Mercado interno está alinhado com as variações de preços internacionais

Os preços em um país em que as transações de importação e exportação possam ocorrer livremente sempre tendem a estar alinhados com os parâmetros internacionais. Pela Lei do Preço Único, por exemplo, as diferenças entre os preços ou mesmo a integração de mercados e de preços apresentam aspectos relacionados ao contexto de verticalização da cadeia produtiva, ou custos logísticos e espacial ou mesmo ao fator tempo para ajustamento de preços.

Em termos verticais, avalia-se como ocorre a transmissão dos preços entre diferentes elos da cadeia produtiva, do produto ao atacado e ao varejo. O enfoque espacial tende a estudar a conexão entre mercados e a transmissão de preços entre dois locais de comercialização separados fisicamente. Já o contexto temporal avalia a defasagem e intensidade em que os preços são transmitidos entre os elos da cadeia produtiva ou mesmo entre diferentes locais e/ou países.

Na cadeia produtiva do arroz, algumas referências de preços são importantes. No mercado interno, os preços de transações do arroz em casca são representados pelo Indicador de preços Cepea/Irga-RS, com preços médios para o Rio Grande do Sul, principal estado produtor. Para o produto beneficiado, há dados divulgados pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Em nível de varejo, podem ser consideradas as variações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como parte do índice IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo.

Para o contexto internacional, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) divulga alguns índices, como um índice geral de preços de exportação e índices que envolvem tipos diferentes de arroz, como o índica, em que se enquadra o arroz produzido pelo Brasil. Também podem ser considerados os preços médios de importações e exportações realizados pelo Brasil, divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Objetiva-se, neste texto, apresentar uma comparação da evolução desses preços, padronizando em forma de índices com valor 100 em jan/20 e, depois, em termos de taxa de crescimento, conforme figura 1. Em nível mundial, os índices da FAO apresentaram crescimentos expressivos em 2020, reduções em 2021 e, então, passaram a ter acréscimos consecutivos, alcançando seu maior nível no início do ano de 2024, quando, então, voltaram a ter reajustes negativos. Entre jan/20 e jul/24, o índice de preço médio do arroz calculado pela FAO acumulou acréscimo de 28,9%. No caso do arroz índica, por sua vez, a variação positiva chegou a 40,4%.

Figura 1 – Evolução, em índices, dos preços do arroz ao produtor (Indicador Cepea/Irga-RS), do arroz beneficiado no RS, no varejo (IPCA), das importações (FOB originem), dos índices da FAO e da taxa do dólar sobre o real, de jan/2020 a jul/24
Fonte: Cepea-Esalq/USP; Irga; IBGE; Secex; FAO.

Para o Brasil, além dos aumentos de preços internacionais, deve-se considerar a desvalorização do real em relação ao dólar, que eleva as paridades de exportações e importação. Em janeiro de 2020, a taxa de câmbio comercial de venda foi negociada, em média, a R$ 4,15/US$, enquanto em julho de 2024, a R$ 5,55/US$, com uma desvalorização média de 27,0%. Assim, o aumento médio dos preços internacionais do arroz, acrescido da desvalorização cambial, implica em um aumento da paridade de importação de 78,2%.

E os preços domésticos caminharam nessa tendência, seja ao produtor ou ao atacado ou mesmo em nível de varejo. Entretanto, os baixos níveis de estoques favoreceram reações mais expressivas no mercado interno.

Conforme a figura 1, os dados apontam maior variabilidade dos preços ao produtor e ao atacado. Para o varejo, as cotações oscilam de forma mais suave. De jan/20 a jul/24, as cotações do arroz em casca subiram 132,0% em termos nominais. Os preços do produto beneficiado tiveram reações de 149,4% e, ao varejo, de 111,0%. Os preços ao atacado tiveram descolamento maior em maio/2024, período em que o governo buscou realizar intervenções sobre a cadeia produtiva, mas sem sucesso. Vale destacar, porém, o expressivo alinhamento dos preços de importação, já em R$, com as variações de mercado interno, acumulando também 132,0% de alta no período analisado.

Ao se avaliar a matriz de correlação de Pearson, conforme dados da tabela 1, observa-se que os preços do arroz em casca, ao produtor, têm maior correlação com os preços de importação, dentre as séries analisadas. Os preços do arroz beneficiado também se mostram mais correlacionados com os preços do arroz em casca e com o da importação. Até mesmo as variações no varejo se mostram altamente correlacionadas com os valores da importação, além das variações de preços de elos a montante da cadeia produtiva. Os dados também apontam que os preços de exportação do arroz apresentam menores correlações com as demais variáveis do que os preços de importação.

No geral, os dados apontam que as variações de preços do arroz no Brasil estão altamente alinhadas com as variações de mercado internacional. Esse é um fato a ser destacado, pois ocorre mesmo diante do baixo percentual de exportação e importação realizadas pelo Brasil ou dos baixos volumes de transações de arroz no mercado internacional como um todo. Dessa forma, é importante um ambiente sem intervenção governamental em que o setor privado se ajusta às condições mercadológicas da cadeia produtiva.

Lucilio Rogerio Aparecido Alves
Professor da Esalq/USP
Pesquisador responsável pelas Equipes de Grãos, Fibras e Amidos do Cepea
lralves@usp.br

Tabela 1 – Matriz de correlação dos preços do arroz ao produtor (Indicador CEPEA/IRGA-RS), do arroz beneficiado no RS, no varejo (IPCA), das importações (FOB originem), dos índices da FAO e da taxa do dólar sobre o Real, de jan/2020 a jul/24

Fonte: Cepea-Esalq/USP; Irga; IBGE, Secex; FAO

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