosul, com rápida e forte expansão na lavoura arrozeira em função dos custos menores e leis menos rigorosas, também prejudicou a presença da Argentina em mercados estratégicos, como o brasileiro. “Estamos mais longe dos grandes mercados do Brasil, temos um custo maior para produzir e para transportar até lá. Isso também impacta no conjunto das exportações e no preço que podemos competir e vai refletir em área, no nível de tecnologia aplicada, no rendimento, na produção e no número de produtores”, resume.

FIQUE DE OLHO

Hugo Müller, presidente da Fundação Pro Arroz, da Argentina, explica que como produtor de arroz, com 1,2 a 1,3 milhão de toneladas, a Argentina não chega a figurar entre os países de grande relevância mundial, num contingente de 700 milhões de toneladas. “Mas como exportadores cumprimos um papel importante, com 600 a 700 mil toneladas em um mercado de 42 milhões de toneladas”, explica. Os principais destinos do arroz argentino são o Iraque, a Colômbia, o Brasil, o Irã e a América Central.

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