Mato Grosso puxa o freio

Preços insatisfatórios devem levar agricultores mato-grossenses a não investir na cultura do arroz na safra 2011/12
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O arroz é a cultura que nos últimos anos vem decrescendo a área plantada no Centro-oeste. A previsão é de que na próxima safra ocorra uma nova diminuição do espaço destinado ao cereal no Mato Grosso. É o que mostra do 1º Prognóstico para a Safra 2011/12, divulgado em outubro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As projeções apontam para uma redução de 27% na área plantada, totalizando 168 mil hectares cultivados contra 205 mil hectares na safra anterior. Com isso a produção deverá atingir 542,9 mil toneladas. Em 2010/11, de acordo com o IBGE, foram 654,7 mil toneladas. A previsão, portanto, é de uma redução de 17%.

Os números do IBGE, no entanto, apresentam diferença em relação aos apurados no 1º Levantamento de Intenção de Plantio para a safra 2011/12, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), também divulgado em outubro. Segundo a Conab, a redução da área plantada deverá ser de 7% a 8%, ou seja, entre 235 mil hectares e 245 mil hectares (segundo a Conab, foram 256 mil hectares em 2010/11), e a produção será de 11% a 12% menor em relação às 795 mil toneladas colhidas na safra anterior.

A diferença na apuração dos números das safras 2010/11 e 2011/12 é explicada pelas diferentes metodologias adotadas pela Conab e o IBGE no levantamento dos dados.

Para o engenheiro agrônomo da AgroNorte Pesquisas e Sementes, Mairson Santana, a redução estimada pelo IBGE poderá ser ainda maior. “No MT o arroz concorre em termos de área com a soja e com o milho, que são culturas mais rentáveis. Com isso, o cultivo do cereal fica limitado às áreas marginais. Em Sinop, por exemplo, uma saca de arroz com 56% de inteiros está sendo comercializada por em torno de R$ 26,00 e R$ 26,50, enquanto a saca da soja está em R$ 37,00”, compara.

Conforme Santana, faltam mecanismos de suporte aos preços, uma vez que a Conab entende que a cultura orizícola incentiva o desmatamento, o que não é verdade. “Desde 2006, o estado registra declínio nesta cultura. O preço pouco satisfatório, além da baixa oferta de áreas para cultivo, deve levar agricultores mato-grossenses a não investir no arroz na próxima safra”, prevê.

De acordo com o analista do mercado de arroz da consultoria Safras & Mercados, Eduardo Aquiles, essa redução de área cultivada poderá levar a um aumento de preços localizado. “No entanto, não podemos esquecer que existem outros fatores que têm muita influência no mercado, tal como o valor pago no mercado internacional, o montante de oferta disponível mundialmente, o efeito câmbio e a produção no Mercosul”, aponta.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Arroz do Mato Grosso (Sindarroz-MT), Ivo Fernandes Mendonça, também projeta redução em área e produção no estado, mas é cauteloso em relação a números e percentuais. “É muito cedo para avaliar o cenário da cultura. O arroz não é a principal atividade agrícola do MT, temos soja, milho e algodão, que são culturas tradicionalmente mais rentáveis. No caso do arroz, produzimos para atender a demanda de consumo estadual”, pondera.

No Centro-oeste o arroz pode ser plantado na primeira safra, em outubro e novembro, ou na segunda safra, nos meses de janeiro e fevereiro. 

FIQUE DE OLHO

Mesmo com a redução das lavouras de arroz em 27%, a expectativa é de que a queda na produção seja de apenas 17%, conforme o diretor da AgroNorte Pesquisa e Sementes, Angelo Maronezi. Ele atribui a estimativa de queda de produção abaixo da redução de área plantada principalmente às tecnologias empregadas na lavoura. “As tecnologias para desenvolvimento de sementes e plantio evoluíram bastante. No Mato Grosso, por exemplo, temos o arroz Cambará, que este ano chega a 1 milhão de sacas de sementes vendidas e que domina 80% do mercado de sequeiro. Esta cultivar tem uma produção fantástica, justamente porque foi desenvolvida para as condições da região. Imagina então um produto bom com as técnicas modernas de plantio. O resultado é esse mesmo esperado pelo IBGE”, explica.

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