MERCADO DA SOJA: PARA 2021/22, O CENÁRIO MUDOU

O produtor de soja brasileiro, e o gaúcho em particular, deve prestar muita atenção nesta próxima safra de soja que começa a ser semeada. O cenário econômico da atividade mudou em relação à safra passada. Os custos de produção subiram muito e o ganho real com o produto caiu fortemente, apesar de nominalmente os preços se manterem. Pelo lado dos custos, segundo a Fecoagro, os mesmos aumentaram, em média, ao redor de 50%.

Quanto aos preços, Chicago recuou bastante, perdendo 21,8% de seu valor entre maio e outubro do corrente ano. Ao mesmo tempo, o real se desvalorizou mais 4,7% no período, ficando a média de outubro em R$ 5,54, porém, insuficiente para compensar a queda em Chicago. Ora, a manutenção do preço nominal é uma coisa, o valor real da mercadoria é bem outro. Isso porque a inflação brasileira, nestes últimos 12 meses, disparou, com o IGPM atingindo 24,86% (com picos acima de 30%), enquanto o índice oficial está em 10,25% (em ambos, sem considerar outubro/21).

Um ano antes, o IGP-M anual era de 17,94% e o IPCA de 3,14%. Assim, temos uma perda sensível no poder de compra do saco de soja.

Tomando como referência o caso do Rio Grande do Sul, a média gaúcha, no balcão, fechou a última semana de outubro em R$ 162,47/saco.

No ano passado, nesta época, o preço médio da soja no balcão gaúcho era de R$ 156,67/saco. Assim, em termos nominais, houve um aumento anual de apenas 3,7%, ou seja, bem abaixo da inflação oficial (IPCA), que está em 10,25% em 12 meses, e muitíssimo abaixo do aumento dos custos de produção entre a safra passada e o atual plantio. Por sua vez, em termos de preço real a perda já é importante.

Considerando a evolução do IGP-M, o qual leva em conta em seu cálculo os preços das commodities, para manter o mesmo valor de compra do fim de outubro do ano passado, o saco de soja no balcão gaúcho deveria estar valendo hoje R$ 189,49. Ou seja, em termos de preço real da soja, o produtor está perdendo, neste momento, R$ 27,02/saco em comparação a capacidade de compra que o saco de soja possuía um ano atrás. Lembrando que a situação poderia ser pior se não fosse o real se manter desvalorizado acima do normal.

O valor que o mesmo deveria estar no momento, pelos fundamentos econômicos e financeiros, seria algo entre R$ 4,50 e R$ 5,00 por dólar. Portanto, está sendo preciso muito mais gerenciamento comercial nesta nova safra para se evitar estragos maiores na rentabilidade final da nova safra.

Argemiro Luís Brum
Professor titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris (França), coordenador da Central Internacional de Análises de Mercado e de Estudos de Mercado Agropecuário (CEEMA/PPGDR/UNIJUI).

Soja ganha espaço

A intenção de plantio de soja em terras baixas na safra 2021/22 confirma o sucesso do sistema de rotação com arroz e prevê um salto de 9%, para 408.124 hectares sobre os 372.014 efetivamente semeados. Confirmando-se estimativa, a oleaginosa ocupará o equivalente a 42,63% da lavoura arrozeira. O domínio da tecnologia, cultivares mais adaptadas e os benefícios agronômicos e econômicos são as principais causas desse avanço. Com relação à soja em rotação, a média da última temporada foi de 3.150 kg/ha (52,5 sc ha). O Irga não estima o cultivo de milho em terras baixas, mas a expectativa é de que a área com o grão cresça neste ciclo e alcance entre 12 mil e 15 mil hectares nesse ambiente.

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