MERCADO DA SOJA E ARROZ: REVERSÃO DE QUADRO SE CONFIRMA

No fim de outubro de 2023, em nosso último comentário, escrevemos que havia uma tendência de reversão de quadro entre a soja e o arroz no Rio Grande do Sul no que dizia respeito aos resultados econômicos finais brutos. Na oportunidade, para os referidos cálculos, considerava-se safras relativamente normais neste verão 2023/24 e preços médios da soja em R$ 115,00/saco e, do arroz, em R$ 80,00/saco.

REVERSÃO DO ARROZ
Passados três meses, verificamos que, neste fim de janeiro de 2024 (28/01), ainda bem antes das referidas colheitas gaúchas iniciarem, o preço médio da oleaginosa já estava em R$ 117,46/saco e, o do arroz firme, em R$ 124,91/saco (cf. Emater). Evidentemente, em perspectiva, na medida em que a colheita iniciar, esses dois produtos deverão registrar recuo de preços. Todavia, salvo surpresa, o quadro indica que se confirma uma reversão em favor do arroz, como se cogitava ainda em outubro passado.

Além da recuperação do mercado orizícola, após alguns anos de fortes dificuldades que levaram à redução de área semeada, de produção e de estoques, nota-se uma importante mudança no mercado da soja, prevista, porém, ignorada por grande parte dos produtores e agentes ali operando.

O fato é que os preços da oleaginosa entre 2020 e 2022 estiveram fora da curva. Assim, na medida em que a economia mundial se reestrutura, pós-pandemia e os principais efeitos da guerra Rússia x Ucrânia, em o clima ajudando, a oferta mundial da oleaginosa começaria a puxar para baixo os preços em Chicago.

Neste fim de janeiro/24, o bushel de soja, naquela bolsa, para o primeiro mês cotado, estava em US$ 12,09 (um ano antes estava em US$ 15,23). Já os seus dois derivados atingiram valores há tempos não vistos. O farelo chegou a US$ 349,00/tonelada curta (um ano antes valia US$ 477,10), a mais baixa cotação desde o fim de novembro de 2021. O óleo de soja chegou a 46,53 centavos de dólar por libra-peso (um ano antes valia 60,59), o mais baixo valor em Chicago desde o fim de maio/23).

Outras commodities internacionais igualmente cederam de preço no período, caso do milho e do trigo, por exemplo. Somou para esse comportamento, no caso da soja, as dificuldades econômicas na China e a forte recuperação da produção na América do Sul, graças à retomada da produção argentina (o Brasil, que no início do plantio da presente safra apresentava um potencial de produção ao redor de 169 milhões de toneladas, viu o mesmo recuar para 157 milhões diante de novos problemas climáticos regionais, mesmo que pontuais).

Assim, a produção sul-americana deste ano deverá atingir, se tudo se desenvolver bem até o fim, algo em torno de 222 milhões de toneladas, contra 194 milhões no ano anterior (cf. Usda e Conab). Ao mesmo tempo, aqui no Brasil, o Rio Grande do Sul poderá voltar a se aproximar de uma produção final de soja em torno de 20 milhões de toneladas.

Como o câmbio se manteve, até o momento, dentro da paridade considerada normal (entre R$ 4,80 e R$ 5,00) e os prêmios permanecem com indicativo de valores negativos diante da boa produção nacional e da maior concorrência externa, os preços continuaram cedendo nestes últimos três meses. Entre o fim de outubro passado e o fim deste mês de janeiro/24, o saco de soja, ao produtor gaúcho, em termos médios, recuou de R$ 136,79 para R$ 117,46/saco, ou seja, um tombo de 14,1%. E se compararmos com a média gaúcha de um ano atrás, o recuo é de 30,6%, com o saco de soja perdendo exatos R$ 51,77/saco na média gaúcha.

Enquanto isso, o saco de 50 quilos do arroz subiu de R$ 90,62 para R$ 124,61 no período no mercado gaúcho, ganhando exatos R$ 33,99 ou 37,5%. Em tal contexto, vale ainda alertar que, no caso da soja, em não havendo surpresas negativas na produção e na economia em geral, o valor médio do produto no mercado gaúcho, quando da colheita (março/abril), é capaz de registrar valores abaixo de R$ 100,00, algo que já está ocorrendo em regiões do Centro-Oeste brasileiro.

Argemiro Luís Brum
Professor titular no PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), coordenador da CEEMA/PPGDR/UNIJUÍ).

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