MERCADO DA SOJA PERMANECE ESTÁVEL
O mercado gaúcho da soja, no início de junho de 2024, confirmou-se em estabilização. Os preços do saco da oleaginosa, após recuarem no início do ano (a média de balcão chegou a R$ 107,00 em alguns momentos), recuperou-se, chegando a bater em R$ 123,00 na média em alguns momentos de maio. Por enquanto, essa foi a melhor janela de comercialização da atual safra, não considerando os produtores que, já em outubro, fizeram vendas futuras em melhores preços.
Já no início de junho (momento em que escrevíamos este comentário), as principais praças gaúchas voltaram a negociar o produto entre R$ 117,00 e R$ 118,00/saco. A recuperação dos preços, como é sabido, deu-se, especialmente, devido a fatos econômicos, geopolíticos e climáticos que pressionaram os elementos formadores do preço nacional.
Na área cambial, depois de muitos meses estável, dentro da paridade de R$ 4,80 e R$ 5,00 por dólar, o real voltou a se desvalorizar para níveis médios, ao redor de R$ 5,20, a partir de abril.
A manutenção dos juros elevados nos EUA, com a redução da Selic no Brasil, associada aos conflitos mais intensos no Oriente Médio e à revisão para pior nas metas do déficit fiscal brasileiro, junto ao “arcabouço fiscal”, estão na origem desse movimento.
Vale lembrar que no fim de maio o governo brasileiro anunciou um rombo fiscal de R$ 1,043 trilhão nos 12 meses encerrados em abril/24.
Auxiliou bastante, igualmente, o fato de as cotações em Chicago alcançarem até US$ 12,48/bushel em alguns momentos de maio, puxadas pelas altas no farelo de soja e no trigo (este cereal chegou a bater em sua mais alta cotação desde julho do ano passado). Isso, após trabalharem, praticamente em todos estes primeiros meses do ano, abaixo de US$ 12,00.
Chicago
Dito isso, no início de junho, as cotações em Chicago voltaram a ceder (US$ 11,84 no fechamento do primeiro mês cotado em 03/06), absorvidas as quebras de safra na América do Sul e, particularmente, no Brasil (espera-se um volume final entre 142 e 147 milhões de toneladas por aqui).
Afinal, verifica-se que, mesmo com a quebra, a atual colheita brasileira ainda será a segunda maior da história.
Ao mesmo tempo, por enquanto, o plantio da nova safra nos EUA avança muito bem, iniciando junho com 78% da área semeada, contra 73% na média histórica.
Assim, os preços da soja se estabilizaram um pouco mais baixos do que o pico até agora ocorrido neste ano.
Vale lembrar que o mercado do clima nos EUA continuará sendo decisivo, provocando oscilações nas cotações em Chicago até outubro, quando da colheita por lá.
Além disso, no RS, as enchentes de maio provocaram uma perda ao redor de 3 milhões de toneladas de soja em relação ao esperado. Por sua vez, as enchentes prejudicaram também os prêmios em Rio Grande, pois o porto ficou algum tempo inviabilizado.
JANELA POSITIVA
Pelo sim ou pelo não, o fato é que uma janela positiva de comercialização passou em abril/maio.
No entanto, nada impede que outra possa surgir no segundo semestre, pois o câmbio no Brasil continuará com um real muito desvalorizado (hoje, a normalidade cambial, segundo estudo divulgado na revista Conjuntura Econômica-FGV, estaria em R$ 4,20 por dólar) e terá dificuldades para retornar abaixo dos R$ 5,00 até o fim do ano, diante da crise fiscal existente.
Soma-se a isso, o fato de que a futura safra estadunidense, esperada em 123 milhões de toneladas, pode sofrer percalços climáticos e o lado financeiro nos EUA ainda irá oscilar bastante até dezembro.
Em contrapartida, as cotações em Chicago recuaram muito nestes últimos 12 meses. O primeiro mês cotado, no início de junho de 2023, registrou US$ 13,29/bushel, chegando a bater em US$ 15,57 no dia 30 daquele mês.
No dia 03/06/24, o bushel se encontrava em US$ 11,84, sendo que seu maior valor nestes quase seis primeiros meses do ano foi US$ 12,74/bushel no primeiro dia útil de 2024. Após essa data, não chegou mais a este valor até a finalização deste artigo.
Portanto, estamos falando de uma redução, em um ano, de quase quatro dólares por bushel entre os dias 30/06/23 e 03/06/24 (ponto à ponto).
Vale também frisar que no último dia deste mês de junho teremos a informação da área real que os sojicultores estadunidenses semearam, o que sempre traz oscilações em Chicago.
Já o câmbio no Brasil, a julgar pelo Banco Central, tem por meta os R$ 5,00, embora em meados de maio tenha oscilado acima dos R$ 5,40.
Porém, como falamos em comentário anterior, o cumprimento da meta fiscal e o respeito ao “arcabouço fiscal” pelo governo federal serão dois elementos centrais nesta estratégia.
Enfim, há espaço para novas altas nos preços da soja no restante do ano, porém, as mesmas podem não ser muito expressivas. Como sempre, toda a atenção em busca da melhor média de preços é o indicado em tal cenário.
Argemiro Luís Brum
Professor da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris/França, coordenador da (CEEMA/PPGDR/UNIJUI).