Mercado aquecido, mas para poucos

 Mercado aquecido, mas para poucos

Arroz vive bom momento de preços

Quem tem arroz e soja fatura com a alta dos preços.

Considerados os dois principais produtos da agricultura de Cachoeira do Sul, o arroz e a soja estão bem valorizados no mercado, mas este cenário positivo não pode ser aproveitado por todos os produtores. Isso ocorre porque grande parte não tem mais produto para vender e aproveitar a alta de preços. Desta forma, vale aquele velho ditado de que o sol nasce para todos, mas a sombra é para poucos.

A venda de arroz para o exterior disparou neste ano, alavancando a valorização do produto no mercado interno, onde nesta semana a saca é negociada a R$ 60,00 em Cachoeira do Sul. Desde janeiro, o preço do arroz registra um aumento de 25% em Cachoeira. O cenário é diferente de outros anos, quando o excesso de oferta logo após a colheita segura o preço do cereal, e o mercado aquece ao longo do segundo semestre, quando ocorre a procura pelo produto para reabastecer estoques.

Apesar do arroz estar com cotação recorde, isso não significa que todos os produtores estão satisfeitos, pois cada lavoura tem o seu custo de produção e isso é decisivo para apontar se a cultura proporcionou lucro nesta safra. O coordenador regional do Irga, agrônomo Pedro Hamann, destaca que a alta do dólar favorece a exportação do arroz, reduzindo a importação do cereal, o que torna o produto mais valorizado no mercado brasileiro.

No mês passado a exportação chegou a 316.437 toneladas, superando com folga junho de 2019, quando foram 26.973 toneladas. Foi um recorde para um único mês, apontam a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz) e o Sindicato da Indústria do Arroz do Rio Grande do Sul (Sindarroz-RS). No primeiro semestre a exportação chegou a 952.966 toneladas, um crescimento de 40% em relação ao mesmo período do ano passado.

CONSUMO MAIOR

Além disso, Hamann observa que a pandemia do coronavírus elevou o consumo do cereal no país, pois a população passou a ficar mais tempo em casa por conta das regras de isolamento. Ele acrescenta ainda que, mesmo com a safra apresentando boa produtividade, a colheita foi enxuta por causa da redução da área, evitando um excesso de oferta de arroz no mercado. Em Cachoeira, a safra deste ano chegou a 191 mil toneladas, mas o Irga não possui uma estimativa de quanto deste arroz ainda está na mão dos produtores.

Quebra da soja força a comercialização do arroz 

Com lavoura de arroz no Botucaraí, um produtor rural de Cachoeira colheu neste ano 30 mil sacos de arroz, mas nesta semana está com os silos praticamente vazios, restando ainda cerca de 1 mil sacos para entregar para a indústria. Ele observa que todos os anos usa a renda da soja para pagar o custeio das lavouras e segura todo o arroz para negociar em outubro, quando o mercado aquece.

No entanto, com a quebra na safra de soja provocada pela estiagem, desta vez ele precisou antecipar a venda do cereal para quitar o custeio. Mesmo acreditando que em outubro o arroz estará mais valorizado, ele observa que não teve alternativa, pois precisa honrar os compromissos com fornecedores de insumos para a lavoura.

“PAGAR AS CONTAS”

Ele acredita que são poucos os produtores que ainda possuem arroz em casa, aguardando uma maior valorização. “Quem planta apenas arroz e possui um lastro financeiro para aguardar, deve estar com o produto em casa. Mas grande parte não consegue segurar, pois precisa pagar as contas” observa o agricultor, que prefere não ser identificado. Ele já começa agora a pensar no preparo antecipado do solo para a próxima safra.

Soja falhou em ano de preço recorde 

Caso a lavoura não tivesse sido castigada pela seca, os produtores de soja que conseguem segurar o produto e não vender logo após a colheita estariam faturando em Cachoeira do Sul, onde a saca de 60 quilos era cotada ontem a R$ 107,00 na Cotribá. No entanto, a quebra de 57,3% encolheu a colheita para 2,24 milhões de sacos em Cachoeira, onde praticamente toda a produção já foi comercializada. Assim, além de não poder lucrar hoje com esta valorização da soja, o agricultor está apreensivo, pois o cenário indica que os insumos para a nova safra serão mais caros.

Técnico agrícola da Cotribá, Eduardo Falcão estima que 60% da safra de soja cachoeirense seja negociada antes mesmo da colheita. Neste ano, boa parte destas transações foram fechadas a R$ 80,00 o saco, com a entrega feita em maio. Há ainda produtores que precisam pagar a conta de custeio na época da colheita e não podem esperar a valorização do produto. A estimativa é de que menos de 5% do colhido neste ano ainda esteja com o produtor.

DONOS DE TERRA

Geralmente, quem consegue aproveitar para vender quando o produto está valorizado são os donos da terra, que recebem um percentual da produção e, como não têm dívida de custeio, podem estocar o produto. A valorização da soja é motivada pelo aumento da procura tanto do mercado interno quanto do externo, para onde é atrativo vender em razão da alta do dólar e com a China atuando forte no mercado. O Brasil exportou 60,349 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano, volume que é recorde e teve alta de 38% se comparado aos primeiros seis meses do ano passado.

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