Mercado estabiliza perto dos R$ 100,00 com atraso na colheita gaúcha

 Mercado estabiliza perto dos R$ 100,00 com atraso na colheita gaúcha

(Por Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados/Planeta Arroz) O mercado brasileiro do arroz abriu esta semana com cotações praticamente estabilizadas no Rio Grande do Sul ao redor de R$ 100,00 como referência. Uma das principais razões é o atraso na colheita, considerando que no atual período a colheita coincidiria com o período de enchentes e enxurradas e excesso de chuvas do plantio, em outubro e novembro. Outra razão foram as chuvas torrenciais de sexta, sábado e desta segunda-feira na Fronteira Oeste e parte da Campanha. As fortes imagens de lavouras acamadas, com plantas deitadas à altura do solo e que escapam da ceifa das colheitadeiras, percorreram o mundo nas redes sociais.

Embora a área colhida tenha alcançado recém 17%, ou 154 mil hectares, por enquanto são consideradas perdas totais em 5,4 mil hectares, ou 0,6%. Ainda não estão computadas as perdas por acamamento esta semana. E há previsão de mais temporais e chuvas em altos volumes até a noite de quinta-feira nas regiões arrozeiras. Segundo o Irga, até a última semana, eram considerados 50% da área semeada, ou seja 450,1 mil hectares em fase de maturação, 29% em etapa reprodutiva e 3,4% ainda no período reprodutivo. As chuvas têm interrompido as operações de colheita ao longo da semana.

CHUVARADA E ACAMAMENTO NA FRONTEIRA OESTE

Foto: Edson Jacociunas

O engenheiro agrônomo Edison Jacociunas, da Ciagro Agropecuária, mostra-se preocupado com a ocorrência do acamamento em áreas de arroz irrigado na fase de maturação na Fronteira Oeste gaúcha, que ocasiona perda de produtividade. “O fenômeno El Niño predispõe as plantas à essa situação, mas observamos que nas três últimas safras os casos de acamamento têm se tornado mais comuns”, destaca.

Segundo ele, sabe-se que a elevada densidade de sementes, cultivares suscetíveis ao acamamento, excesso de adubação nitrogenada, deposição concentrada de fertilizantes nitrogenados e o manejo concentrado de irrigação (taipa alta, distribuição desuniforme de água ), além da ação de patógenos contribuem para esse cenário. “A grande questão é qual o manejo adotar para amenizar estes impactos ou minimizar os riscos”?

O diretor de operações da Itaobi, de Uruguaiana, Sérgio Cardoso, considera que nesta situação de risco reside a questão do uso da alta tecnologia disponível hoje para a orizicultura: “a alta produtividade coloca as lavouras em condições vulneráveis às condições meteorológicas e pragas. O ponto de equilíbrio entre tranquilidade, produtividade e resultados é o que vai pautar as futuras safras. As intempéries climáticas têm sido muito mais intensas nos últimos anos, e essa variável deve ser levada em conta nas decisões para os futuros plantios”, observa.

Foto: Edson Jacociunas

O engenheiro agrônomo Ricardo de Faria Corrêa Celestino Alves, também opinou sobre esses acamamentos que têm ocorrido em todo Cone Sul. Segundo ele, ultimamente o agricultor tem aumentado a adubação nitrogenada e tem se esquecido da relação N/K.

“O Potássio tem a função, entre outras, de dar resistência ao colmo do arroz. Tenho recomendado a adubação de N em cobertura com K na relação 3/2. Ou seja: 100 Kg ureia 45.00.00 + 50Kg KCl 0.00.60 ou ureia cloretada 30.00.20, ou outras doses de acordo com a recomendação, mas sempre respeitando a relação N/K”, adianta.  Além do colmo melhor estruturado pela parede celular com mais lignina, o KCl tem a função da “Bomba de Potássio” na absorção de outros cátions pela raiz. “Folhas com mais lignina também previnem o ataque de patógenos e hemípteros. Também dá resultado aplicação de fungicidas + inseticidas em V7, ou alguns dias depois da aplicação de N +KCl em cobertura”, ensina.

Foto: Gustavo Hernandez/Vetagro

Jacociunas considera adequada esta observação. “Também recomendamos, preservamos a relação N/K EM 3:2 , a pergunta é: usar KCL em cobertura pré-semeadura em sua totalidade, estamos perdendo por lixiviação em anos de El Niño? Temos uma área em projeto piloto com fertilizantes e na análise foliar realizada em estágio final vegetativo não constatamos desequilíbrio em macro nutrientes. É esta uma inquietude que alcança toda a cadeia”, resume.

Nas áreas sobre sua supervisão, o agrônomo Edison Jacociunas usou cobertura de ureia, em um total de 320 kg/ha, e as lavouras são em sistema de rotação com soja, com uso de agricultura de precisão. “Nesta safra só não usamos mais ureia em função da falta de piso. Por isso racionalizamos os volumes aplicados com uso de avião. “Mas, em ano de El Niño não dá pra abusar, pois isso pode colar a lavoura no chão sob algumas condições climáticas adversas”, reconhece.

Material de ciclo precoce também deixou a desejar em boa parte das propriedades, mesmo aquelas que seguiram a cartilha das boas práticas e da eficiência produtiva.

Para ele, a pesquisa ainda precisa evoluir nestes conceitos. “Participei de algumas giras de campo, onde ocorreram manifestações de técnicos recomendando elevar a dose de N, em função de baixa eficiência na assimilação de nutrientes em função de dias nublados. Isso tem que ser melhor discutido e analisado com base nas experiências que estamos vendo em várias lavouras da Fronteira Oeste”, concluiu.

E não se tratam mais de variedades da Embrapa e da Epagri, de ciclos mais longo, que eram comumente mais “acamadoras”. A IRGA 424 RI começou a deitar bastante segundo registro de produtores desde o ano passado. E se trata de variedade que está  em mais de 50% das lavouras gaúchas e de alto potencial produtivo e qualidade de grãos.

De maneira geral, produtores e técnicos esperam respostas dos centros de pesquisas e empresas de consultoria, genética e extensão. O engenheiro agrônomo do Irga em Guaíba, Rodrigo Schoenfeld, entende que atualmente o Rio Grande do Sul dispõe de tecnologia para produzir média superior a 12 mil quilos de arroz por hectare, mas a genética ainda precisa evoluir para melhorar a estrutura de planta para resistir a todo esse peso sob condições climáticas adversas.

A difusão pelas redes sociais dos danos por acamamento em lavouras na Fronteira Oeste foi tamanha, e coincidindo com o pico de preços do arroz no varejo e o anúncio do Governo Federal de que haverá programas voltados a baratear o produto ao consumidor final, que a Federarroz decidiu publicar uma nota oficial tranquilizando o mercado quanto ao abastecimento nacional.

PREÇOS ENTRE ESTÁVEIS E EM QUEDA

Nesta segunda-feira, 18, o Indicador CEPEA/IRGA-RS do arroz em casca (58% de grãos inteiros e pagamento à vista) fechou a R$ 99,38/sc de 50 kg, praticamente estável (-0,2%) em relação ao da última sexta-feira, 15. Em dólar, equivale a US$ 19,77. A pouca alteração no preço vem dos negócios pontuais captados na data. Do lado do produtor há restrição de oferta – vale ressaltar que alguns já reportam perdas em termos de produtividade neste início de colheita. Do lado da demanda, verifica-se um número ligeiramente maior de comercialização entre as praças de destino e de origem, fazendo com que o valor do produto posto na indústria reagisse.

Apesar de melhora na liquidez, preços seguem enfraquecidos

Com presença mais ativa de compradores, especialmente do Sul e do Sudeste, a liquidez no mercado de arroz aumentou, com negócios sendo realizados para o mercado doméstico e também para exportação. Entretanto, com o avanço da colheita da temporada 2023/24 no Rio Grande do Sul (que soma 17% da área semeada, segundo dados do Irga), as cotações permanecem em queda. Entre 8 e 15 de março, o Indicador CEPEA/IRGA-RS caiu 2,18%, fechando a R$ 99,58/saca de 50 kg na sexta-feira, 15 – trata-se da nona semana consecutiva de baixa.

Apesar de os valores seguirem em queda no acumulado semanal, o Indicador CEPEA/IRGA-RS esboçou reação na última sexta-feira, o que não era verificado desde o dia 26 de fevereiro. O número de negociações entre as praças de destino e de origem afastadas aumentou, contribuindo para que o valor do produto posto na indústria reagisse. No geral, apesar de os preços apresentarem recuperação, segundo colaboradores, há dificuldade no acréscimo dos custos de transporte ao valor final.

Em termos de preços regionais, com desvalorizações superiores a 2% em sete dias estão a Zona Sul, Campanha, Fronteira Oeste e Depressão Central, com médias de R$ 102,00/sc de 50 kg, de R$ 97,81/sc, de R$ 97,07/sc e de R$ 97,77/sc no dia 15. Com variações negativas menores estão as Planícies Costeiras Externa (-1,62%) e Interna (0,95%), com valores de R$ 102,90/sc e de R$ 102,27/sc também na última sexta-feira.

Os valores dos demais rendimentos do produto em casca acompanhados pelo Cepea também caíram.

Segundo agentes de mercado, as negociações para exportação foram desestimuladas pelos valores oferecidos abaixo das condições de mercado interno. Entretanto, num comparativo com as cotações dos Estados Unidos, os atuais patamares de preços praticados no Brasil parecem ter certa proximidade e competitividade.

Em dólar, o Indicador CEPEA/IRGA-RS registrou média de US$ 20,09/sc de 50 kg de 8 a 15 de março, apenas 2% acima do valor negociado para o contrato Maio/24 na Bolsa de Chicago (de US$ 19,70/sc de 50 kg) no mesmo período.

IPCA – No varejo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo IBGE, registrou aumento de 0,83% em fevereiro de 2024, contra elevação de 0,42% no primeiro mês deste ano. Especificamente para o arroz, as altas foram de 3,69% em fevereiro e de 30,72% no acumulado dos últimos 12 meses.

OFERTA E DEMANDA BRASILEIRA

Para a temporada 2023/24, a produção brasileira é estimada em 5,17% maior que a anterior, a 10,55 milhões de toneladas, de acordo com a Conab. Somando esse volume aos estoques iniciais, de 1,78 milhão de toneladas, e à importação prevista para o ano, de 1,45 milhão de toneladas, a disponibilidade interna está estimada em 13,78 milhões de toneladas. Para o consumo interno, a Companhia indica estabilidade (10,5 milhões de toneladas), enquanto as exportações (de janeiro/24 a dezembro/24) devem somar 1,5 milhão de toneladas. Com isso, os estoques de passagem em dezembro de 2024 devem ser de 1,78 milhão de toneladas.

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