Mercado
O mercado do arroz apresentou acentuada volati-lidade no ano de 2003, com surpreendente escalada de preços em plena safra, em todas as regiões produtoras do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul. Inúmeras variáveis são responsáveis por este desempenho, entre elas os preços do cereal em casca na entressafra, com acentuadas altas refletindo a sobrevalorização do dólar. Uma inadequada administração dos estoques públicos no Rio Grande do Sul, ainda em 2002, onde as 524 mil toneladas armazenadas foram ofer-tadas em um prazo relativamente curto, contribuiu para a valorização do produto e refletiu no mercado interno. Os estoques governamentais ficaram praticamente zerados, pressionando a formação de preço para a safra 2002/2003. O estoque de passagem ficou em 972 mil toneladas (menos de 10% do consumo nacional).
Clima Vilão
Por questões climáticas, o Rio Grande do Sul apresentou uma quebra de produtividade superior a 700 mil toneladas sobre a previsão inicial, alterando a relação de mercado em 2003 e projetando a necessidade de importação de terceiros países e impactando os preços. O quadro de produção abaixo do previsto no Brasil, na Argentina e no Uruguai, também prejudicados pelo clima, ajustou oferta e demanda também no Mercosul. Os excedentes exportáveis dos vizinhos países não são suficientes, este ano, para abastecer o mercado brasileiro.
Faltou dinheiro
No Rio Grande do Sul, historicamente, há um aumento de até três vezes da oferta sobre a demanda, que corresponde a 500 mil toneladas mensais, no estado e para o restante do Brasil. Esta situação deprime os preços na safra, entre março e abril, determinando reflexos durante todo o ano e na cadeia produtiva. A pressão da oferta também resulta da descapitalização do setor nos últimos 10 anos. Em 2002, a utilização de mecanismos de sustentação de preços deu suporte a preços firmes durante o ano. Em 2003, a falta de recursos governamentais para apoiar a comerciali-zação determinou a necessidade de uma reordenação no setor produtivo, que escalonou as vendas.
Novo vetor
As indústrias brasileiras negociaram, ainda em 2002, importações de arroz norte-americano em casca, criando um novo vetor de preços com paridade no mercado internacional. A ala econômica do Governo Federal, com base nestes dados e preocupada com a possível falta do produto para atender à demanda nacional pelo arroz – que vem reduzindo bastante – e objetivando diminuição de preços ao mercado consumidor, reduziu a Tarifa Externa Comum (TEC) do arroz para 4%, permitindo a importação de 500 mil toneladas do produto (100 mil com base beneficiada), entre 1º de outubro e 31 de dezembro de 2003.
Preços firmes
Vários componentes contribuirão para os preços firmes na entressafra, mas muita coisa pode acontecer para atrapalhar. Veja o que ajudará a pender a balança:
Para ajudar
• Sobra nos estoques públicos com a redução da TEC
• Necessidade de importações expressivas de terceiros mercados
• Comportamento do consumo brasileiro
• Programa Fome Zero
• Redução na produção brasileira e do Mercosul
• Aumento das commodities no mercado internacional
• Preços no mercado mundial com paridade da saca acima de 10 dólares
• Permanente redução dos estoques mundiais
• Safra dos Estados Unidos menor que a expectativa
Para atrapalhar
• Riscos de importações excessivas, gerando excedente na próxima safra
• Política comercial agressiva dos EUA
• Estoque de passagem americano
• Mudança de hábitos do consumidor (com preços do quilo do arroz acima de US$ 0,70/kg) inibindo demanda e gerando inflação
• Redução da TEC, facilitando as importações
• Aumento indiscriminado de área no Brasil e no Mercosul, gerando grandes excedentes
O maior dos acertos
A mudança no perfil de comercialização adotada pelos produtores gaúchos contribuiu para a nova realidade de mercado. A busca da qualidade de grãos, somada à retenção do produto na safra e utilização de mecanismos alternativos, também foi fundamental. Todas as estratégias e esforços conjugados consolidaram, organizaram e promoveram a integração da cadeia produtiva com grande parcela de responsabilidade para o sucesso do setor.
De cocheira
Segundo o consultor Adriano Vendeth de Carvalho, da agência Solo Brazil Mercados Agrícolas, a venda dos estoques que ainda estão com os produtores neste início de plantio evitaria a formação excessiva de estoques, especialmente na Região Sul, ocasionando menores reajustes nos supermercados e estimulando assim a tão necessária demanda no varejo. Por outro lado, a Conab dispõe de um estoque público totalmente inexpressivo para complementar o abastecimento das regiões com uma menor capacidade produtiva. O avanço menos expressivo das cotações nas últimas semanas em grande parte é reflexo da fraca demanda no mercado varejista, o qual de um modo geral vem sofrendo as conseqüências de um poder aquisitivo muito baixo da maior parte da população brasileira.