Mercado calmo, mas sujeito a turbulência
Comercialização do arroz
mantém fluxo e preço estáveis, mas chegada
da safra pode mudar
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O mercado brasileiro de arroz viveu três meses de estabilidade em fluxo de comercialização e preços. Isso apesar de muitas incertezas desde que o governo federal, via Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), resolveu interferir, em agosto/setembro, ofertando cereal dos estoques públicos para bloquear uma escalada de valorização do cereal que poderia resultar em algum impacto ao crescimento da inflação. Com os preços ao produtor se mantendo abaixo do teto estabelecido pela Conab (R$ 33,28) para a saca de 50 quilos em casca (58×10), não houve mais leilões, mas também o próprio mercado se autorregulou para não superar este patamar. Tanto por parte das indústrias quanto dos produtores, o fluxo de negócios foi mantido apenas dentro da necessidade.
Este mercado morno poderia sofrer algumas interferências importantes, capazes de alterar os preços para cima ou para baixo. As primeiras delas seriam novas ofertas da Conab e a preocupação do mercado com as safras que o Rio Grande do Sul e Santa Catarina vão colher, que devem chegar a 9,8 milhões de toneladas em 2013/14. Outra, um aumento das importações. Por outro lado, um avanço dos volumes exportados poderia retirar a pressão do mercado interno e melhorar os preços do cereal.
Para o analista Tiago Sarmento Barata, da Agrotendências Consultoria em Agronegócios, até novembro, a relação ajustada de oferta e demanda vem mantendo o equilíbrio nas cotações. “No Rio Grande do Sul, o acordo entre indústrias, produtores e governo referente ao ICMS ajuda que os preços permaneçam estáveis e controla uma eventual pressão pela previsão de uma safra maior, até porque ela recém está sendo cultivada”.
A política cambial neste início de novembro, com o arroz cotado em seu menor valor em dólar em meses, também deve impulsionar as exportações e reduzir a demanda por arroz de fora. “Há uma tendência natural de maior procura pelo arroz brasileiro, que se torna mais competitivo nestas condições”, cita. Demandas por embarques em outubro também evitaram uma leve tendência de queda registrada naquele mês, especialmente na zona sul e regiões mais próximas do Porto de Rio Grande.
Para Tiago Sarmento Barata, a tendência é de preços estáveis até o final do ano, desde que não haja maiores intervenções do governo federal, ou alguma alteração mais significativa no câmbio, entre outras variáveis. “Pelo atual cenário, a estabilidade deve permanecer até muito próximo da safra, principalmente se for mantido o comportamento dos produtores em realizar a venda da soja, milho e pecuária no primeiro semestre e fracionar a oferta de arroz”, considera. Para Eduardo Aquiles, analista de Safras & Mercado, é natural que os preços caiam próximo da safra, pela tendência de uma oferta maior do cereal. “Importante é observar que, se os preços caírem até próximo de R$ 30,00 por saca, o Brasil tem grande potencial para retomar uma exportação mais significativa no primeiro semestre, o que colaboraria para a recuperação gradual nos preços no mercado interno”, frisa.
QUESTÃO BÁSICA
Durante a reunião da Câmara Setorial Nacional da Cadeia Produtiva do Arroz, na primeira quinzena de novembro, em Brasília, o setor não gostou da tendência conjuntural apontada pela Conab, que projeta preços médios de R$ 29,00 para a saca de 50 quilos de arroz na safra. O estoque de passagem, em 28 de fevereiro de 2014 ,deve alcançar 1,97 milhão de toneladas, o menor em cinco anos, mas, com o aumento produtivo desta safra, o ano comercial 2014/15 deve finalizar, em fevereiro de 2015, com o estoque 3,4% maior, em 2,12 milhões de toneladas. Para chegar a este número, a Conab considerou o estoque público mais o resultado do levantamento de estoques privados, que alcançou 1,07 milhão de toneladas e a safra com maior volume.